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Estudos recentes comprovam de vez a relação entre o consumo de alimentos chamados de ultraprocessados e doenças cardiovasculares, câncer, transtornos mentais e diabetes. Está provado que são alimentos que só fazem mal ao nosso organismo.
Nesta reportagem, Bernardo Yoneshigue, de O Globo, dá todas as informações que você precisa saber sobre esses alimentos, que passam por processos industriais e quase sempre são ricos em gordura, açúcar e sal.
E quais são eles, tão prejudiciais à saúde? Reúno aqui muitos exemplos:
- Balas, barra de cereal, biscoitos recheados, cereais açucarados, chocolates, energéticos, hambúrgueres congelados, iogurtes e bebidas lácteas adoçados e aromatizados, macarrão instantâneo, mistura para bolo, molhos prontos, pães que possuem em sua composição substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos.
- E ainda, peixe e frango empanado tipo nuggets, pizzas congeladas, pós para refrescos, refrigerante, salgadinhos de pacote, salsichas e outros embutidos, sopas em pó, sorvetes e temperos prontos.
Leia a reportagem:
Alternativas altamente palatáveis e práticas, que se tornam atrativas dentro de rotinas com pouco tempo livre, os alimentos ultraprocessados, como refeições prontas, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes, têm sido alvo crescente de estudos que buscam avaliar o impacto de seu baixo teor nutricional na saúde humana.Agora, uma nova revisão de 45 trabalhos feitos sobre o tema, publicada nesta semana na revista científica The BMJ, mostra que existe uma associação entre as comidas e um risco aumentado para 32 doenças diferentes.
10 milhões participaram da pesquisa
A publicação é chamada de “guarda-chuva” por ser uma análise conjunta de outras revisões já feitas sobre o tema. Por isso, é considerada um dos níveis mais elevados de evidência científica observacional, agregando uma série de pesquisas e avaliando não apenas os resultados, mas a qualidade de cada uma. O trabalho foi conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos, Austrália, França e Irlanda.
Ao todo, os estudos analisados acompanharam quase 10 milhões de indivíduos. As estimativas de exposição aos ultraprocessados foram obtidas por meio de uma combinação de registros alimentares e foram medidas como um consumo maior versus um menor, como porções adicionais por dia ou como um aumento de 10%, a depender do trabalho.
De forma mais sólida, os cientistas afirmam que há evidências convincentes de que a ingestão de alimentos ultraprocessados está associada a um risco aumentado de 50% de morte relacionada a doenças cardiovasculares; 53% de transtornos mentais comuns e 48% de ansiedade prevalente.
Dados sólidos também mostraram um risco 12% maior de diabetes tipo 2 a cada 10% de aumento dos ultraprocessados na dieta. Evidências mais fracas, porém consideradas altamente sugestivas, indicaram uma chance 20% maior de morte por qualquer causa, 55% de obesidade, 41% de problemas de sono, 40% de chiado no peito e 20% de depressão.
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A revisão constatou ainda que há estudos apontando uma associação com asma, pior saúde gastrointestinal, alguns tipos de câncer e fatores de risco cardiometabólicos, como níveis elevados de gordura no sangue e baixos níveis de colesterol “bom”. No entanto, de forma menos consistente que demanda mais avaliação.
- Mortalidade por todas as causas
- Mortalidade por câncer
- Mortalidade por doenças cardiovasculares
- Mortalidade por problemas cardíacos
- Câncer de mama
- Câncer (geral)
- Tumores do sistema nervoso central
- Leucemia linfocítica crônica
- Câncer colorretal
- Câncer pancreático
- Câncer de próstata
- Desfechos adversos relacionados ao sono
- Ansiedade
- Transtornos mentais comuns
- Depressão
- Asma
- Chiado no peito
- Desfechos de doenças cardiovasculares combinados
- Morbidade de doenças cardiovasculares
- Hipertensão
- Hipertriacilgliceridemia
- Colesterol HDL baixo
- Doença de Crohn
- Colite ulcerativa
- Obesidade abdominal
- Hiperglicemia
- Síndrome metabólica
- Doença hepática gordurosa não alcoólica
- Obesidade
- Excesso de peso
- Sobrepeso
- Diabetes tipo 2
O que são os ultraprocessados e por que eles fazem mal?
Os ultraprocessados são alimentos como refeições prontas, refrigerantes, salgadinhos, embutidos, barras de cereais, sorvetes, entre muitos outros presentes no dia a dia. Basicamente, todos que passam por múltiplos processos industriais e contêm corantes, emulsificantes, aromatizantes e outros aditivos para torná-los palatáveis.
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— Esses alimentos têm uma alta disponibilidade, praticidade, são mais duráveis e têm a conveniência de serem fáceis de comer. Mas têm um alto teor de sódio, de gordura hidrogenada e saturada, grande quantidade de açúcares refinados e uma baixa quantidade de fibras, o que os torna pobres em termos nutricionais — explica Durval Ribas Filho.
Um recurso que pode ajudar a identificá-los é o aplicativo “Desrotulando”, que escaneia o código de barras dos produtos e dá uma nota de acordo com a quantidade de substâncias nocivas. Para os especialistas, essa carência nutricional nos produtos e o fato de que eles ocupam o lugar de alternativas saudáveis na dieta podem explicar os riscos para a saúde observados.
“A ingestão desses alimentos torna as dietas densas em energia, ricas em açúcar e gordura saturada e pobres em proteínas, fibras, micronutrientes e fitoquímicos protetores da saúde, como flavonoides e fitoestrogênios. Elas também contêm aditivos, incluindo corantes, emulsificantes e adoçantes, associados por evidências experimentais e epidemiológicas a desequilíbrios na microbiota intestinal e inflamação sistêmica”, diz o editorial do Nupens.
Além disso, o texto destaca que “os alimentos ultraprocessados são projetados para serem altamente desejáveis, combinando açúcar, gordura e sal para maximizar a recompensa e adicionando sabores que induzem a comer mesmo quando não se está com fome”, o que favorece o ganho de peso e o risco de obesidade.
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Os pesquisadores afirmam ainda que os ultraprocessados são considerados viciantes pelos padrões estabelecidos para produtos de tabaco e por isso pedem que as agências das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e os países desenvolvam diretrizes sobre os alimentos análogas àquelas sobre o tabaco.