Você que está lendo estas linhas sabe que eu sonho com a vaidade de ser cronista. Se não sabia, saiba agora. São tantos os admirados e verdadeiros cronistas do nosso passado – e do nosso presente – que o simples fato de assinar uma coluna semanal chamada “Crônica” já faz de mim um privilegiado. Pelo menos aos meus próprios olhos.
Os que conhecem ou provaram dos meus dotes culinários sabem que eu sou um bom “seguidor” de receitas. Talvez seja esse meu maior talento na cozinha: eu sigo a receita e, na maioria das vezes, dá certo. Peixes, molhos, carnes, massas, até meu ceviche sai direito, quem comeu sabe do que estou falando.
Tenho uma filha que é “chef” e cozinha pratos do arco da velha. Entre outras coisas ela – que ironia – é mentora de um dos meus grandes fracassos ao fogão: meu omelete é abaixo da crítica, até dá prá comer, mas fica a zilômetros de distância dos deliciosos que ela faz! Já tentei seguir a receita da filha. Sem sucesso. Ela mora longe de mim e prometeu que faremos juntos um omelete, via chamada de vídeo. Me aguarde! Aliás, dúvida atroz: omelete é masculino ou feminino?
E para escrever crônica, tem receita?
Me acostumei a ler crônicas sobre a vida, sobre instantes marcantes, sobre a desrealidade, aquilo que tem pouco a ver com a chamada “vida como ela é” mas que, na verdade, é a vida como ela é.
Aqui, neste generoso espaço, tropeço com frequência com nosso dia-a-dia de pandemia, com as idiotices da nossa política e me vejo escrevendo sobre temas que eu mesmo considero alheios ao bom e velho cronistês. A realidade anda avassaladora, é cada vez mais difícil deixá-la de lado. Esta semana mesmo fui impactado por um post do twitter que dizia simplesmente o seguinte: “Há dois tipos de pessoas no mundo. Evite ambas”. É até engraçado, mas mostra como tá difícil!
Desconheço receita de crônica, desconfio que inexiste. Sigo alguns parâmetros totalmente pessoais. Evito começar frase com a palavra ‘não’, uma mania que carrego desde sempre. Tenho a falsa impressão de que serei mais positivo se evitar usar palavras e ditos negativos. Será que isso é verdade?
Sei lá!
Recentemente tive que lidar com a necessidade de explicar a meu filho de 20 anos que falar ‘não’ é difícil, mas necessário. Coisa mais complicada, dizer ‘não’. Eu tive um padrinho, homem de grande influência na minha vida, e ele dizia: “não, a gente pode falar até no altar”. Era uma maneira criativa de afirmar, em outras palavras, “diga sempre sim” porque a negativa pode ser dada a qualquer momento.
Por que será que falar ‘não’ é tão difícíl? Durante muito tempo achei que isso era um problema só meu, até apareceu nas terapias que fiz ao longo da vida. Descobri, entretanto, que existe um verdadeiro movimento para ensinar pessoas a usar ‘não’. Encontrei algumas frases e conselhos lapidares:
“Sem a capacidade de dizer ‘não’ o seu ‘sim’ nada significará”
“Aprenda a dizer ‘não’ quando quiser dizer ‘não’ e fique em paz com isso”
“Dizer ‘sim’ para tudo é falsa simpatia”
“Aprenda a dizer ‘não’ sem se explicar”
“A palavra ‘não’ nem sempre é uma palavra negativa. Dizê-la pode livrar sua vida de muita coisa ruim”.
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