“(…) há uma história que não está na história e que só pode ser resgatada aguçando-se o ouvido e escutando os sussurros das mulheres”.
Rosa Montero
Elza Cataldo, 50emais
Em 17 de dezembro de 1734, nasce em Lisboa, Portugal, Maria Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana. Aquela que seria conhecida como D.Maria I, a Rainha Louca. Entretanto, um mergulho mais profundo na sua vida pode revelar uma outra história. Comecemos pelo seu nascimento.
Maria recebeuo nome da mãe de Jesus Cristo. Desde então, seu desejo foi traçado: seria profundamente católica e bondosa.
O pai, o herdeiro do reino de Portugal e príncipe do Brasil D. José, certamente teria preferido um filho varão. Preocupado com o destino da sua dinastia. Mal sabia ele que Maria seria coroada a primeira rainha regente de Portugal anos mais tarde e que arrastaria, por toda a sua vida, o peso do que considerava os pecados do pai. Tentaria arduamente garantir a sua redenção. Em vão. Já a relação com a sua mãe seria diferente.
D. Mariana Vitória de Bourbon, a infanta da Espanha, sofrera na sua infância o trauma de ter sido enviada, em 1722, para a França onde se casaria como rei francês Luís XV. Como se não bastasse o precoce compromisso que fez a pequena criança, aos sete anos, ser arrancada do convívio com sua família, com suasaias próximas e até mesmo da sua língua materna; Mariana foi devolvida três anos depois. A fragilidade física do rei que parecia não ter muito tempo ainda para procriar, aos 15 anos, exigia uma progenitora já pronta. Mariana era, então, ainda, uma linda menina de dez anos com brilhantes olhos azuis. Franzina e aparentemente não apta a gerar filhos, principalmente varões.
Tornou-se uma jovem encantadora capaz de gerar oito filhos, dos quais quatro não sobreviveram. Teve Maria aos 16 anos, de quem se tornaria depois uma importante conselheira política. Ela própria, exemplo vivo de uma aliança entre Portugal e Espanha, conveniente para os respectivos reis.
A avó de Maria, D. Maria Ana de Áustria, também foi objeto de troca em negociações reais. E, assim, como sua filha D. Mariana, teve um marido infiel. Tanto D. João V como D. José I, embora profundamente católicos, se entregavam a inúmeros relacionamentos extraconjugais para grande sofrimento das respectivas rainhas. Mais tarde, Maria também seria profundamente afetada pelas aventuras amorosas do pai o que resultou em sérias consequências emocionais.
Além disso, D. Maria Ana, não especialmente um modelo de beleza, logo perceberia que a aparência física das mulheres valia mais em Portugal do que o culto ao conhecimento contrariamente ao que acontecia em Viena.
Resignada, dedicou-se a práticas religiosas, assim como sua filha. Ambas iriam ter um importante papel na formação católica da então pequena Maria.Também influenciariam mais tarde a jovem no gosto pela leitura e pela música e no interesse por coisas do mar.
Maria foi batizada com pompas e rituais dignos de uma poderosa realeza. Nessa época, Lisboa era a cidade mais rica e opulenta da Europa, graças ao ouro e ao diamante do Brasil, especialmente de Minas Gerais.
Após o batizado, ela foi levada para ser criada por uma ama de leite até os dois anos na Casa das Rainhas.
No próximo post, Elza Cataldo vai falar de como transcorreu a infância de D. Maria, em Portugal.
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