• Anuncie no Site
  • Contato
No Result
View All Result
Newsletter
50emais
  • Inicio
  • Saúde
    Entre os inúmeros benefícios do exercício físico, está a queda no risco de morte

    Entre os inúmeros benefícios do exercício físico, está a queda no risco de morte

    Psicanalista fala da difícil passagem de filha para mãe da mãe

    Psicanalista fala da difícil passagem de filha para mãe da mãe

    Quer se proteger da demência? Veja os sete hábitos simples que você deve manter

    Quer se proteger da demência? Veja os sete hábitos simples que você deve manter

    Você sofre de fascite plantar? Veja o que fazer para por fim a esse terrível incômodo

    Você sofre de fascite plantar? Veja o que fazer para por fim a esse terrível incômodo

    A vida é muito curta para morar no Rio de Janeiro

    A vida é muito curta para morar no Rio de Janeiro

    Só a prevenção pode nos livrar das doenças silenciosas, como a terrível pressão alta

    Só a prevenção pode nos livrar das doenças silenciosas, como a terrível pressão alta

    Chega às clínicas privadas no Brasil nova vacina contra herpes-zóster. Mas é cara demais

    Chega às clínicas privadas no Brasil nova vacina contra herpes-zóster. Mas é cara demais

    Estas são as vacinas que todas as pessoas acima dos 50 anos precisam tomar

    Estas são as vacinas que todas as pessoas acima dos 50 anos precisam tomar

    Neurocirurgião dá  5 dicas para manter o cérebro funcionando bem por mais tempo

    Neurocirurgião dá 5 dicas para manter o cérebro funcionando bem por mais tempo

  • Moda
    Curtos, médios e longos, para você que aprecia um cabelo bem cuidado

    Curtos, médios e longos, para você que aprecia um cabelo bem cuidado

    Moda: amigas tornam-se modelo e o que era apenas uma brincadeira virou negócio

    Moda: amigas tornam-se modelo e o que era apenas uma brincadeira virou negócio

    Ótimas dicas de moda para mulheres que já passaram dos 50

    Ótimas dicas de moda para mulheres que já passaram dos 50

    Variações de cabelos compridos para você que gosta dos fios mais longos

    Variações de cabelos compridos para você que gosta dos fios mais longos

    A fascinante moda de rua londrina: sempre criativa, bonita e diversificada

    A fascinante moda de rua londrina: sempre criativa, bonita e diversificada

    Maye, mãe de Elon Musk, torna-se a modelo mais velha a ser capa de revista de esporte

    Maye, mãe de Elon Musk, torna-se a modelo mais velha a ser capa de revista de esporte

    Moda: trajes bonitos que podem servir de inspiração para você que chegou aos 50

    Moda: trajes bonitos que podem servir de inspiração para você que chegou aos 50

    Modelos simples e charmosos para quem gosta de usar vestidos

    Modelos simples e charmosos para quem gosta de usar vestidos

    Moda: blazer, peça que não pode faltar no guarda-roupa feminino

    Moda: blazer, peça que não pode faltar no guarda-roupa feminino

  • Cultura
    Filmes e séries falam de sexo muito depois dos 50

    Filmes e séries falam de sexo muito depois dos 50

    Emma Thompson fala da dificuldade de fazer cena nua aos 62, porque foi ensinada a não gostar de seu corpo maduro

    Emma Thompson fala da dificuldade de fazer cena nua aos 62, porque foi ensinada a não gostar de seu corpo maduro

    O quadro brasileiro mais caro vendido em leilão

    O quadro brasileiro mais caro vendido em leilão

    Revolução das mulheres que não querem ter filhos

    Revolução das mulheres que não querem ter filhos

    Revolução das mulheres que não querem ter filhos

    Revolução das mulheres que não querem ter filhos

    Adélia Prado: O tempo acalma os sentidos, apara as arestas, coloca band-aid na dor

    Adélia Prado: O tempo acalma os sentidos, apara as arestas, coloca band-aid na dor

