Marlene Damico Lamarco
50emais
Sim, possibilidade de amar, de viver o precioso “agora”, com disponibilidade interior para ser feliz. É a criança que temos dentro de nós, que conhece o” olhar novo” necessário para enxergar o que é fundamental na vida. Vamos pedir este olhar emprestado, a inocência perdida e o pasmo necessário diante das inúmeras possibilidades que a vida nos oferece, a cada momento.
Lembra quando você levantava de manhã cedinho e olhava para o seu agora com uma alegria genuína e gratuita? Lembra da liberdade que sentia para gostar ou não gostar das coisas e das pessoas? Um encontro, muitas vezes banal, tinha um gosto de festa porque sua alma estava prenha de alegria e o seu coração se abria sem medo de experimentar a vida. Tudo fluía sem controles e julgamentos e você entendia de felicidade.
Lembra do Papai Noel? A deliciosa ansiedade na véspera do Natal, o presente sonhado que mil vezes voltava na memória… e a magia do velhinho carinhoso que a gente amava e que amava a gente. Que emoção! Quantos momentos de paixão e encantamento que a gente sentia e nem se preocupava em explicar. A gente queria mesmo era viver, muito, na hora, sem guardar nadinha pra amanhã.
E quando você conheceu o mar? Ele era muito maior que você, ele não cabia nos seus olhos, por mais que você se esforçasse em enxergá-lo, o mar tinha um tamanho difícil de entender. Você não media as coisas pelo “metro” dos outros, você tinha a sua própria medida e entendia de liberdade.
Ah! e a véspera da viagem, a malinha pronta, os olhinhos acesos, lembra? Você não ia pra Lua, você só ia pra Santos! Mas a sua alma vibrava emoções escancaradas de prazer e se revestia de uma felicidade possível e merecida.
Você não tinha tantas expectativas e se entregava sem escudos, o peito aberto às possibilidades. Todas elas, sem preconceitos, sem idéias pré-concebidas, livre, permitindo que as pessoas se apresentassem e os acontecimentos fluíssem, que a vida acontecesse.
Aí, o tempo foi passando e você foi crescendo e se esquecendo de si, esquecendo da magia, do encantamento. Foi assim que aconteceu com você, comigo, com os amigos. Ficamos indisponíveis ao novo, às surpresas, ao fator desconhecido, que sempre atua e nos surpreende, mudando o jogo.
Como no primeiro baile de uma jovem que saiu de casa para encontrar o príncipe encantado, expectando “tudo” e vivendo quase nada. Se o príncipe, por milagre, aparecesse, ainda assim seria necessário que a escolhesse. E se a escolhesse, ainda seria necessário que gostasse da escolha e quisesse continuar nela. A felicidade dependia sempre do príncipe, não lhe pertencia.
Se essa jovem saísse com “aquele olhar novo” que a sua criança conhecia e dominava, sairia das expectativas vãs e curtiria a noite, o vestido novo, o prazer da música, da dança e voltaria para casa preenchida de momentos felizes. Poderia até mesmo encontrar o “príncipe”, mas ele não seria a única coisa importante da noite, muito menos o detentor de sua felicidade. Quando não estamos inteiros não conseguimos criar amor, só criamos reféns.
Crescemos e acreditamos que a nossa criança ficou no nosso passado, mas, não é verdade, nossa criança está dentro de nós e é ela quem reage com exageros quando somos tocados em nossas feridas ainda não cicatrizadas. É ela que se relaciona com a parte emocional dos nossos relacionamentos, por isso, às vezes reagimos de uma forma que não entendemos racionalmente. É que a nossa criança sofre quando nos envolvemos em situações que ficaram mal resolvidas no passado. Também é ela quem entende de felicidade e tem a chave do divino em você. “Deixai vir a mim as criancinhas…”
Conhecemos o caminho e já vivemos esse encantamento, o assombro, a paixão, pequenos gestos, pedaços de vida que marcaram nossa existência para sempre.
Temos uma testemunha desses momentos inesquecíveis e ela mora dentro de nós: A criança que fomos ainda vive e tem poderes para resgatar a nossa essência e transformar a nossa vida. Ela entende de plenitude e tem a liberdade necessária para esperar menos e amar mais.
Ela conhece o território e tem o mapa do tesouro perdido nas buscas e desencantos da jornada, pedaços de alma que fomos deixando distraidamente sem saber que eram essenciais. Desejos que abandonamos, sonhos que não sonhamos, sementes de vida que arrancamos por medo ou inércia.
Mas ainda há tempo, toda magia perdida pode ser resgatada se dermos ouvidos a esse ser tão conhecido e amado, que se expressa no silêncio das horas em que você cala as vozes da crítica, da expectativa, dos julgamentos vãos, do ego exacerbado.
Permita que essa sua luz se derrame sobre sua personalidade, criando um novo ser, capaz de sentir e executar o seu divino propósito na terra.
A sua criança interior sabe de sonhos e de esperança, ela é fonte inesgotável de amor e de vida verdadeira. Converse com ela, bem baixinho, no silêncio das horas, sempre que você estiver muito triste ou muito alegre. Ela vai responder.
Leia também de Marlene Damico Lamarco:
Com disponibilidade interior para ser feliz
Toda paixão de uma avó pelos netos
Você é parte da sinfonia viva da primavera
A solidão, tão necessária, está sendo evitada como se fosse doença
O tempo passou a ser a minha maior riqueza
Quero olhar de perto o que é essencial, me abrir para que um novo ciclo possa nascer