Sexo. Um assunto que, inacreditavelmente, em pleno século 21, ainda é considerado tabu, sobretudo se os envolvidos forem pessoas que já passaram dos 50 anos. Mas, aos poucos, isso vai mudando, porque há mais homens e mulheres envelhecendo no mundo. Uma boa parcela da população do planeta já tem mais de 50emais. E os maduros de hoje desmentem aquela crença que sexo vai deixando de ter importância à medida em que a idade avança. “Sexo na maturidade pode, sim, ser o mais quente que você já teve na vida” – diz uma especialista ouvida por Sílvia Ruiz, do blog Ageless, de O Globo, neste instigante artigo.
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A gente aprende desde cedo que sexo e juventude são duas coisas que nasceram para viver juntas. A mensagem é: aproveite enquanto dura, porque lá para uma certa idade a festa acaba. Será? Sexualidade tem prazo de validade? Quer dizer que quem chega aos 45, 50, 60 anos ou mais deveria deixar de vivenciar o que, no final do dia, é um dos pilares da saúde e do bem-estar?
Eu recebo muitas mensagens no meu perfil no Instagram (@silviaruizmanga) falando exatamente sobre isso, principalmente de mulheres próximas da menopausa. Elas se preocupam, sim, em manter uma vida sexual ativa na maturidade, mesmo com algumas transformações físicas que, inegavelmente, acontecem com todos nós nessa fase.
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Por isso resolvi trazer esse tema muitas vezes espinhoso para cá, já que dia 6 de setembro foi o Dia do Sexo (6/9, sacou a mensagem da data?). Conversei com a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, fundadora da Associação Brasileira de Sexualidade (ABS), sobre o assunto. Sexo na maturidade pode, sim, ser o mais quente que você já teve na vida.
“Realmente uma série de mudanças físicas afetam homens e mulheres nessa fase, o que pode trazer alguns incômodos para a vida sexual, mas que podem ser contornados. Por outro lado, vejo mulheres, principalmente, vivendo os melhores anos da sua sexualidade justamente porque finalmente se sentem seguras para experimentar coisas novas. Não devem mais nada a ninguém e querem se sentir satisfeitas”, diz a especialista.
Mudanças físicas – A primeira coisa que a sexóloga recomenda é que se faça uma consulta com o médico para checar os hormônios que, em queda, podem reduzir a libido nessa fase (não apenas das mulheres). Nas mulheres, a baixa do estrogênio pode causar secura vaginal e dores na penetração. Mas para tudo isso há soluções. A reposição hormonal é uma delas, como já falei aqui. Ela pode ajudar muito nesta fase. “É preciso avaliar se há necessidade do uso de medicações ou de lubrificação específica para evitar dores, por exemplo”, diz Carla. Também é bem importante cuidar do sono e combater o estresse, dois inimigos mortais da sexualidade, inclusive em gente jovem (quem é que consegue pensar em sexo quando está cansado?).
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Experimente um lubrificante – Assim como você investe em um bom hidratante para a pele, não há por que se envergonhar de sair da farmácia com um lubrificante (como o conhecido KY) na sacola. Ele pode ser seu grande aliado na cama, e inclusive apimentar a relação. Hoje existem até versões que esquentam as partes íntimas. Há também óvulos vaginais que podem ser receitados pelo ginecologista caso você precise. O importante é afastar a secura da sua vida sexual (reforçando: não há nada do que se envergonhar, é algo que acontece com quase todas as mulheres maduras).
Atividade física – O nosso corpo precisa se sentir “vivo” e em movimento para a gente pensar em sexo. Nesse caso a atividade física é fundamental. Se mexer não só trabalha nossos músculos e o corpo todo, como melhora a autoestima e faz nosso cérebro acordar para a libido. “Nada de viver jogado no sofá, o corpo tem que se sentir em movimento”, diz a psicóloga. Ela recomenda especialmente aulas de dança para quem não é muito fã da academia.
Experimente coisas novas – Eu fiz uma breve pesquisa no meu Instagram e me surpreendi com a quantidade de mulheres que responderam que jamais usaram um brinquedo erótico como um vibrador, por exemplo. Algumas porque tinham vergonha de comprar, outras têm medo de levar o tema para o parceiro (ou parceira) ou mesmo por falta de conhecimento. “Vale muito a pena experimentar coisas novas. O sexo se renova, o cérebro passa a ver o prazer como uma coisa nova”, explica Carla. Outras experiências podem incluir assistir filmes eróticos (sozinho ou a dois), experimentar sexo em um lugar novo (que tal uma noite romântica em um quarto de hotel?).
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Fale sobre o assunto – Aí chegamos na parte que para muita gente é a mais difícil. “Tem mulheres que passam a vida toda não gostando da maneira que o homem mexe nos seios dela, por exemplo, mas nunca conseguiu falar”, diz a sexóloga. Casais mais antigos precisam sentar e conversar sobre o que está faltando. Com calma e longe do quarto. Faltam beijos? Abraços ao longo do dia, elogios sobre a aparência do outro? “É preciso conversar abertamente a dois: onde foi que a gente se perdeu? O que a gente fazia que a gente gostava e parou de fazer com o tempo? Essas são perguntas que os casais devem se responder juntos para trazer de volta o que ficou para trás.”
Conecte-se com seu parceiro/parceira – Se a o parceiro sexual for novo, tudo fica mais fácil, e Carla recomenda que o ideal é colocar na mesa (ou melhor, na cama) logo de cara aquilo que você gosta, não espere para ganhar intimidade para vivenciar as coisas que têm vontade. Comece com o pé direito. “Quem se separou e encontra outro parceiro na maturidade muitas vezes vai viver coisas que jamais havia feito antes, é uma página em branco. Vale viver tudo que sempre teve vontade, colocar as fantasias para fora”.
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Já para os relacionamentos mais antigos, é totalmente possível reanimar as coisas, mas é preciso entender que é um trabalho que o casal vai ter que fazer junto. Conversem a respeito, comecem a marcar hora (literalmente marcar na agenda) para momentos a dois. Quanto mais a gente faz sexo, mais nosso cérebro vai querer repetir a experiência. “Para quem está com a vida sexual meio morna, recomendo começar com uma massagem com gel ou óleos especiais que vão acionar os sentidos”, diz a especialista. Fale de sexo antes dele acontecer, mande mensagens eróticas, estimule seus sentidos. Assim seu cérebro começa a acordar novamente para o prazer. Depois é só relaxar e… aproveitar.
O fato é: sexo pode ser muito melhor quando a gente já está maduro para saber tudo o que gosta e o que não gosta, faz parte do processo de autoconhecimento que a gente ganha com a idade. Pode não ser na mesma quantidade da adolescência, mas certamente pode ter muito mais qualidade. Aproveite!
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