    Por que este quarteto fantástico da MPB permanece tão atual aos 80 anos

    Por que este quarteto fantástico da MPB permanece tão atual aos 80 anos

    Glória Pires dirige seu 1º filme: Quero falar da ideia de que só juventude e pele esticada são boas

    Glória Pires dirige seu 1º filme: Quero falar da ideia de que só juventude e pele esticada são boas

    Grace and Frankie: elas nos ensinaram a enfrentar o envelhecimento com mais leveza

    Grace and Frankie: elas nos ensinaram a enfrentar o envelhecimento com mais leveza

  • viagem e lazer
    Livro conta história de mochileira de 60 anos

    Livro conta história de mochileira de 60 anos

    Ele foi morar em Portugal depois dos 50

    Ele foi morar em Portugal depois dos 50

    Turistas brasileiros invadem a Argentina

    Turistas brasileiros invadem a Argentina

    Vânia Nacaxe fala das delícias de se conhecer Portugal, viajando só ou em grupo

    Vânia Nacaxe fala das delícias de se conhecer Portugal, viajando só ou em grupo

    Para você que quer viajar sozinha dentro do Brasil, as boas dicas de Vânia Nacaxe

    Para você que quer viajar sozinha dentro do Brasil, as boas dicas de Vânia Nacaxe

    As melhores dicas para você que já atravessou os 50, quer viajar só, mas tem medo

    As melhores dicas para você que já atravessou os 50, quer viajar só, mas tem medo

    Depois dos 60 anos, elas decidiram viajar para conhecer o mundo

    Depois dos 60 anos, elas decidiram viajar para conhecer o mundo

    Viajante mais velho, enfim, é notado pela indústria de viagens

    Viajante mais velho, enfim, é notado pela indústria de viagens

    Eu prefiro viajar sozinha. É difícil conciliar interesses quando se viaja em dois ou mais

    Eu prefiro viajar sozinha. É difícil conciliar interesses quando se viaja em dois ou mais

  • Entrevistas
    Isabel Allende sobre 3º casamento aos 70: O amor é o mesmo, mas as necessidades são diferentes

    Isabel Allende sobre 3º casamento aos 70: O amor é o mesmo, mas as necessidades são diferentes

    Live discute ‘dependência afetiva’, mal que causa grande sofrimento e afeta milhões

    Live discute ‘dependência afetiva’, mal que causa grande sofrimento e afeta milhões

    Lucinha Lins sobre a libido na terceira idade: “Não fica ruim, mas diferente”

    Lucinha Lins sobre a libido na terceira idade: “Não fica ruim, mas diferente”

    Símbolo sexual, Luisa Brunet chega aos 60 anos em seu “melhor momento”

    Símbolo sexual, Luisa Brunet chega aos 60 anos em seu “melhor momento”

    Para melhorar o cérebro, você tem que cuidar do espírito

    Para melhorar o cérebro, você tem que cuidar do espírito

    Mulheres de mais de 50 anos e seus cabelos longos

    Mulheres de mais de 50 anos e seus cabelos longos

    Sexo depois dos 50 anos: problemas que eles e elas enfrentam

    Sexo depois dos 50 anos: problemas que eles e elas enfrentam

    Sandra Passarinho entrevista a médica e cientista da Fiocruz Margareth Dalcolmo

    Sandra Passarinho entrevista a médica e cientista da Fiocruz Margareth Dalcolmo

    Sandra Passarinho entrevista o médico Alexandre Kalache sobre envelhecimento e o impacto da pandemia nos mais velhos

    Sandra Passarinho entrevista o médico Alexandre Kalache sobre envelhecimento e o impacto da pandemia nos mais velhos

  • História de Vida
    História de amor que começou em 1958 é retomada 55 anos depois

    História de amor que começou em 1958 é retomada 55 anos depois

    Tratamento estético deixa modelo Linda Evangelista ‘brutalmente desfigurada’

    Tratamento estético deixa modelo Linda Evangelista ‘brutalmente desfigurada’

    Ela abandonou o trabalho de empresária e se tornou atriz para lidar com uma doença

    Ela abandonou o trabalho de empresária e se tornou atriz para lidar com uma doença

