A Vogue brasileira resolveu ouvir alguns dos principais nomes da moda no país, depois da polêmica envolvendo a supermodelo Helena Christensen e a ex-editora da Vogue britânica Alexandra Shulmann. Alexandra foi dura ao comentar a foto de Helena, 50 anos, usando o bustiê acima: “Desculpe, Helena, mas você é velha demais para usar este tipo de roupa”, disse ela. E completou: “Algo que você vestiu aos 30 nunca ficará igual 20 anos depois. Roupas não mentem” Os comentários da ex-editora foram publicados no finalzinho de abril em um jornal da Grã-Bretanha e estão rendendo até hoje. A inglesa recebeu uma chuva de críticas, inclusive de figuras que são referência no Brasil quando o assunto é elegância, como Luiza Brunet, Lilian Pace e Linda Evangelista.
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Na semana passada, Gigi Hadid armou uma festa para celebraro seu aniversário de 24 anos reunindo tops e celebridades, entre elas a supermodelo dos anos 90 Helena Christensen, que surgiu a bordo de uma calça jeans (dress code do evento), bustiê de renda preta e sandálias flats, no melhor estilo sexy despretensioso.
Uma semana depois, o fato de Helena usar uma peça de lingerie sensual aos 50 anos foi motivo de crítica da ex-editora da Vogue britânica, Alexandra Schulmann, que publicou um texto na sua coluna do jornal “Daily Mail” com o título: “Desculpe, Helena, mas você é velha demais para usar este tipo de roupa”.
+No texto, a jornalista disse: “nós podemos gostar de pensar que os 70 são os novos 40; e os 50, os novos 30, mas nossas roupas sabem a verdadeira história. Não importa o quão atrevidos sejam seus seios, como suas pernas são longas, nossas roupas simplesmente não parecem as mesmas quando envelhecemos porque são sobre a pessoa que as usa e não sobre os itens em si. É sobre a pessoa – não apenas o corpo – que nos tornamos”, escreveu a jornalista. “Algo que você vestiu aos 30 nunca ficará igual 20 anos depois. Roupas não mentem”, completou.
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O texto gerou certa polêmica, com direito a um recado da própria Helena, via Instagram. A ex-top postou uma foto em que aparece usando o mesmo bustiê, com indireta para Schulmann. “Vamos continuar nos elevando e nos dando suporte, todas vocês mulheres bonitas, inteligentes, divertidas, sexies, trabalhadoras e estimulantes por aí. #OpsElaVestiuBustiêDenovo”, escreveu.
Amigas de Helena também saíram em sua defesa nos comentários da postagem. “Ela deveria ter vergonha dela mesma. Você é uma deusa”, disse Linda Evangelista. “Eu acabei de ler o artigo. B*itch, please.. Você está em chamas!”, comentou Karen Elson, capa da Vogue Brasil de fevereiro. Em meio a polêmica, Vogue pediu a opinião de algumas experts no assunto, como a nossa editora de moda, Vivian Sotocórno, para entender essa ideia de que roupa tem idade. Veja o que elas falaram:
Lilian Pacce, jornalista de moda
“Sem entrar na questão se é chic ou cafona, acho que a Helena está perfeitamente bem e não vejo nenhum drama que desabone a produção que ela usou na festa. Essa questão de idade está totalmente superada, as pessoas estão envelhecendo com espíritos mais jovens e, portanto, buscando manter o corpo e a mente da mesma forma. Acho um preconceito gigantesco da Alexandra Shulman não apenas com a questão da idade, mas toda a sua colocação. É um pensamento híper antigo, totalmente desatualizado e desconectado da realidade de hoje, onde a moda e o mundo estão buscando mais aceitação e diversidade de corpos, de idades, raças e gêneros. Achei o artigo uma bobagem e considero esse tipo de mentalidade, de fato, muito ultrapassado. Imagine uma mulher de 50 anos que, além de tudo é linda, não poder usar um bustiê ou tomara-que-caia? E mesmo que ela fosse mais velha e não tivesse esse corpo de modelo – que a Helena ainda tem hoje –, não haveria o menor problema. As mulheres têm que se libertar desse tipo de preconceito e usar o que se sentem bem de verdade”.
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Vivian Sotocórno, editora de moda da Vogue
“O mundo mudou e também a moda. Cada vez mais celebramos a individualidade e a personalidade – e hoje não faz mais sentido algum decretarmos que algo ‘pode’ ou ‘não pode’ ser usado por alguém, seja por conta da idade ou biótipo. Acredito que usar ou não determinada peça tem muito mais a vez com estilo e personalidade do que com idade. Eu mesma, aos 30 anos, tenho peças que não entram em meu guarda-roupa pois não combinam com meu estilo – e que mulheres de 70 poderiam perfeitamente usar. Cada um tem a liberdade de dar o próprio padecer. Triste é ver que vivemos numa era onde todos acham que podem emitir opiniões sobre absolutamente tudo e todos, torço por um mundo com mais compaixão e empatia.”
Ucha Meirelles, consultora de estilo
“Existiram regras, hoje em dia caiu total. Tudo depende de como a pessoa se sente e quem ela é. Se você gosta e se sente bem com uma roupa, qual o problema de usar? O que pode é o que te faz bem, que combina com o teu estilo e com você. Se vestir um pouco mais sexy, ou romântica ou maximalista é ser quem você é, sua personalidade, afinal, a roupa nada mais é do que comunicar ao outro. Eu tenho 41 anos e me visto como eu quero. Às vezes, uso uma roupa inteira bordada para sair para almoçar, o que é meio over, mas eu quero usar e uso. A tiara, que teoricamente é uma coisa mais de menininha, se tornou uma marca registrada minha. Eu gosto e pronto. Você tem que ser fiel a quem você é. Mas, claro, se o evento tem um dress code específico, é preciso segui-lo para não ficar deselegante. Neste caso era jeans, então a Helena estava perfeita. Além disso, esse estilo sexy tem a ver com ela.”
Luiza Brunet, ex-modelo
“Não há regra estabelecida. Eu, por exemplo, sempre gostei de roupas mais conservadoras e clássicas, independente da idade. Desde jovem prefiro saia de comprimento abaixo dos joelhos do que minissaia. É um gosto pessoal. Nunca fui muito de me enquadrar na moda do momento, mas sempre em pensar no que fica melhor pra mim. Acredito que é questão de definir o seu estilo e se vestir de acordo com o que combina com você. Aos 57 anos, não me sentiria à vontade usando bustiê – não pelo meu corpo, porque estou superbem com a minha imagem –, mas porque não tem a ver comigo. Mas a Helena estava linda e parecia confortável com o look. É aí que está o nosso poder: escolher aquilo que queremos vestir e sermos nós mesmas. Então acho que a Alexandra foi preconceituosa.”
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