Marlene Damico Lamarco
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Essa pessoa pequena tem esse poder grandioso de transformação. No momento em que essa vida vem ao mundo, uma revolução se deflagra em nós com arroubos de paixão e de novas possibilidades. Ficamos pasmos diante de tão puro amor.
Os netos chegam num momento em que já estamos marcados pelos percalços da caminhada e já estamos olhando para o futuro sabendo que o desembarque se aproxima. Aí eles chegam e vêm com uma promessa de bem aventurança silenciosa e ao mesmo tempo estrondosa. Serena, porque traz paz, e estrondosa porque rompe as comportas das paredes resistentes que criamos para nos proteger.
Em paredes fechadas, eles abrem uma fenda onde nunca se imaginou que se pudesse.
E a gente se rende, porque não tem mais volta… depomos as armas e rompemos a couraça do medo, porque não tem mais jeito de resistir à luz maviosa que entra e clareia os cantos mais empoeirados e esquecidos da alma.
Como pode a pessoa pequena criar em tão pouco tempo tantas paixões e tão pura luz?
Olhamos meio assustados para esse pequenino ser e percebemos que ele também tem o poder de criar profundos silêncios na nossa barulhenta e acelerada rotina. A partir da metade da vida, o tempo, pacientemente já vinha nos ensinando a entender a grandeza dos silêncios, mas com os netos a gente se gradua, passa horas olhando cada expressão e rezando para agradecer.
Eles chegam fazendo tudo diferente e a gente vai começando a aprender de novo, vai mudando a postura, vai rolando pelo chão e relaxando os sentidos: não tem volta! É irresistível!
Quando nos detemos ainda mais, percebemos a presença de uma outra pessoa pequena a nos fazer companhia. É a criança que fomos e que ainda mora dentro de nós, que acorda e quer brincar de novo. Ela sabe o caminho das histórias, do faz de conta, do esconde esconde e a magia que habita o olhar de quem vê pela primeira vez e fica maravilhado. É o assombro pela beleza da vida, acontecendo o tempo todo e cada vez mais!
Por isso os netos são tão importantes para os avós: eles resgatam a criança esquecida dentro deles e compartilham com ela das belezas delicadas do mundo, da ternura, do doce brincar, das cambalhotas e das gargalhadas.
Por isso os avós são tão importantes para os netos, porque eles têm tempo para viver tudo sem pressa, porque eles entendem da alquimia das horas bem vividas, do que é relevante e do que não vale nada. Eles conhecem tudo isso não de ouvir falar, eles conhecem por ter vivido, por ter errado e ter aprendido na própria pele o verdadeiro valor das coisas.
Não tem volta, essa paixão iluminou o dia, a noite, o sótão e criou um novo tempo para amar sem medo e sem reservas.
As crianças se lembram muito bem de como é Deus e trazem essa memória refletida na sua presença amorosa. Brincar com elas é como brincar com o menino Jesus…
Os velhos já se esqueceram um pouco de como é Deus, por isso há uma grande magia nesse encontro, os netos despertam a criança interior dos avós e elas se reconhecem.
Aí começa um novo ciclo. Passado e presente se fundem e os netos percebem que naquele olhar existe uma criança que sabe amar sem fronteiras, sem medos, sem tamanho e para sempre!
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