
Foi só em meados de março, depois de passar um dia inteiro ouvindo o noticiário, que me dei conta da gravidade do novo coronavírus no Brasil. Moro sozinha no Rio de Janeiro e, com 69 anos, me enquadro no grupo de risco. Imediatamente, comecei a pensar numa maneira de vir me juntar aos meus irmãos, em Minas.
Não queria enfrentar a quarentena trancada, solitariamente, em um apartamento. Tampouco tencionava viajar de ônibus ou avião, temerosa de contrair o vírus. Consegui carona com uma amiga até metade do caminho. O restante do percurso – Santa Luzia, minha cidade, bem perto de Belo Horizonte – fiz no carro de um amigo que trabalha para a uber.
Foi mais do que alívio o que senti ao chegar ao velho casarão dos meus pais. Somos seis pessoas com mais de 55 anos vivendo em seus amplos cômodos. O meu irmão mais velho, 74 anos, é o único que divide o quarto com alguém. No caso, a cuidadora, pois ele necessita de assistência, já que sofreu um Acidente Vascular Cerebral(AVC), em setembro do ano passado,e ficou com o lado esquerdo totalmente paralisado.
Além do meu irmão, com sua luta diária para recuperar os movimentos, uma das irmãs(58) também está às voltas com problemas de saúde, conseqüência de uma trombose na perna direita, diagnosticada há 10 anos. Todo esforço na casa é feito para que os dois tenham total apoio e sejam preservados do contato com outras pessoas, porque não é só a idade que deixa ambos vulneráveis, mas a condição física deles.



Durante duas semanas, trabalhamos arduamente, com a ajuda indispensável da cuidadora. Conseguimos lavar, passar, manter limpa a casa de 15 cômodos, regar todas as plantas na área do terreiro, cuidar das 23 galinhas do galinheiro, atender todos os telefonemas de televendas, socorrer os três ou quatro desvalidos que passam diariamente pedindo algo para comer, ajudar a fazer os exercícios de fisioterapia do meu irmão, providenciar as compras, alimentar os dois cachorrinhos da casa…
No 15º dia, sucumbimos à quantidade infinita de afazeres: chamamos de volta a cozinheira a quem havíamos concedido férias duas semanas antes. Eu sou a única pessoa que sai de casa para fazer o que é necessário lá fora. Às 10h, ponho minha máscara, confeccionada por uma das irmãs, e vou buscar a cozinheira na casa dela. Também de máscara, ela entra no carro e rumamos para a garagem da minha casa.
Lá, nós duas deixamos o calçado, antes de alcançar a área interna, onde ela troca de roupa e se submete ao ritual de prevenção contra o danado do vírus – água, sabonete, álcool gel, toalha de papel, o par de havaianas surradas. A roupa com a qual sai para trabalhar é pendurada com cuidado no varal para que tome sol e fique em condições de ser usada novamente, cinco horas mais tarde, na volta para casa, de máscara, no meu carro.



Tentamos de toda forma driblar o vírus. Na minha cidade, Com 220 mil habitantes, há mais de 500 casos suspeitos do novo coronavírus. Praticamente todos os bairros têm pelo menos um caso sendo pesquisado. Mesmo assim, quase ninguém usa máscara. E o que mais me intriga: boa parcela dos moradores nem acredita na existência desse vírus chinês, responsável por atormentar tanto a humanidade.
Dentro de casa, os dias são tranqüilos. A cuidadora e meu irmão se relacionam muito bem. Volta e meia estão dando boas gargalhadas. Minha irmã passa parte do tempo no quarto, repousando a perna. Lê, vê televisão(filmes e séries), atualiza a correspondência no whatsapp, conversa com os amigos pelo celular e circula pela casa. Todos acompanhamos de perto o noticiário. E a vida, lentamente, vai passando. Temos o privilégio de morar numa espécie de sítio, bem no centro da cidade. O que faz com que estejamos sempre muito perto da natureza.
Pessoalmente, vivo num ansioso compasso de espera. Não vejo a hora de darmos uma rasteira nesse vírus atrevido. No fundo, tenho muito medo, porque acho difícil seguir à risca todas as medidas profiláticas necessárias para manter o coronavírus longe. Fico achando que, uma hora, o vírus vai burlar a nossa vigilância e, na primeira brecha, entrará sorrateiramente no nosso refúgio. Eu tenho muito medo.
E você? Escreva para o Diário de Maya – contato@50emais.com.br – contando como está vivendo a sua quarentena.
Máscaras encarecem mais de 300%



Foi só o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta orientar a população a usar máscaras, para que elas sumissem de vez do mercado. E quando encontradas, os preços estão exorbitantes. O ministro recomendou que as pessoas façam máscaras em casa. Há uma infinidade de tipos e formatos, tudo, praticamente, pode ser transformado em uma máscara.
Veja alguns exemplos:



Todos os dias, recebo vários modelos de máscara de proteção contra o novo coronavírus não convencionais. Escolhi seis das mais engenhosas para mostrar o quão imaginativas as pessoas podem ser. Veja:















