Maya Santana, 50emais
Quando a gente se debruça sobre os números do envelhecimento no Brasil não há como não se assustar. Em 20150, ou seja, daqui a 30 anos, quase 100 milhões de pessoas no país terão passado dos 50 anos. Em 2060, 25% da população brasileira terá mais de 65 anos. Isso representará uma revolução. E, claro, o país precisa estar preparado para lidar com seus milhões de velhos. Mas não é o que vem acontecendo. “Vivemos um momento contraditório: as políticas são direcionadas para que possamos viver muito, mas, por outro lado, a velhice é abandonada” – é isso o que diz um especialista, lembrando que uma das áreas nas quais é necessário investir é na formação de cuidadores de idosos. Um estudo feito recentemente mostrou que, nos últimos 10 anos, a profissão de cuidador de pessoas mais velhas foi a que mais cresceu.
Leia o artigo de Giulia Granchi para o Uol:
Atualmente, ¼ da população brasileira tem 50 anos ou mais. Essa parcela representa 54 milhões de indivíduos –número duas vezes maior que a população da Austrália. Até 2050, estima-se que 98 milhões de pessoas estejam nessa faixa de idade. Com envelhecimento da população em uma crescente constante, surge a reflexão: quem cuidará desses idosos no futuro?
O Estatuto do Idoso, que se refere a pessoas com mais de 60 anos, prevê ser: “obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.
No entanto, a cultura do cuidado ainda é muito restrita à figura feminina: as mulheres a tomam para si e sentem a pressão de cuidar, além dos filhos, do marido, dos pais e até mesmo dos genros quando chegam a terceira idade. Mesmo na profissão de cuidador, as mulheres representam 96% dos profissionais.
“Precisamos entender que a velhice não tem sexo: é uma condição humana e cada vez será mais estendida. É essencial que os homens façam parte do processo de cuidar, entendendo que não é uma função apenas feminina”, afirmou Marilia Berzins mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP durante o 13º Fórum da Longevidade da Bradesco Seguros realizado nesta quarta-feira (21), em São Paulo.
De acordo com a especialista, para mudar essa cultura, o cuidado masculino deve começar ao compartilhar com a esposa o cuidado dos filhos logo na época do nascimento. “É como um treino, inclusive para a compreensão, de que um dia, ele poderá cuidar da companheira ou dos pais, pois é algo natural da vida”, explica.
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Por fim, Berzins explica que o Estado brasileiro ainda deve proporcionar mais cuidadores de idosos, instituições de apoio e políticas públicas e acompanhem essa mudança populacional nos próximos anos. “Vivemos um momento contraditório: as políticas são direcionadas para que possamos viver muito, mas, por outro lado, a velhice é abandonada.”