50emais
Eu acho que já contei aqui. Fumei durante muitos anos e decidi parar quando percebi a dependência do meu irmão doente – ele havia sofrido um AVC – do cigarro. Às vezes, ele não queria comer nada. Mas estava sempre fumando. Era triste ver a sofreguidão com que consumia um cigarro atrás do outro,
Quando deixei de vez o hábito jã passava dos 50. Isso significa que fui muito além da idade certa para parar de fumar. Em qualquer época que se abandone o cigarro há benefícios. Mas eles são muito maiores quando se deixa de engolir fumaça até os 35 anos de idade.
É isso que mostra um estudo feito em conjunto por pesquisadores americanos, britânicos e da Malásia. Esse é o terceiro estudo que chega a essa mesma conclusão, como mostra este artigo de Roberta Jansen para o Estadão.
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Pessoas que param de fumar antes dos 35 anos apresentam taxa de mortalidade similar a de pessoas que nunca fumaram depois de um determinado período de tempo longe do cigarro. A constatação é de um dos maiores estudos já feitos sobre o tema, publicado nesta semana na Journal of the American Medical Association (Jama).
Aqueles que param de fumar mais velhos também têm benefícios consideráveis, segundo o trabalho, mas sua taxa de mortalidade é mais alta do que a dos que pararam antes dos 35. Fumantes que deixam o fumo entre 35 e 44 anos, por exemplo, têm uma taxa de mortalidade geral 21% maior do que os que nunca fumaram. Já os que largaram o tabaco entre os 45 e os 54 anos, têm uma taxa de mortalidade 47% maior do que a dos que nunca fumaram.
“Entre homens e mulheres de diferentes grupos étnicos e raciais, os fumantes têm uma taxa de mortalidade geral duas vezes mais alta do que a dos que nunca fumaram”, sustenta o estudo, publicado na última segunda-feira, 24. “Parar de fumar, sobretudo na juventude, é associado a substanciais reduções no excesso de mortalidade associado ao fumo.”
Este é o terceiro grande estudo a sustentar que a idade ideal para parar de fumar é até os 35 anos. Sobretudo para os que começaram a fumar mais jovens. O novo trabalho foi feito por pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer, Universidade de Oxford e Universidade Nacional da Malásia.
550 mil adultos
“Há muito tempo sabemos que o quanto antes a pessoa parar de fumar, melhor”, escreveu John P. Pierce, professor do Departamento de Medicina da Família e Saúde Pública da Universidade da Califórnia, San Diego, num comentário técnico sobre o trabalho. “Entretanto, agora é possível ser mais específico a respeito da idade ideal para parar.”
O novo estudo foi baseado em dados do US National Health Interview Survey, um levantamento usado para monitorar a saúde dos americanos, e o National Death Index, o banco de dados americano dos registros de morte.
A análise incluiu o levantamento de dados de mais de 550 mil adultos que responderam a questionários entre janeiro de 1997 e dezembro de 2018 e tinham entre 25 e 84 anos no momento do trabalho. Entre os entrevistados, estavam fumantes e pessoas que nunca fumaram (definidas como aquelas que fumaram menos de cem cigarros ao longo da vida).
De acordo com o Índice Nacional de Mortes, cerca de 75 mil pessoas que participaram do estudo já tinham morrido no fim de 2019. Comparados aos que nunca fumaram, os fumantes apresentaram uma taxa de mortalidade geral significativamente mais alta, além de taxas de morte igualmente mais altas por câncer, problemas cardíacos e problemas pulmonares.
Perfil
Fumantes brancos de origem não hispânica apresentam as mais altas taxas de mortalidade – até três vezes mais alta que a de pessoas que nunca fumaram. Fumantes não brancos, de origem hispânica ou não, têm uma taxa de mortalidade levemente mais baixa – duas vezes a de não fumantes.
Essas diferenças podem estar relacionadas ao fato de que essas pessoas relataram fumar menos cigarros por dia, em média, começaram a fumar mais velhos e não fumavam diariamente, quando comparados com os brancos.
“Esses resultados nos lembram que reduzir a intensidade do fumo (o número de cigarros por dia) pode ser um dos objetivos dos programas de controle de tabaco”, escreveu Pierce, em sua análise.
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