    Mulheres que decidiram não ter filhos reclamam do preconceito por não serem mães

    Mulheres que decidiram não ter filhos reclamam do preconceito por não serem mães

    Considerado o maior de todos os astros do cinema, Tom Cruise chega aos 60

    Considerado o maior de todos os astros do cinema, Tom Cruise chega aos 60

    Ela aprendeu a andar de patins depois dos 50 e é uma inspiração para muita gente

    Ela aprendeu a andar de patins depois dos 50 e é uma inspiração para muita gente

    Koji Teramito: campeão de patinação aos 70 anos

    Koji Teramito: campeão de patinação aos 70 anos

    Linda Evangelista faz acordo com empresa responsável por tê-la deixado ‘irreconhecível’

    Linda Evangelista faz acordo com empresa responsável por tê-la deixado ‘irreconhecível’

    Ela tem 92 anos, pinta quadros e seu trabalho é elogiado por Chico Buarque

    Ela tem 92 anos, pinta quadros e seu trabalho é elogiado por Chico Buarque

  • Comportamento
    Quando você vira pai e mãe de seus pais

    Quando você vira pai e mãe de seus pais

    A tecnologia está nos levando para longe de nós mesmos

    A tecnologia está nos levando para longe de nós mesmos

    A paranóia que pode vir com o envelhecer

    A paranóia que pode vir com o envelhecer

    Fotografia de Sharon Stone fazendo topless aos 64 anos encanta fãs

    Fotografia de Sharon Stone fazendo topless aos 64 anos encanta fãs

    Houve uma explosão do número de pessoas viajando sozinhas durante a pandemia

    Houve uma explosão do número de pessoas viajando sozinhas durante a pandemia

    São mais de 200 denúncias diárias de abusos de idosos no Brasil

    São mais de 200 denúncias diárias de abusos de idosos no Brasil

    Paciente do SUS, ela diz ter orgulho do sistema e recomenda o filme ‘Saúde Tem Cura’

    Paciente do SUS, ela diz ter orgulho do sistema e recomenda o filme ‘Saúde Tem Cura’

    O autoconhecimento é fundamental para se livrar da dependência afetiva

    O autoconhecimento é fundamental para se livrar da dependência afetiva

    A polêmica em torno da depressão das mulheres de Belo Horizonte

    A polêmica em torno da depressão das mulheres de Belo Horizonte

  • Vida Financeira
    Saiba como usar o seu cartão de crédito

    Saiba como usar o seu cartão de crédito

    Aulão vai apontar saídas para endividados

    Aulão vai apontar saídas para endividados

    Vamos falar da sua vida financeira?

    Vamos falar da sua vida financeira?

    Chegando aos 50? Aperte o passo para garantir um futuro seguro

    Chegando aos 50? Aperte o passo para garantir um futuro seguro

    As mulheres e as propostas de reforma da Previdência social

    As mulheres e as propostas de reforma da Previdência social

    Boa forma de voltar à vida profissional após os 50: empreender

    Boa forma de voltar à vida profissional após os 50: empreender

50emais

Jurema Werneck, a admirável diretora da Anistia no Brasil

Compartilhe no FacebookCompartilhe no TwitterCompartilhe no WhatsappCompartilhe no LinkedinCompartilhe no TelegramCompartilhe com QRCODE
 width=
Jurema ocupa no país o cargo máximo da Anistia Internacional, movimento pró-direitos humanos mais importante do mundo

Maya Santana, 50emais

Há um número enorme de grandes mulheres exercendo cargos importantes no Brasil, e, apesar da relevância do trabalho que fazem, ainda não são conhecidas do grande público. Uma delas é Jurema Werneck, 56, a médica e ativista que desde fevereiro de 2017 é a diretora executiva da Anistia Internacional, o movimento mais importante no mundo atuando em defesa dos direitos humanos.

Jurema é aquele tipo de pessoa difícil de não se admirar: encontrou todo tipo de dificuldade na vida, inclusive a perda da mãe, quando vivia o auge da adolescência, e um preconceito implacável. Nada impediu que seguisse em frente, desenvolvesse suas potencialidades e se tornasse a líder respeitada que é hoje.

