Meus olhos de menina
Viam o meu pai muito grande
Aquele meu pai que não era
De falar muito com crianças
Mas estava sempre enrabichado com elas.
Nos acordava cedinho,
Eu e meus três irmãos mais novos
Nos empoleirava na boleia de seu jipe…
E lá íamos nós… em um silêncio quase medroso
Mas achando que o mundo
Era o melhor lugar do mundo!
Às vezes, o ouvia dizer à minha mãe:
-Menino não tem querer não, Clara!
Pra logo em seguida emendar:
– Querem ir passear comigo?
Quantas vezes debulhei fava pro almoço
Ali quietinha.
Só ele e eu.
Sem falarmos nada
Num silêncio que só não era muito
Porque as favas saltavam da casca
Fazendo um barulhinho bom…
Ploc…ploc
E nós dois ali,
Sem dizermos nada e
Cercados de felicidade.
E nós dois ali…
E eu lá, menina
E pensava:
– Que bom que era ser filha do meu pai!
Elisa Santana, 59 é atriz, Professora de Teatro da PUC/MG e Poeta.