
Miriam Moura
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Estamos na era da experiência sensorial. Ansiamos por experimentar situações que nos proporcionem manifestação ou sensação de vida, ou seja, vivências dignas de lembrança. Segundo o dicionário Houaiss, no sentido filosófico a palavra experiência significa “qualquer conhecimento obtido por meio dos sentidos”.
Em plena era virtual, a experiência sensorial relaciona-se à aplicação de tecnologias para estimular os sentidos em ambientes digitais, como as realidades virtual (VR) e aumentada (AR).
Em Nova York, foi inaugurado em 2024 o M.O.A.T. (Museu de Arte e Tecnologia) Mercer Labs, onde cultura e inovação convergem com a intenção e a arte humaniza a tecnologia. O museu tem 15 espaços expositivos experimentais, experiências interativas, encontros auditivos e instalações imersivas. “A relação entre arte e tecnologia e reimaginada”, segundo a descrição na homepage.
Numa viagem cultural exploratória no ano passado em busca de descobertas em comunicação, tive a oportunidade de experimentar momentos inesquecíveis em Milão, durante a Semana de Design.
Imaginem uma cidade sinônimo de elegância como Milão, durante um evento de centenas de marcas icônicas de múltiplas nacionalidades expostas em prédios de arquitetura deslumbrante. Todas ofereciam vivências memoráveis para gerar engajamento e sentimentos positivos com experiências imersivas. Isso é marketing de experiência, que visa gerar maior conexão do consumidor com a marca.
Para quem não é do ramo, marketing de experiência não vende o produto, mas a experiência que o produto oferece. É uma maneira de promover valores da marca de forma criativa, é explorar novos territórios. Posso garantir a vocês: é irresistível.
Poderia dar muitos exemplos (de sucesso), mas vou citar dois. Um foi em Milão, com a Porsche (a famosa marca alemã de automóveis), em uma instalação tão maravilhosa quanto criativa e envolvente. Criação do coletivo de design Numen/For Use, o trabalho consistia em uma rede física para você escalar, como uma brincadeira de criança.
O projeto de arte criativa da Porsche chama-se “O padrão dos sonhos”. Como se fosse uma paisagem flutuante, a instalação convidava os visitantes a subir e explorar uma escultura social imersiva, como uma “rede social” e um lugar de fuga, transição, fantasia e liberdade. Incluiu uma série de espetáculos de dança hipnóticos que davam vida às obras de arte. As pessoas esperavam um tempão na fila para experimentar. Valeu a pena!

O segundo exemplo é comum: a embalagem de um pacote de café gourmet, comprado numa conhecida cafeteria de Brasília. Na frente vinha a descrição técnica do café, do tipo catuaí amarelo, com aromas de flor branca, melaço de cana e chocolate ao leite. E mais: acidez láctea, doçura média e corpo macio.
A melhor parte estava no texto da parte traseira da embalagem: “Este pacotinho contém mais do que uma experiência sensorial. Nosso café é selecionado entre parceiros/amigos e torrado por nós com carinho. Acreditamos na agricultura familiar e no comércio justo. Prezamos por cuidado em cada etapa de manejo e preparo. Gostamos de café e de pessoas”.
Em 1999, o diretor canadense Jeremy Podeswa filmou “Os cinco sentidos”, obra que despertou certa polêmica desde o lançamento. Eu vi há alguns anos, mas foi um filme marcante para mim pelo enredo sobre experiência sensorial e os cinco sentidos: tato, visão, audição, paladar, olfato.
O filme traz histórias entrelaçadas, cada uma relacionada a um sentido, mas os personagens vivenciam pequenos dramas, todos relacionados ao misterioso desaparecimento de uma menina. A jovem acompanhante da menina distraiu-se ao assistir uma cena de sexo entre arbustos.
Lembro do médico oftalmologista que ao saber que perderia a audição, começa a montar uma “biblioteca de sons” (visão e audição) para preservar na memória, como o barulho da chuva, a música e voz da filha que mora longe. A mãe da acompanhante que perde a menina é uma massagista solitária (tato).
Há a confeiteira insegura que faz bolos lindos, mas intragáveis (paladar). Numa viagem ela conhece um chef italiano que a perturba com a própria felicidade. A confeiteira conversa com um amigo bissexual que reencontra seus antigos casos, para sentir “o cheiro do amor” (olfato).
O filme conquistou vários prêmios e tenho tentado, até agora sem sucesso, assisti-lo novamente. A coluna de hoje é um incentivo à busca de experiências com os sentidos, sejam elas da natureza física, como contemplar um pôr do sol, sejam com ferramentas digitais como as realidades virtuais e aumentadas.
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