Leia a ótima entrevista que ela concedeu à Adriana Ferreira Silva, da revista Marie Claire:

Jurema Werneck viveu o que considera ser sua primeira experiência marcante com o racismo quando uma professora escolheu um menino branco para ser seu par na festa junina. Zé Carlos não só se recusou a segurar na mão da colega, como, para evitar o contato, escondeu, sorrateiro, um prego entre os dedos, com a intenção de espetá-la. Ambos tinham 6 anos. Depois deste, seguiram-se outros episódios de crueldade.

Nascida no Morro dos Cabritos, em Copacabana, ao longo de seus 56 anos, Jurema enfrentou a pobreza, a fome, a morte precoce da mãe e o preconceito contra sua cor, origem e orientação sexual para chegar aonde chegou – e ela foi muito longe. Formada em medicina, com mestrado em engenharia de produção e doutorado em comunicação e cultura, Jurema é hoje a brasileira negra a ocupar o mais importante cargo da Anistia Internacional no país.

Na liderança da organização de direitos humanos, dá continuidade a uma luta que marca sua existência e a levou a criar, em 1992, a ONG Criola: a defesa incondicional das mulheres afrodescendentes. Seus desafios não são poucos, e se tornaram ainda mais urgentes com o atentado contra a vereadora Marielle Franco, assassinada numa emboscada em 14 de março. Companheiras de ativismo, Jurema se lembra de Marielle como uma pessoa “solar”, brilhante, cuja morte repete o padrão de outras que, como elas, são negras e nasceram na favela.

Ela recebeu Marie Claire na sede da Anistia, no Rio, em meio ao turbilhão de protestos pelo mundo em torno da morte de Marielle. Vestindo uma calça amarela, tão vibrante quanto seu belo sorriso, ajeitava os dreadlocks, que insistiam em cair sobre os olhos, enquanto falava com pesar, mas determinação, sobre Marielle. Relatou os detalhes de sua atuação na organização, de onde articula ações em favor de quilombolas e indígenas e recomenda novas abordagens sobre as forças de segurança pública, entre outras atividades. Ainda relembrou, saudosa, sua trajetória desde a infância, destacando que, apesar de ter se tornado uma das mais importantes intelectuais do Brasil, aqui continua sendo vista como “a neguinha que alguém quer sempre escorraçar”.

Marie Claire O que representa a morte de Marielle Franco?
Jurema Werneck Uma perda sem tamanho. Ela era uma ativista de destaque, mesmo antes de ser vereadora. Depois de eleita, levou ao pé da letra o sentido de representação: recebeu 46 mil votos mas, como vemos agora, seu projeto atraía muito mais gente. Marielle era negra, lésbica, da favela. Você consegue imaginar o quanto custou para a favela produzir essa mulher? Quanta gente precisou se mobilizar para ela ser o que era? Quanta energia foi interrompida com esse atentado? Foi o morro quem gerou essa mulher brilhante.

MC Como vocês se conheceram?
JW Eu a conheci num debate sobre mulheres negras na Universidade Federal do Rio. Ali, eu a vi argumentando, chamando atenção para a situação das moradoras da favela. Antes de ela tomar posse, nos encontramos na rua e comemoramos. Depois de assumir como vereadora, estava presente na luta, ao criar situações que reuniam negras, jovens, lésbicas, mulheres trans. Era uma pessoa solar.

 width=
Djamila Ribeiro, Marion Gray-Hopkins, Shackelia Jackson, Sueli Carneiro, Ana Paula Lisboa, Jurema Werneck e Vilma Reis durante debate sobre mulheres negras e direitos humanos promovido pela Anistia em 2017 (Foto: Lucas Landau)

