Mais um artigo importante, publicado pelo The New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo, sobre a importância dos exercícios físicos para se envelhecer bem, com saúde e disposição. Não há saída para nós: temos que nos exercitar e não só isso, à medida que vamos vivendo, é preciso aumentar o ritmo dos exercícios ou variá-los, não fazer sempre a mesma coisa. O artigo mostra os enormes benefícios da bicicleta, por exemplo. Só assim, abandonando de vez a preguiça que leva ao sedentarismo e se movimentando sempre vamos ter uma velhice plena, driblando as mazelas, que podem tornar muito difícil essa última etapa da vida. É disso que trata esse ótimo artigo.
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Se quisermos continuar andando com facilidade e destreza conforme envelhecemos, talvez precisemos nos esforçar um pouco mais, e não somente caminhar, de acordo com um esclarecedor novo estudo envolvendo caminhantes e ciclistas mais velhos. O estudo prova que quem se exercita pedalando com frequência consegue caminhar de maneira mais eficiente do que as pessoas cujo exercício principal é caminhar calmamente, mesmo que ciclistas e caminhantes se exercitem pela mesma quantidade de tempo.
Os resultados, que aprofundam trabalhos anteriores envolvendo caminhada e corrida, levantam importantes questões a respeito da capacidade de exercícios brandos serem, por si, suficientes para nos proporcionar bem-estar – ou se precisaríamos, pelo menos às vezes, acrescentar um esforço extra aos nossos treinos.
Em geral, a ciência dos exercícios mostra que fazer algum exercício físico – qualquer um que seja – é muito melhor para nossa saúde e longevidade do que ficar parado. Vários estudos epidemiológicos indicam que, se homens e mulheres começarem a se mexer o suficiente para se descolar do grupo das pessoas mais sedentárias, eles obtêm maiores reduções no risco de desenvolver doenças crônicas ou morrer prematuramente do que se um maratonista acrescentar alguns quilômetros a mais em seus exercícios semanais.
Mas a maioria de nós não é nem completamente sedentária nem se move constantemente, e nos restam várias questões a respeito da combinação ideal, a duração, a intensidade ou o tipo dos exercícios necessários para melhorar nossa forma física e saúde. Será que basta uma voltinha ocasional no quarteirão para ficarmos bem? Ou deveríamos continuar caminhando por mais tempo? E é importante se esforçar intencionalmente, até ficar sem fôlego, em algum momento?
Intrigados por essas preocupações, cientistas especializados em exercícios da Universidade Estadual Humboldt, na Califórnia, e da Universidade do Colorado, em Boulder, começaram a pensar recentemente a respeito do caminhar – e se isso pode nos dizer algo a respeito de treinos de exercícios e intensidades ideais.
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Em geral, a maioria de nós consegue andar desde pequeno e provavelmente tem a expectativa de continuar capazes de caminhar ao longo da maior parte da vida. Mas estudos de biomecânica mostraram no passado que as pessoas tendem a se tornar caminhantes fisiologicamente menos capazes com a idade, usando mais oxigênio para manter o mesmo ritmo de caminhada de pessoas mais jovens. Em termos práticos, essa crescente diminuição de rendimento torna mais difícil e mais cansativo caminhar, talvez fazendo com que as pessoas mais velhas caminhem menos, passem mais tempo sentadas e, possivelmente, se tornem mais frágeis.
Os pesquisadores especularam a respeito da hipótese de que exercícios podem manter o rendimento nas caminhadas das pessoas mais velhas, apesar de não terem claro qual tipo de exercício ocasionaria o benefício. Então, para um estudo que foi publicado em 2014 na revista científica PLoS One, eles convidaram ao laboratório caminhantes e corredores com mais de 65 anos e pediram que eles caminhassem na esteira em variados ritmos, enquanto usavam na cabeça um equipamento que media seu consumo de oxigênio.
Eles compararam, então, o rendimento dos corredores e dos caminhantes e confrontaram os resultados com dados similares de experimentos anteriores, realizados com universitários sedentários e aposentados. O resultado mostrou que os corredores mais velhos são caminhantes bastante eficientes e utilizam uma quantidade de oxigênio similar à dos jovens ao caminhar. Os caminhantes mais velhos, porém, perderam o passo fisiologicamente, necessitando de 7% a 10% mais oxigênio para caminhar no mesmo ritmo que os corredores ou os estudantes. O rendimento deles correspondia ao de homens e mulheres idosos que raramente se exercitam.
Agora, para o novo estudo, publicado no Journal of Aging and Physical Activity, os pesquisadores analisaram se um outro tipo de exercício, no caso o ciclismo, pode influenciar de maneira similar a facilidade de caminhar. Eles recrutaram ciclistas mais velhos e caminhantes e perguntaram qual o grau de intensidade da atividade física praticada, em uma escala de 1 a 3, de “baixo” a “alto”. Os caminhantes relataram uma intensidade de esforço que ficou pouco abaixo de 2; já entre os ciclistas, enquanto grupo, o índice se aproximou de 3. Os pesquisadores ainda usaram um grupo de controle composto por jovens saudáveis.
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Todos caminharam numa esteira em velocidades até cerca de 6,5 quilômetros por hora, enquanto os pesquisadores registravam seu consumo de oxigênio. E, assim como os corredores, os ciclistas mais velhos caminharam bem, com seu rendimento correspondendo ao dos jovens. Mas o rendimento dos caminhantes mais velhos foi até 17% mais baixo.
Na verdade, ter a caminhada como forma de se exercitar pareceu não “fornecer estímulo físico o suficiente” para manter a capacidade das pessoas para caminhar com facilidade enquanto envelhecem, afirmou Justus Ortega, professor da Universidade Estadual Humboldt e coautor de ambos os estudos. Corrida e ciclismo estão associados a um maior rendimento na caminhada do que andar regularmente.
Os estudos não se aprofundam nas maneiras como pedalar ou correr podem influenciar o rendimento nas caminhadas. Mas Ortega afirma que ele e seus colegas suspeitam que os esforços mais exigentes estimulam a saúde e o funcionamento das mitocôndrias dentro das células musculares de maneiras que um caminhar brando não consegue. As mitocôndrias influenciam a maneira como as células produzem e utilizam energia. Mitocôndrias mais saudáveis devem contribuir para mais rendimento nos movimentos.
É claro que esses estudos são retratos instantâneos das vidas das pessoas e não evidenciam que correr ou pedalar sejam responsáveis diretamente pelas pessoas apresentarem bom rendimento ao andar, nem que essas atividades estejam relacionadas. Os estudos também não analisaram pessoas de meia-idade e nem a possibilidade de diferentes tipos de exercício nessa faixa etária afetar a maneira como as pessoas caminharão no futuro.
Mas Ortega afirma acreditar que as descobertas dos estudos podem servir tanto como alerta quanto como estímulo, sugerindo que, enquanto qualquer atividade física produz benefício, se esforçar um pouco mais agora pode render benefícios duradouros para saúde e mobilidade. Então, se você atualmente caminha para se exercitar, afirmou ele, talvez possa considerar também uma pedalada ou uma corrida, às vezes, se possível. Ou incluir umas ladeiras em sua rota habitual de caminhada ou, pelo menos por duas ou três quadras, aumentar o ritmo da caminhada. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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