Veja também: Máscaras de todos os tipos e formatos para proteger do coronavírus
9 Comentários
Maya,
Que delicadeza de relato e que bom que o Coronavírus trouxe um pouco de sua vida pessoal para nós! Tenho visto tanta coisa bonita, a maioria na forma escrita e vou divulgando atraves de emails para meus amigos.
https://vidasimples.co/colunistas/a-mensagem-enviada-por-um-virus/?fbclid=IwAR3O7BrSskYX1rmlOiTdAWhBiT708ia1HAvcoyskq_IkQGhPd9cBHsiUEbI
https://leonardoboff.wordpress.com/2020/03/28/dicas-para-enfrentar-a-reclusao-e-a-quarentenafrei-betto-l-boff/?fbclid=IwAR0BqFwXAbi7_O_jq5xDmq89KxM8FF2iuyqaUb5mLYSOjQpbXmWNhWeX9Bo
https://leonardoboff.wordpress.com/2020/03/23/o-coronavirus-a-auto-defesa-da-propria-terra/?fbclid=IwAR1Z9Em5rf7_fNDuvwSQD_z9lPHY88RUCisb_PwRec1cdbmaZlHJcZuZmMw
http://mondolivro.com.br/pandemia-e-espiritualidade-por-frei-betto/
Mas voce me lembrou essa musica de Vander Lee que adoro!
Meu abraço carinhoso,
Genoveva
https://www.youtube.com/watch?v=8JbYSYdUR9w&list=RD8JbYSYdUR9w&index=1
Meu Jardim
Vander Lee
Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim
Realmente esta música de Vander Lee – gosto muito dele- descreve bem o momento também para mim. Obrigada por trazer esta letra à minha memória
Com esta descrição desse “quase sítio “ dá até pra andar por aí respirando o ar puro. Infelizmente, como Luzia, estou em um apartamento . Mas não reclamo e, como ela, vou tratando das minhas plantas – tem de maracujá, gengibre, cúrcuma, a rosas e boninas. Não vivo o tédio, pois tem tanta coisa a fazer, que o dia fica curto. Entre o que fazer, ler o 50eMais. Obrigada pelo blog
Gostei bastante do seu relato.
Vivo só (estou em Portugal) minha mae e meu filho vivem em Santos (SP); mamãe vive há mais de um ano num lar para pessoas idosas, mas um lugar que acho que é bem agradável (um casarão com quartos, jardim, gatos; cuidadoras atenciosas e um fisioterapeuta para as manter ativas – mamãe não quer fazer nenhum exercício) 🙁
O que me chamou atenção no seu texto foi por justamente hoje ter pensado nisto.
Se isso (virus, pandemia) ocorre-se (suposição apenas, ainda bem) eu voltaria para minha terra pra ficar perto da minha pequena família.
Obrigada pelo depoimento.
E sigamos com esperança de dias bem melhores
Abraços
Querida Maya ,amei sua casa, o quintal, as galinhas, as arvores! Tudo isso me remete à minha infância, tão descuidada e tranquila. Sempre leio suas reportagens, mensagens e textos. Desejo que vc, junto aos seus, saiam fortes e serenos dessa maldade que nos assola. Obrigada pelas suas mensagens, Um beijo!
Adorei!!!!!
Algumas correções no meu comentário:
Primeira estrela que velo “dá-me” tudo o que desejo!
Maya – conserta lá, por gentileza!!
Beijo. Luzia
Maya, minha amiga – iemã do Coração!
Li a sua Odisséia e fiquei a pensar nos tnto e tantos quintais que criei no meu oequeno apartamento.
Rego e podo as plantas, tomo sol nas janelas, vejo as estrelas se achegarem ao anoitecer – e sempre digo: primeira estrela que vejo dai-me tudo o que desejo – frase declamada por tantas vezes na minha infância e adolescência. Recupero-a agora, nessa estrada desafiadora. Vamos caminhando. Um passo de cada vez. Prudência e sabedoria. Solidariedade com todos do planeta. A hora é adequada para as andarilhagens internas e aprendizado.
Esperanço que Carlinhos e São se recuperem logo e possam andar pelos quintais, por enquanto somente a Alma vagueia pelos pés de mangas e canaviais.Daqui um cadinho – todos nós vamos pular as pinguelas e cantar livres sobre os muros.
Quanta saudade!! Tanta felicidade nos nossos quintais, minha amada amiga.
Que Deus cuide de nós e os Anjos nos emprestem as suas asas para os devidos voos e pousos.
Um garnde beijo e um abraço demorado.
Olá Maya,
Muito feliz sua decisão de ficar perto dos seus irmãos, aproveite cada amanhecer no afago da família, curta as lembranças da infância e juventude junto à eles.
O caos também pode ser revitalizante, é só uma questão de interpretação.
Aguarde , para poder tomar “aquele sorvete no calçadão , no Rio. Adorei seu texto.
Abraço.