MC Muitos atacaram a mídia por destacar o fato de ela ser negra. Reação semelhante ocorreu, por exemplo, durante uma campanha de Marie Claire em 2017, quando pedimos a mulheres negras que respondessem a frase “Parece elogio, mas é racismo”, o que as tornou alvo de questionamentos. Quanto o racismo é importante na morte de Marielle?
JW O racismo faz as pessoas aderirem à ideia de que se deve eliminar aqueles considerados de raças inferiores. Dizer: “mataram Marielle, e ela era uma mulher negra” coloca o tema sob outra perspectiva que é: no Brasil, negros morrem assim – e as pessoas não querem ser confrontadas com o fato de que o país é racista. Já o episódio de Marie Claire, enxergo por ângulos não tão pessimistas: vejo uma revista dando espaço a mulheres que, antes, lutavam sozinhas. Além disso, há o fim do silenciamento. Nós sabemos que o racismo é violento, nojento, cruel. Assim como todos os negros que conheço, já fui agredida muitas vezes. Mas ninguém, além da gente, vive isso. Levamos décadas para derrubar esse muro de silêncio chamado democracia racial. A consequência é o que estamos acompanhando: racistas falando explicitamente, desrespeitando leis etc.

MC Em que momento de sua trajetória percebeu o racismo?
JW Nasci no Morro dos Cabritos, em Copacabana, e a diferença sempre esteve presente. Éramos uma família grande, pobre, de religião de matriz africana [umbanda] – e destaco isso porque a religião faz a família ficar maior ainda. Não é coincidência eu ter nascido negra, pobre e favelada. Os negros são pobres e favelados em sua maioria. Minha primeira experiência do racismo é esta: nascer na favela, com meus pais fazendo milagre para termos roupa, casa e comida. Mas minha lembrança mais antiga é a de ter 6 anos e, num dos ensaios para a festa junina, a professora formar os casaizinhos e me colocar para dançar com o Zé Carlos, um colega de turma branco, que se recusou a encostar em mim.

MC Como assim?
JW Ele não queria pegar na minha mão, então segurou um prego entre os dedos para me espetar. Levei um tempo para entender por que ele não podia se aproximar de mim. Eu tinha 6 anos, mas ele também.

MC Quais foram as mais marcantes?
JW Desde pequena, todas as vezes que fui ao trabalho da minha avó, que era doméstica, faxineira, entrava pela porta de serviço, pela garagem dos prédios. Lembro de um dia em que a patroa examinou meus dentes, da mesma forma que faziam com os escravos. Adolescente, entrei numa lanchonete no Rio para tomar um suco e uma pessoa gritou: “Sua negra fedorenta, sai daqui”. Já médica, no início dos anos 90, convidei umas amigas para comer num restaurante de frutos do mar e, na hora de pagar, com meu cheque especial, o rapaz se recusou a receber, dizendo que minha carteira do Conselho Regional de Medicina, usada como identidade, só poderia ser falsa. Hoje, por causa do meu trabalho, viajo muito a outros países e, do aeroporto para fora, é onde encontro menos racismo. Não é que ele não exista, mas é diferente. Aqui, sou só a neguinha que alguém quer escorraçar.

MC Você costuma falar sobre sua bisavó. Quem era ela?
JW Uma mulher especial! Quando nasci, ela tinha 70 anos, mas morreu só aos 101, então convivemos bastante. Ela se chamava Maria Virginia do Amaral, filha de uma ex-escrava, Virginia Maria, africana da região de Angola, Moçambique. Era a caçula de 14 filhos, que nasceram e viveram numa fazenda do interior de Minas até que, em 1901, foram expulsos e vieram para o Rio, aonde chegou aos 14 anos, sem nada. Ela teve duas filhas com meu bisavô, Julio, mas criou um montão de sobrinhos. As histórias que ela contava pra gente dormir eram a respeito da vida boa na fazenda: os batizados das bonecas, sobre como a mãe era ótima dançarina de caxambu. Vez em quando, escapava algo triste, como um episódio em que um operário, que trabalhava numa obra vizinha, se suicidou colocando fogo no próprio corpo e na casa em que minha bisavó morava. Perdeu tudo.

MC De quais tradições africanas você se lembra?
JW Principalmente as atividades da umbanda, que aconteciam na minha casa, porque minha mãe era uma líder religiosa – apesar de termos outras crenças na família, como candomblé, cristãos e evangélicos. A forma de servir a comida, dentro da tigela do queijo de cuia, que minha bisavó amassava e comia com as mãos, em bolinhos chamados de “capitão”. As festas onde tocavam caxambu e samba.

