Aos 70 anos, ela encontrou o homem de sua vida

“Resolvi esquecer o passado e viver aquele momento. Estava me apaixonando pela primeira vez depois de seis anos. Não tinha medo, queria a felicidade mais uma vez, apesar da idade.”

Esse é um trecho do texto em tom alegre, de celebração, escrito por Salette Camello, 10 anos depois de ter apostado num relacionamento com um homem que, como ela, já estava na maturidade. Ele, com 75 e ela, 70.

Depois de uma história de amor com final infeliz, Salette se deu mais uma chance, após conhecer, na loja de sua propriedade, o simpático e bem educado Edu.

“Essa é uma história diferente, uma linda história de amor na terceira idade. Tenho certeza que meus contemporâneos vão ler e, quem sabe, se sentirão mais corajosos e tomarão iniciativas que os ajudarão a abrir seus corações e amar com a mesma força dos seus dezessete anos.

Edu, aos 75 anos, ainda era um homem forte e atraente. Relembrava, com saudades, da sua época de professor e proprietário de uma loja, uma casa de louças que pertencera a seus pais. Tinha uma queda especial por mim, proprietária de uma loja de venda e locação de CDs e DVDs, que estava com 70 anos na época.

Quando ia à loja, não perdia a oportunidade de ouvir as músicas que o levavam ao passado. “Dez anos”, de Rafael Hernandez, versão de Lourival Faisal, era sua preferida. Com os olhos lacrimejantes, debruçava-se no balcão e, ao término da canção, se despedia rápido e ia embora.

Eu o observava, e cada dia minha curiosidade aumentava. Não podíamos conversar, já que a loja estava sempre cheia. Duas vezes por semana, essa história se repetia. Eu admirava aqueles olhos azuis e ficava encantada com seu jeito educado. Ele, por sua vez, me olhava com carinho. Somos idosos e nos comportávamos com cerimônia.

Certa tarde, a loja praticamente vazia, surge Edu, com ar de felicidade. Em voz alta cumprimentou-me. Respondi e perguntei a razão da sua alegria, ele disse que era seu aniversário e que à noite haveria uma reunião na sua casa. Fazia questão que eu fosse!

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Fiquei espantada e relutei um pouco, mas devido a insistência, resolvi aceitar. O destino parecia saber daqueles planos e resolveu presenteá-lo, pois ninguém, durante meia hora, entrou na loja. Conversamos sobre diversos assuntos e foi quando fiquei sabendo que Edu foi professor e dono de loja. Eu também fora professora e era dona de loja. Para ele, essa coincidência representava muito e disse:

— Temos muito em comum. Desde que a conheci não visitei outra locadora, só para poder vê-la com frequência.

Envergonhada, quase desisti do aniversário, mas Edu falou educadamente, com aquele jeito de homem fino, e conseguiu convencer-me. Despediu-se e disse que o convite seria reforçado.

Meia hora depois, chegou Simone, moça bonita e desembaraçada, que se apresentou como filha de Edu, reiterando o convite, e mais, disse que a minha presença era muito importante. Agradeci e prometi ir.

Fechei a loja mais cedo e ali mesmo ao lado, no salão de beleza, me preparei. Fui para casa e às 2030 estava eu chegando o mais elegante que pude.

Edu me recebeu beijando minhas mãos e me elogiando. Simone me cumprimentou. Alegre, ao mesmo tempo em que fazia sala aos convidados.

Ao fundo, ouvia-se a música preferida de Edu.

Foi uma noite alegre. Bons assuntos, convidados simpáticos e anfitriões sem erros. Fui para casa, custei a dormir pensando em tudo que havia se passado.

No dia seguinte, antes do trabalho, fui a uma floricultura e mandei flores para Simone.

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Aí, parei para pensar em tudo e, como em um filme, fiquei inerte durante algum tempo…

Fui casada com um grande industrial, tive anos de glória, fui tratada com muito carinho e, por que não dizer, paparicada? Marido com posses que me cobria de jóias, flores, festas e sempre rodeado de muitos amigos. Um dia tudo acabou, o industrial se apaixonou pela secretária e foi embora. Fiquei só. Dois filhos casados. A loja era minha fuga, vivia em função dela.

Resolvi esquecer o passado e viver aquele momento. Estava me apaixonando pela primeira vez depois de seis anos. Não tinha medo, queria a felicidade mais uma vez, apesar da idade.

Espalhei a novidade para os filhos, netos e noras e fui aplaudida pelos netos, parabenizada pelas noras e recomendada pelos filhos, que ainda pensavam um dia verem pai e mãe juntos de novo.

Tirei-lhes as esperanças e resolvi não perder mais tempo, haja visto que já havia a certeza do amor de Edu, pois, a partir do jantar, todos os dias me visitava e me falava claramente o que sentia por mim e o que pretendia.

Em resposta, lhe escrevi uma carta:

“Edu,

Antes mesmo de você se dirigir a mim, eu o observava. Senti algo diferente e quando você entrava na minha loja, meu coração saltitava. Queria estar a sós com você para saber sobre sua vida, seu modo de pensar e até provocar palavras que me fizessem bem. Gostei demais de ouvir que tínhamos algo em comum, pois na trajetória das nossas vidas, fizemos coisas iguais.

Quando falávamos de nossos alunos, nossos sentimentos eram iguais, o amor, o carinho e a saudade que dedicávamos a eles nos fazem recordar momentos felizes. Depois, nas nossas lojas, sempre demos aos nossos clientes a mesma atenção e por isso somos queridos por eles. Hoje, dependo da sua visita para que o dia comece. E sua música? Já é minha também, tem muito a ver com o que passamos separadamente.

Vamos de mãos dadas andar bem devagar, nesse pequeno horizonte que nos resta, para que demore a chegar ao fim.

Beijos meus para você.”

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No dia seguinte marcamos o casamento, que aconteceu dois meses depois. Uma cerimônia simples e linda nos uniu. Nossas famílias e amigos nos abraçaram desejando felicidades!!!!

Já estamos juntos há dez anos e nosso amor aumenta a cada dia.