Maya Santana, 50emais
Definitivamente, o sexo para mulheres que já passaram de uma certa idade deixou de ser um tabu. O envelhecimento da população vai mudando o comportamento das pessoas. O que antes era encarado com uma certa vergonha, hoje, vai se tornando natural. Pesquisas mostram que, na última década, sexo foi deixando de ser tabu, especialmente entre elas. Estudo da psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, mostrou que 66,7% das mulheres passaram a fazer sexo aos 60 anos ou mais. No caso dos homens, a taxa chegou a 92,5%, como mostra este artigo de Clarissa Pains para o Globo.
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Elma Izai faz sexo. Aos 68 anos, ela não vê problemas em falar sobre o assunto, e estranha, isso sim, quem considera um tabu relações sexuais entre idosos. Casada há mais de três décadas, Elma integra a geração que revolucionou o papel da mulher no sexo: ela tinha 10 anos quando, em 1960, a primeira pílula anticoncepcional chegou ao mercado; tinha 18 quando o movimento feminista explodiu em protestos na França; e, hoje, já na terceira idade, faz parte do contingente de mulheres com mais de 60 anos que é o mais sexualmente ativo de toda a História brasileira.
— Eu entendo sexo como parte da felicidade — diz Elma.
Jayme Pereira Príncipe também faz sexo. Aos 82 anos, ele está viúvo há 20 e namora há 14. Quando perguntado sobre planos de um novo casamento com a atual namorada, de 59, ele responde com um bem-humorado “por enquanto, não”. Jayme passou a vida toda cuidando da alimentação, fazendo exercícios e dormindo bem. Ele vê nisso uma relação direta com sua boa disposição para o sexo. Mas, diferentemente de Elma, o simples fato de ter nascido homem já o torna parte de um grupo que, tradicionalmente, teve mais liberdade para manter relações sexuais por mais tempo — e para falar à vontade sobre isso.
Se, em 2008, 87% dos homens com 60 anos ou mais eram sexualmente ativos, esse índice despencava para apenas 50% entre as mulheres. O cenário animador é que essa disparidade diminuiu significativamente na última década: uma segunda edição da mesma pesquisa, com dados colhidos em 2016, mostrou que 66,7% delas passaram a fazer sexo aos 60 anos ou mais. No caso dos homens, a taxa também aumentou, chegando a 92,5%.
O estudo é da psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. Ela destaca que, embora a primeira conclusão a partir dos dados seja de que mais idosos, em geral, estão fazendo sexo, “as grandes mudanças nesses números são femininas”.
— A geração que está hoje na terceira idade é pioneira em muitos aspectos, consequentemente não poderia ser diferente no aspecto sexual. É uma geração que viveu uma sexualidade mais livre, porque a pílula permitiu o planejamento familiar. É uma geração em que a mulher começou a trabalhar fora e ganhou uma percepção diferente da existência e do envelhecimento — analisa a especialista.
Carmita aposta que, quando realizar a terceira edição da pesquisa, planejada para daqui a oito ou dez anos, a mudança nos números será radical.
— Trata-se de uma alteração de paradigma: cada vez menos, a mulher fica constrangida diante das mudanças do próprio corpo e cada vez menos ela sente vergonha de fazer sexo após os 60 anos. Entre outros motivos, essa idade não é mais vista como fim da vida — diz ela.
Regina Navarro Lins, que é sexóloga, psicanalista e escritora, faz coro com Carmita. Na visão dela, essas mulheres são fruto de uma revolução sexual:
— Nunca houve um período tão bom para o amor e para o sexo quanto hoje, sem dúvida. Durante muito tempo, a mulher de 40 tinha que “pendurar as chuteiras”. Hoje não é mais assim.
O dia a dia da carioca Elma Izai é retrato disso: o sexo regular com o marido é cultivado como fonte de prazer para ambos. E ela não é daquelas que abaixa o tom de voz para falar “sexo”.
— A relação sexual é tão importante quanto o café da manhã que tomamos juntos ou a TV a que assistimos abraçados — diz Elma, que também é psicóloga.