MC Que lembranças carrega de seus pais?
JW Minha mãe, Dulcineia, era bonita, inteligente, divertida, e morreu jovem, quando eu tinha 14 anos. Teve um AVC. Meu pai, Nilton, que era alfaiate, mas também trabalhava como porteiro do hospital da Aeronáutica, pediu aos médicos que a atendessem. Eles a examinaram, deram um analgésico e a mandaram de volta para casa. Ela sofreu muito e morreu de manhãzinha, quando eu estava indo para a escola. Anos mais tarde, na faculdade de medicina, quando li sobre os sinais de AVC, fiquei arrasada. Minha mãe sentiu exatamente o que estava escrito ali. Ou seja: aquele médico não lhe deu atenção. Já meu pai, muito bem-humorado, antes de conhecer minha mãe, era um malandro. Teve de provar à minha bisavó que era um homem digno. Ele fazia o que fosse necessário para dar comida para todos. Às vezes, não dava. Nesses momentos, contamos com a solidariedade. Ganhamos comida, roupa. Mas meus pais nunca desistiram.

MC Você descreve situações difíceis com leveza. Era grande o sofrimento?
JW Era o que era. Quando você é criança, não sabe que existe outro tipo de vida. A experiência de estar com fome é ruim. De querer um brinquedo e não ter. Fomos ensinados a não pedir nada a ninguém. Há momentos de dor, mas acho que meus pais sofriam muito mais tentando apaziguar o ambiente para vivermos da melhor forma possível.

MC E mesmo passando por dificuldades, você se tornou médica. O que foi importante para que superasse a pobreza?
JW Meus pais exigiam que a gente estudasse. Tenho déficit de atenção, e é muito comum meninas com esse problema serem silenciosas. Era péssima aluna e detestava a escola. Mas tinha de passar de ano e os adultos faziam uma marcação cerrada. Para completar, tinha os santos e orixás: uma vez, fui a uma festa de umbanda, uma mãe de santo incorporou uma pombagira – para mim, algo assustador –, veio na minha direção e perguntou: “Passou de ano?” [risos].

MC Você foi uma adolescente namoradeira?
JW Fui uma adolescente que perdeu a mãe. Eu era um casulo. Até os 19 anos, não falava. Tinha algumas amigas, mas era quieta, nada sociável. Hoje em dia, olhando a distância, vejo que o sofrimento de perder minha mãe foi muito grande. Na época, não identificava, mas passava mal ao sair, ir à escola, andar sozinha. Era quase uma síndrome do pânico.

MC Buscou ajuda?
JW Na faculdade, comecei a participar de um grupo de ação comunitária de saúde, em Niterói. Em seguida, entrei no movimento estudantil e, com o passar do tempo, assumi funções como falar na frente da sala de aula lotada, conduzir reu­niões, pedir dinheiro para eventos. Assim, fui me soltando.

MC Por que optou pela medicina?
JW Na verdade, não sabia o que queria fazer. Meu pai conseguiu uma vaga num teste vocacional. Fiz e o resultado trouxe dez profissões, entre elas música e artes – que eu adorava, mas eram impossíveis para alguém que precisava ajudar a família. Na véspera da inscrição do vestibular, preenchi os papéis, mas deixei a carreira em branco. Na manhã em que meu pai ia entregar tudo, me disse: “Mas, Jurema, cadê a profissão?”. Não sabia o que fazer, então disse: “Bota medicina”.

MC Como se tornou militante?
JW Para me estimular na escola, meus pais me ofereceram como exemplo duas mulheres, não por sua atuação, mas, sim, por elas terem estudado. Eram Angela Davis e Leci Brandão. Cresci tendo as duas como espelho. Durante a faculdade, além do movimento estudantil, descobri o feminismo. Depois, me juntei às mulheres negras.

MC E a militância lésbica, quando entrou em sua vida?
JW Não entrou. Claro que falei sobre minha condição, mas não participei de grupos de mulheres lésbicas nem do movimento LGBT. Ser lésbica é uma parte do que sou, da militância do movimento de mulheres negras, mas não uma prioridade.

