É impressionante como cresce o número de sites prometendo ajudar a manter a mente ativa, impedindo o declínio que vem com a idade. Há um site que até garante que, se você fizer os exercícios que oferece para a mente, vai manter “boa forma cerebral pelo resto da vida”. Seria muito bom se estes exercícios se mostrarem realmente eficazes.
Leia o artigo publicado pelo Uol:
Por uma assinatura mensal de US$ 14,95, o site Lumosity promete “treinar” o cérebro do assinante com jogos concebidos para evitar o declínio mental. Os usuários veem uma sucessão rápida de imagens de pássaros e de números para testar sua atenção, por exemplo, ou passam por um jogo de memória que requer equiparar imagens geométricas cada vez mais complexas.
Embora o Lumosity seja talvez o mais conhecido dos sites de jogos para o cérebro, com 50 milhões de assinantes em 180 países, o negócio do treinamento cognitivo está florescendo. A empresa Happy Neuron, de Mountain View (Califórnia), promete “boa forma cerebral pelo resto da vida”. A Neuronix, de Israel, está desenvolvendo um programa de estímulo cerebral e treinamento cognitivo que a própria companhia define como “uma esperança para os pacientes do Mal de Alzheimer”.
Por séculos os cientistas acreditaram que a maior parte do desenvolvimento cerebral acontece nos primeiros anos da vida; e que, quando chega a idade adulta, o cérebro já se tornou essencialmente imutável. Mas nas duas últimas décadas, estudos científicos constataram que o órgão continua a formar conexões neuronais ao longo de toda a vida. Restam, porém, questões referentes à capacidade de uma intervenção que desafie o cérebro, seja o estudo de um novo idioma ou o ganho associado ao uso de um videogame on-line.
TESTES CONTRADITÓRIOS
Uma série de pesquisas nos últimos anos sugere que certos tipos de treinamento com jogos podem melhorar o desempenho cognitivo. Em fevereiro de 2013, porém, uma análise sobre 23 dos melhores estudos sobre treinamento do cérebro conduzido por Monica Melby-Lervag, pesquisadora da Universidade de Oslo, concluiu que embora os jogadores melhorem seu desempenho, não houve demonstração de que esse ganho de capacidade se transfira a outras tarefas. Ou seja, jogar Sudoku ou um game de memória faz com que a pessoa se torne melhor no jogo, mas não a torna melhor em matemática, ou a ajuda a lembrar onde está
No entanto, há outros estudos mais encorajadores. Em setembro último, a revista “Nature” publicou um estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que mostrava que um jogo de direção melhorava a memória de curto prazo e o foco de prazo mais longo entre os adultos de idade mais avançada.
Em janeiro, o maior teste aleatório de treinamento cognitivo em adultos de idade mais elevada já realizado constatou que os ganhos em termos de raciocínio e velocidade que o treinamento mental propiciava duravam até dez anos. Financiado pelos Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, o estudo de Treinamento Cognitivo Avançado para Idosos Independentes e Vitais (Active, na sigla em inglês) envolveu a participação de 2.832 voluntários com idade média de 74 anos.
No começo deste ano, os Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos solicitaram inscrições para testes do tipo mais rigorosos. Os pesquisadores afirmaram esperar estabelecer um padrão consistente para determinar se uma intervenção de treinamento cerebral funciona.
SER FELIZ
Embora a ciência continue incerta, empreendedores correm para aproveitar uma oportunidade de marketing que parece considerável. Em maio, centenas de pesquisadores se reunirão em San Francisco para a NeuroGaming Conference and Expo, para explorar recentes pesquisas e tecnologias do setor.
Embora não exista risco real em participar de muitos dos jogos de treinamento cerebrais não testados e disponíveis on-line, os consumidores devem saber que não existe veredicto de eficácia.
“Não estou convencido de que exista grande diferença entre pagar US$ 300 a uma empresa de jogos em comparação a você mesmo encontrar coisas desafiadoras a fazer, como aprender um instrumento”, diz Murali Doraiswamy, diretor do programa de distúrbios neurocognitivos do Instituto Duke de Ciências Cerebrais. “Cada pessoa precisa encontrar sozinha o que considera divertido e aquilo que elas preferem manter em suas vidas.”