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A primeira coisa que chama a atenção nesta história é a forma encontrada por Manuel Vieira da Costa de manter a ligação com a esposa, falecida em 2021, assumindo o trabalho dela, confeccionadora de panos de prato.
Sensível e apaixonado pela companheira da vida inteira, ele aprendeu a cortar as peças de pano e a costurar. E hoje faz disso um ganha-pão e um sustentáculo emocional.
“Quando ela faleceu, eu ficava só chorando nos cantos, pensando no que iria fazer da minha vida. Aí Deus deu um toque no meu coração, para eu acordar. Quando ouvi, foi uma voz dizendo assim: ‘Vá fazer os paninhos de prato que a sua esposa fazia’. Eu não sabia costurar. Hoje faço tudo,” conta ele, satisfeito da vida.
Pai de 10 filhos, com 23 netos e 14 bisnetos, Manuel se entregou de corpo e alma à sua nova profissão. E chega a produzir entre 20 e 25 panos de prato por dia. No Instagram, tem mais de sete mil seguidores.
Leia a história completa escrita por Diego Barbosa para o Diário do Nordeste:
“Não sou eu que costuro, é ela”, diz Manuel Vieira da Costa ao olhar para os panos de prato que acabou de finalizar. Tem 92 anos de idade. Aprendeu sozinho o ofício quando a esposa faleceu, em 2021, vítima da Covid-19. Desde a data, encontra abrigo nas linhas e agulhas para perpetuar um legado de amor e não deixar a pessoa querida ir embora.
Encontra Joana Costa em cada paninho. A produção é diária. Basta o sol despontar na casa de número 26, no Passaré, para senhor Néo, como é chamado, sentar em frente à máquina de costura e iniciar a lida. Entre um sorriso e uma lágrima – vez ou outra, chora de saudade – desliza no tecido as mãos tingidas pelo tempo e encontra força para continuar.
O resultado são centenas e centenas de panos de prato, distribuídos tanto em acervo para venda, mantido no próprio lar, quanto na cozinha das pessoas que já adquiriram os produtos. Gente que há muito ultrapassou o contexto familiar. A partir de um perfil criado nas redes sociais, os paninhos estão até em outros países e alcançam cada vez mais públicos.
“A minha esposa fazia esses panos de prato por prazer e pra vender somente para a família. Eu olhava e dizia: ‘Isso pra mim não dá, não’. E ela: ‘Dá, meu filho’. Quando ela faleceu, eu ficava só chorando nos cantos, pensando no que iria fazer da minha vida. Aí Deus deu um toque no meu coração para eu acordar. Quando ouvi, foi uma voz dizendo assim: ‘Vá fazer os paninhos de prato que a sua esposa fazia’. Eu não sabia costurar. Hoje faço tudo”.
“Não sou eu que costuro, é ela”, diz Manuel Vieira da Costa ao olhar para os panos de prato que acabou de finalizar. Tem 92 anos de idade. Aprendeu sozinho o ofício quando a esposa faleceu, em 2021, vítima da Covid-19. Desde a data, encontra abrigo nas linhas e agulhas para perpetuar um legado de amor e não deixar a pessoa querida ir embora.
“A minha esposa fazia esses panos de prato por prazer e pra vender somente para a família. Eu olhava e dizia: ‘Isso pra mim não dá, não’. E ela: ‘Dá, meu filho’. Quando ela faleceu, eu ficava só chorando nos cantos, pensando no que iria fazer da minha vida. Aí Deus deu um toque no meu coração para eu acordar. Quando ouvi, foi uma voz dizendo assim: ‘Vá fazer os paninhos de prato que a sua esposa fazia’. Eu não sabia costurar. Hoje faço tudo”.
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Vocação para viver
As produções são comercializadas por meio de três opções de kits. Um pacote com sete unidades de panos grandes sai a R$65, ao passo que o kit com cinco unidades nesse mesmo tamanho custa R$45 – valor igual para seis unidades do kit com tamanho menor. E há várias coleções: de churrasco, de frutas, com estampa de galinha e desenhos de bichinhos.
O frete é por conta do cliente. “Mandamos para qualquer lugar do Brasil”, destaca Nizia Costa, uma das filhas de Senhor Néo, responsável pelas vendas via WhatsApp e por comprar as matérias-primas para o trabalho. “Na semana passada mandamos paninhos para Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília, Goiás, Bahia e São Paulo”.
Ela conta que a vocação para o artesanato percorre toda a árvore genealógica dos Costa, e alcançou o pai no momento mais delicado da vida. No correr dos67 anos de casados, Senhor Néo e dona Joana frutificaram em 10 filhos, 23 netos e 14 bisnetos. Quando a pessoa favorita foi embora, a outra parte precisou encontrar um novo sentido para prosseguir.
“Costuro de 20 a 25 panos de prato por dia. São 15 minutos para fazer um. É peia, viu? Não é brinquedo, não. Aos sábados, a gente leva para uma feirinha aqui do bairro, no condomínio do meu filho. Vendo muito bem”, festeja, sorriso aberto. “Uso o valor para pagar as despesas e, claro, lembrar da minha esposa. Fomos o maior amor do mundo”.
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Primos distantes, ambos se conheceram ainda jovens. Joana Barreto Moreira da Costa ficou órfã muito cedo, de pai e de mãe. A fatalidade a fez morar com vários tios, estreitando os laços com Manuel. Em vídeo gravado para a filha, o eterno apaixonado diz que pediu a prima em casamento porque, além de gostar dela, tinha dó de vê-la sempre trocando de casa.
“Eu nem imaginava namorar com ela. Um dia cheguei para ela e disse: ‘Olha, Joaninha, eu tenho tanta pena do seu sofrimento… Agora, a minha coragem é de perguntar se você quer casar comigo’. Ela disse que aceitava, e foi como o amor começou”, ri, recordando aquele 1954. “Só que hoje estou só, e minha esposa está com Deus. Mas eu tô satisfeito porque sei que ela está pertinho de mim e me ajuda. Os panos de prato não são meus, são dela”.
Sem tempo para parar
Na conversa com nossa equipe, senhor Néo se balança na cadeira, acaricia os porta-retratos da sala, levanta para buscar água, pede para trazerem suco. Mora com uma das filhas, e se diz feliz. Tem saúde de sobra e gosta de trabalhar.
Apesar de ter se aposentado cedo – decorrência de problemas na audição – nunca parou. Um aparelho auxilia na escuta, e o faz saber quando os filhos chegam em casa para lotar os cômodos. A prole vem junto. É só festa. Cozinheiro de mão cheia, talvez ele ainda se arrisque no fogão, preparando a galinha caipira de que tanto gosta. Quer ver todo mundo bem.
É quando olha para os panos de prato e recorda da ternura. Ter dona Joana ao lado para testemunhar a beleza seria uma glória. Choraminga um pouco e segue. É preciso. “Quando tô dormindo e me lembro dos panos, me acordo pra fazer. O sonho é continuar com esse gás, essa coragem. Por mais que eu tenha perdido minhas ‘oiça’, sigo”, vibra.
Não sem antes olhar para a fotografia de dona Joana e expressar o sentimento. Fala baixinho: “Amor, Deus te guarde. Reserve um lugarzinho para seu marido um dia, quando eu chegar lá”. Beija o papel. Há mais tecidos para costurar.
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