Nesta quinta-feira, Dia Nacional da Consciência Negra, feriado em algumas capitais, como aqui no Rio de Janeiro, decidi postar este artigo, publicado por O Globo, sobre a mulher de Zumbi, Dandara, “a face feminina” do Quilombo dos Palmares, o mais importante quilombo de todos os criados no Brasil, onde chegaram a viver 30 mil pessoas. Embora Dandara seja mostrada como guerreira e teria, inclusive, lutado contra as forças coloniais, há poucos registros da vida dela.
Leia o artigo:
No dia em que Zumbi teve a cabeça degolada num golpe à resistência negra, um ano e nove meses já teriam transcorrido desde a morte igualmente trágica da face feminina do Quilombo de Palmares, Dandara. Se o herói palmarino hoje é celebrado com o Dia Nacional da Consciência Negra, a história da figura apontada como sua mulher permanece cercada de incertezas, com escassos registros historiográficos.
Relatos dão conta de que a vida de Dandara teve fim em fevereiro de 1694. Ela teria se jogado de uma pedreira ao abismo: uma decisão extrema para não se entregar às forças militares que subjugaram o quilombo, onde chegaram a viver 30 mil pessoas distribuídas em aldeias. Descrita como uma heroína, Dandara dominava técnicas da capoeira e teria lutado ao lado de homens e mulheres nas muitas batalhas consequentes a ataques a Palmares, estabelecido no século XVII na Serra da Barriga, região de Alagoas, cujo acesso era dificultado pela geografia e também pela vegetação densa.
Não se sabe se a mulher de Zumbi nasceu no Brasil ou no continente africano, mas teria se juntado ainda menina ao grupo de negros rebeldes que desafiaram o sistema colonial escravista por quase um século. Ela participava também da elaboração das estratégias de resistência do quilombo.
– Dandara é a mais representativa liderança feminina na República de Palmares. Participou de todas as batalhas, de todas as lutas, de tudo que lá foi criado, organizado, vivido e sofrido. Sabe-se pouco sobre as suas origens: onde nasceu, de onde veio. Alguma literatura diz que ela tinha ascendência na nação africana de Jeje Mahin – afirma a antropóloga Maria de Lourdes Siqueira, professora aposentada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). – Não se conhece a imagem de Dandara mas, pelo seu talento demonstrado, ela é uma mulher forte, bela, guerreira, persuasiva, líder, e obstinada por liberdade. Dandara contribuiu com toda a construção da sociedade de Palmares, e para sua organização socioeconômica, política, familiar.
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Hoje referência no movimento negro e homenageada por grupos feministas, Dandara era também mãe – ela e Zumbi teriam tido três filhos. Além de lutar, participava de atividades cotidianas em Palmares, como a caça e a agricultura. De acordo com Sandra Santos, historiadora e especialista em história e cultura afro-brasileira, no quilombo era praticada a policultura de alimentos como milho, mandioca, feijão, batata doce, cana de açúcar e banana. Os palmarinos conheciam a metalurgia e fabricavam utensílios para a agricultura e a guerra. Trabalhavam também com a madeira e a cerâmica. A palmeira pindoba, cuja abundância na região deu origem do nome do quilombo, era usada na fabricação de óleo, produção de bebidas, cobertura de casas feitas de madeira e tecelagem de cestos e cordas. As atividades se destinavam inicialmente à subsistência, mas os negros rebeldes chegaram a realizar comércio com vilas e engenhos da região. Clique aqui para ler mais.