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“Netos são como herança que você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus.”
É assim que a escritora Rachel de Queiróz começa uma de suas bonitas crônicas, falando de seu amor desmedido pelos filhos de seus filhos. E do bem que os pequenos lhe faziam.
Neste texto da Veja, a geriatra Maisa Kairalla comenta um estudo feito na Alemanha com 500 idosos entre 70 e 103 anos, que têm netos.
Os avós que conviveram com os netos espontaneamente, ou seja, sem ter a obrigação de cuidar das crianças, apresentaram uma diminuição de 37% no risco de mortalidade.
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Você sabia que a convivência entre diferentes gerações, a denominada intergeracionalidade, pode impactar em nosso tempo de vida?
Pesquisadores de Berlim, na Alemanha, acompanharam a rotina de 500 pessoas entre 70 e 103 anos de idade, durante 19 anos. Com base neste “estudo do envelhecimento”, como foi denominado, foi possível constatar que avós que conviveram com netos tiveram uma redução de 37% no risco de mortalidade, prolongando suas vidas em até dez anos.
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No entanto, o estudo considerou apenas avós que não eram os principais responsáveis pelos netos. Ou seja, idosos que cultivaram uma relação saudável com seus netos, com atividades lúdicas, prazerosas, alcançaram a longevidade.
Hipótese da vovó
Os mesmos cientistas também referiram que esses resultados reforçam a chamada teoria evolutiva da “hipótese da vovó”, que surgiu nos anos 1990. Ela sustenta que, evolutivamente, um idoso continuaria vivendo anos após a sua fase fértil (quando não se reproduziria mais) justamente para ajudar a cuidar dos netos.
Isso quer dizer que, para o idoso, conviver com a família e ter certas responsabilidades dentro dela é uma forma de colher benefícios físicos e psicológicos. É simplesmente algo como “a vida não para, então por que devo parar.
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Além disso, ao cuidar das crianças, os vovôs ajudariam os pais a seguirem se reproduzindo, pois teriam mais tempo livre.
Claro, conviver com os netos diariamente pode ser uma dádiva. Mas e o que acontece com aqueles avós que se tornam praticamente os responsáveis pela criação dos netos?
Em muitos desses casos, em lugar de a convivência ser saudável, pode acabar se tornando nociva para o idoso, devido ao peso de uma parentalidade que não os pertence.
Educação, cuidados básicos (banho, alimentação etc.)… Demandas básicas como essa precisam ser alinhadas entre os avós e seus filhos, os pais das crianças, para que haja limites e condições positivas para todos.
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Agora, e aqueles que não tiveram filhos ou netos? O estudo alemão também considerou essa hipótese e constatou que muitos dos idosos se propunham a ajudar e apoiar amigos e vizinhos, criando um outro tipo de comunidade. Nesse caso, a sobrevida média foi de sete anos.
A socialização e o ato de ajudar os outros – sejam netos ou não – parece fazer bem à saúde dos mais velhos.