Maya Santana, 50emais
Esta é uma daquelas reportagens que mostram como pessoas que já passaram dos 60 anos estão fazendo para não deixar que a vida termine na aposentadoria. Há tempo suficiente pela frente inclusive para abraçar uma nova carreira. A reportagem mostra alguns exemplos de pessoas que conseguiram se reinventar, começar uma vida inteiramente nova depois da sexta década de vida. Um caso maravilhoso é o das três paulistas, a mais nova tem 78 anos, chamadas de “Avós da razão”, porque usam duas redes sociais, o Instagram e o Youtube, para responder perguntas das pessoas. Elas utilizam seu conhecimento e experiência de vida para atender a um público, que só cresce. Já estão conseguindo até patrocínio. Ou seja, ao mesmo tempo em que se divertem, ganham dinheiro.
Leia a reportagem especial de Clarisse Barreto para O Globo:
Câmera ligada, copos de uísque na mesa, três debatedoras a postos. Por áudio, chega a pergunta de um seguidor do YouTube: “Vocês são a favor da legalização da maconha?”
É Helena quem toma a frente. Cigarro (dos legais) na mão, ela não titubeia: “Eu sou a favor. E é muito gostoso você pegar um cigarrinho de maconha e fumar. Faz bem para o seu espírito, para o seu relaxamento. Eu não tenho dor nenhuma, mas ouvi dizer que é bom para dor.”
Aos 90 anos, Helena Wiechmann comanda desde outubro passado, junto com Sonia Bonetti, 80, e a caçula Gilda Bandeira de Mello, 76, o canal de vídeos Avós da Razão. A dinâmica é simples: uma mesa redonda, drinques, salgadinhos e um mote para debater.
Quando surgiu o programa (produzido por Cássia Camargo, ex-nora de Helena), o tema vinha de amigos no WhatsApp. Hoje, centenas de espectadores garantem dúvidas palpitantes tipo “como era o Carnaval quando vocês eram mocinhas?”, “o que acham de eu ser mãe depois dos 40 anos?”e “como é a vida sexual depois dos 60?” (Resposta de Sonia: “A vida sexual do velho é uma merda”. As outras duas riem e negam veementemente.)
O canal das paulistanas caiu nas graças do pessoal do Youpix, site referência em cultura digital no Brasil. O Avós da Razão foi escolhido junto com outros 59 projetos entre mais de 800 inscritos para participar do projeto de aceleração da plataforma, o Creators Boost — que inclui mentoria, oficinas e encontros de relacionamento.
Veja um dos vídeos delas:
— Tivemos vários projetos feitos por pessoas com mais de 60 anos entre os inscritos — diz Bia Granja, sócia e criadora do Youpix. — Percebemos há algum tempo que parte dessa faixa etária se alfabetizando digitalmente. A demanda e oportunidade de consumo é cada vez maior.
‘Nem sabia o que era blog’
Estamos envelhecendo: em 2039, segundo o IBGE, o Brasil já terá menos crianças que idosos — faixa em que o uso da internet cresce 25% ao ano. Em tempos de busca por representatividade, é natural que os mais velhos queiram se enxergar nas redes — daí o surgimento dos chamados “influenciadores sêniors”.
Em geral, é preciso um empurrãozinho. No caso das Avós, foi a produtora Cássia Camargo que viu o potencial de transformar em vídeo as conversas das amigas há mais de 50 anos.
— Elas chegaram a tentar rádio. Mas havia muito potencial para o vídeo, são muito carismáticas — conta Cássia, comemorando o primeiro vídeo patrocinado. — Vamos monetizar o canal, é devagarzinho. O apoio do Youpix foi muito legal, agora é ver o que acontece.
Para Sueli Rodrigues, o toque veio no trabalho. Su, 70 anos, precisou retirar parte do estômago por conta de um câncer, emagreceu e refez todo o guarda-roupa. Encantada com os looks, uma colega a instigou a criar no Instagram o @blogdasu70, onde posta fotos “provando que estilo não tem idade”. Foi um sucesso: Sueli já saiu de Itu (SP) para participar do “Encontro com Fátima Bernardes” (TV Globo) e amealha 30 mil inscritos, além de patrocínios.
— Eu nem sabia o que era blog, só tinha Facebook e WhatsApp. As pessoas mais jovens gostam do canal e passam para as mães e avó. É super gozado! — conta. — Tem feito um bem danado para minha autoestima. Recebo muito carinho. Isso me faz feliz.
Para Carla Lubisco, 53 anos, formada em educação física, coach de vida saudável e entusiasta do que chama de “novo envelhecer”, a presença digital dos mais velhos só traz benefícios.
— Para os idosos de hoje, ter um canal no YouTube é um novo trabalho. É como mostrar que tem vida pela frente — diz Carla. — Mas tem que ser autêntico, há muita fantasia. É bonito ver nas redes uma pessoa mais velha, mas de verdade, que se alimenta bem, que vai ao médico, que se cuida.
No mundo, o primeiro lugar inconteste entre os influenciadores digitais idosos é de Helen Winkle, americana de 90 anos. No ar desde 2013, seu perfil de Instagram @baddiewinkle (descrição: “roubando seu homem desde 1928”), tem 3,8 milhões de seguidores. Com fotos de looks multicoloridos e ousados, Helen tem patrocinadores como a vodka Smirnoff.
Para Liliane Ferrari, especialista em marketing digital e professora na ESPM e Escola Cuca, mais importante que a idade é o comportamento digital.
— Sigo no Insta a Rogéria Maciel, consultora de estilo para mulheres com mais de 50, porque adoro o jeito que ela se veste — comenta ela, que tem 43. — A tendência tende a aumentar. Queremos ver gente como a gente.
Há espaço para todos na criação de conteúdo para a web, acredita Bia Granja, do Youpix:
— A internet é um lugar para todos, e isso é muito poderoso! Não existe idade para começar um projeto.
Para Liliane Ferrari, especialista em marketing digital e professora na ESPM e Escola Cuca, mais importante que a idade é o comportamento digital.
— Sigo no Insta a Rogéria Maciel, consultora de estilo para mulheres com mais de 50, porque adoro o jeito que ela se veste — comenta ela, que tem 43. — A tendência tende a aumentar. Queremos ver gente como a gente.
Há espaço para todos na criação de conteúdo para a web, acredita Bia Granja, do Youpix:
— A internet é um lugar para todos, e isso é muito poderoso! Não existe idade para começar um projeto.