Ingo Ostrovsky, 50emais
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Tem um verdadeiro genocídio acontecendo no Brasil. Fui aos dicionários para não escrever bobagem e descobri no Aurélio e no Houaiss que genocídio é “o extermínio de uma comunidade”. Pode ser uma comunidade humana, como diz o Aurélio, detalhe omitido pelo Houaiss. Podemos ser criativos e inventar a palavra “jenossídio” para nos equipararmos ao festival de barbaridades que acomete nossa pátria, mas fiquemos com a grafia tradicional, pelo menos por enquanto.
O fato é que morreram ano passado no Brasil mais de quinhentas milhões de abelhas. Vou escrever com todos os oito zeros para vocês terem uma idéia da enormidade que é esse número: 500000000. A maioria dessas mortes aconteceu em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso, regiões responsáveis por grande porcentagem da nossa produção de mel. Dou um exemplo prático desse massacre: na nossa infância, nós, que somos do grupo dos 50e+, abríamos qualquer refrigerante açucarado e em minutos havia uma ou mais abelhas em volta da garrafa. Faça isso hoje e veja se acontece alguma coisa!
As abelhas estão sumindo. É um fim doloroso, parecido com a falta de ar que mata humanos sem oxigênio. As abelhas perdem o sentido de direção, não conseguem mais voltar às colmeias e as que conseguem, me dizem os especialistas, contaminam as colegas e todo mundo morre em questão de horas.
Os apicultores revelam que abelha morta cheira muito mal!
A gente sabe do mel que as abelhas fabricam mas, como se diz por aí, isso é saber da missa a metade. As abelhas são seres de enorme importância na produção de muitos alimentos ao fazerem – bem feitinho, diga-se – a polinização, o transporte de grãos de pólen, que está na origem de muitas das coisas que comemos. O que seria do maracujá, da abóbora, das maçãs, pepinos e tantos outros alimentos se não fosse a polinização das abelhas?
Abelha é vida e alimento.
O vilão dessa triste história é o agrotóxico. As colmeias estão quase sempre nas cercanias de outras culturas – hoje monoculturas – e são afetadas pelos pulverizadores de veneno que sustentam nosso agronegócio. Não podemos esquecer, claro, que o agronegócio é agro mas acima de tudo é negócio.
Não vou me dar ao trabalho de identificar esses bandidos – os agrotóxicos. Quem precisa saber, já sabe de cor e salteado, pois autorizou o uso aqui de substâncias tóxicas proibidas acolá.
Tomate, abacate, goiaba também dependem, em menor escala, da polinização das abelhas. Até o café depende das abelhinhas. Não quer dizer que ele vai desaparecer, mas vai ficar mais caro, vai dar mais trabalho produzi-lo, teremos problemas na hora de “pagar o cafezinho” pros amigos.
Chega de genocídio!
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