MC Mas você assumiu publicamente ser lésbica?
JW Nunca vivi isso como um segredo, então não assumi nem tive a necessidade de fazer uma revelação. Durante a faculdade, encontrei mulheres negras que namoravam outras abertamente, e era tudo muito natural. Quando usava o cabelo black, curto, todo mundo já me chamava de sapatão [risos].

MC Você é casada?
JW Há muitos anos com a Luciene, que é artista e artesã. Quando nos conhecemos, em Salvador, ela fazia roupas com estamparia africana. Hoje, cria bolsas com imagens de mulheres negras. Na primeira vez que nos vimos, eu namorava, e ela também. Depois, mudou para o Rio e nos encontramos, primeiro numa passeata, mas não lembrei de onde a conhecia – e ela não falou comigo de propósito [risos]. Nos reencontramos na Lapa e estamos juntas desde então.

MC Como foi parar na Anistia Internacional?
JW
Ah, eu gosto muito de estar aqui. Foi uma indicação da [jornalista] Flávia Oliveira, conselheira da Anistia no Brasil. Passei por um longo e difícil processo e, por diferentes aspectos desse cargo, por minha história pessoal, acabaram me selecionando.

MC Sua trajetória como ativista tem muitos pontos em comum com a de Marielle Franco…
JW
Marielle e eu viemos do mesmo lugar e somos fruto de um projeto coletivo. Temos a mesma história, com diferenças pessoais e familiares. Mas não somos as únicas. Benedita da Silva é o exemplo mais vistoso, mas existem outras. Fazemos parte de uma minoria esmagadora. A favela, as pessoas que vivem ali, nos prepararam para que estivéssemos prontas quando fosse necessário aparecer. Sou resultado da favela e do trabalho das mulheres negras.

Leia também:
Três séculos de escravidão: “a mais terrível das nossas heranças”
Professora negra,77, rouba a cena em Paraty, falando de racismo
Para brasileira na OMS, grande desafio é atuar em áreas de conflito

Tags: Anistia InternacionalBrasildiretora-executivaJurema Werneck
Publicação anterior

Ser modelo: o sonho de uma vida inteira é realizado aos 80 anos

Próxima publicação

A homenagem de Concessa: Ser mãe é uma montanha russa

Notícias Relacionadas

Ele foi morar em Portugal depois dos 50
viagem e lazer

Ele foi morar em Portugal depois dos 50

Um longo artigo escrito pelo jornalista Marcos Freire para o site eurodicas.com.br, sobre morar em Portugal depois dos 50. Ele...

by Maya Santana
16 de agosto de 2022
Rio e RGS têm o maior número de pessoas com mais de 60 anos e morando só
Carrossel

Rio e RGS têm o maior número de pessoas com mais de 60 anos e morando só

by Maya Santana
8 de agosto de 2022
Próxima publicação
A homenagem de Concessa: Ser mãe é uma montanha russa

A homenagem de Concessa: Ser mãe é uma montanha russa

Deixe um comentário

Iniciei minhas atividades como jornalista na década de 70. Trabalhei em alguns dos principais veículos nacionais, como O Estado de S. Paulo e Jornal de Brasil. Mas a maior parte da minha carreira foi construída no exterior, trabalhando para a emissora britânica BBC, em Londres, onde vivi durante mais de 16 anos. No retorno ao Brasil, criei um jornal, do qual fui editora até me voltar para a internet. O 50emais ganhou vida em agosto de 2010. Escolhi o Rio de Janeiro para viver esta terceira fase da existência.

50emais © Customizado por AttonSites | Sergio Luz

  • Anuncie no Site
  • Contato
No Result
View All Result
  • Inicio
  • Saúde
  • Moda
  • Cultura
  • viagem e lazer
  • Entrevistas
  • História de Vida
  • Comportamento
  • Vida Financeira

© 2022 50emais - Customizado por AttonSites.

Utilizamos cookies essenciais de acordo com a nossa Política de Privacidade e ao continuar navegando, você concorda com estas condições.