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Desde o início da Covid-19, os países que melhor têm enfrentado esse gigantesco problema de saúde, que se transformou também num enorme problema econômico, são os dirigidos por mulheres.
Incluindo desde as superpotências como a Alemanha, que tem mais de 83 milhões de habitantes, até a pequenina Islândia, onde moram cerca de 360 mil pessoas.
Desde o início dessa monstruosa encrenca, as primeiras-ministras Angela Merkel e Katrín Jakobsdóttir vêm dando aulas de discernimento, bom senso e iniciativa. Só não colheram 100% de bons resultados porque, neste caso, esse número não existe.
Outras primeiras-ministras que também estão fazendo um grande trabalho são a norueguesa Erna Solberg e a dinamarquesa Mette Frederiksen.
Ainda na política, depois dos quatro anos da invisível Melania Trump trancada dentro da Casa Branca, os EUA voltaram a ter uma primeira-dama, coisa que Jill Biden mostrou ser desde o dia da posse.
Por falar em posse, nesse dia as mulheres brilharam mais do que nunca: filha de mãe indiana e pai jamaicano, Kamala Harris assumiu como a primeira vice-presidente norte-americana da história.
A nova-iorquina Lady Gaga cantou o Hino Nacional; a descendente de porto-riquenhos Jennifer Lopez cantou para os hispânicos; e a jovem californiana Amanda Gorman encantou o mundo: recitou seu magnífico poema, mostrou sua elegante negritude, ostentou seu casaco amarelo da Prada e assumiu sua merecida ambição de um dia presidir o país.
Amanda Gorman, que, assim como a ativista ambiental Greta Thunberg, de pirralha não tem nada, foi convidada para a posse pela primeira-dama, Jill Biden, e usou anel e brincos presenteados pela poderosíssima Oprah Winfrey.
No Brasil, a mulherada também tem brilhado. Desde o início da pandemia, apesar das dificuldades criadas pelo estranhíssimo presidente da República e por seu inacreditável ministro da Saúde, a doutora Margareth Dalcolmo, pneumologista e médica da Fiocruz, tem feito um trabalho notável.
Convém lembrar que a doutora Margareth se destaca entre as inúmeras heroínas de sua atividade. Setenta por cento das pessoas que cuidam da saúde do mundo são mulheres.
Se fosse alemã ou islandesa, doutora Margareth seria ministra da Saúde.
Voltando à política, nas eleições brasileiras de 2020, a indiscutível Luiza Erundina, aos 85 anos de idade, foi a maior responsável pelo surgimento, em São Paulo, de uma jovem liderança política: o filósofo e psicanalista Guilherme Boulos.
No campo do ativismo, Paula Lavigne acentuou sua notável atuação por meio do seu 342 Artes.
Nas lives musicais, Teresa Cristina foi quem mais brilhou, mesclando música da mais alta qualidade com conversas do mais alto nível.
Ainda no campo das artes, a talentosa atriz Bárbara Paz fez um filme sobre seu marido, o diretor Hector Babenco, que por pouco não entrou na lista do Oscar deste ano.
Enquanto, no jornalismo, a competente Patrícia Campos Mello fez uma série de reportagens sobre as fake news no Brasil, foi agredida com mentiras a seu respeito, publicou um corajoso livro chamado “A máquina do ódio” e ganhou o processo que moveu contra um daqueles elementos que fizeram acusações cafajestes a seu respeito.
Não há dúvida de que, como dizia a mitológica Hebe Camargo quando eu era menino, “o mundo é das mulheres”.
Portanto, está mais do que na hora de termos um matriarcado igualzinho ao que os gregos inventaram séculos atrás, só que um pouquinho aperfeiçoado.
Enquanto o matriarcado na Grécia propunha que as mulheres, depois de terem filhos, exercessem posições de liderança e poder, proponho que, a partir de agora, todas exerçam qualquer tipo de poder e liderança, mesmo que ainda não sejam mães.