Márcia Lage
50emais
A maioria das mulheres que conheço que já ultrapassaram a 60ª barreira da vida está parando de dirigir.
A agressividade do trânsito, a falta de estacionamento nas grandes cidades, as más condições das estradas e a competição assustadora de motociclistas abrindo caminho sob o estardalhaço das buzinas têm assustado as motoristas mais velhas.
E não é por falta de experiência. Tirar a carteira de habilitação e comprar um carro foi um dos mecanismos de igualdade que as mulheres nascidas nos anos 1950/60 usaram para ganhar autonomia e se libertarem da dependência masculina.
Sim, dirigir era coisa de macho. Assim como morar sozinha, trabalhar fora de casa, ganhar salário e entrar desacompanhada em bares e restaurantes.
Até fumar a mulher fumou, convencida pela indústria tabagista que aquilo era um direito e um pé na igualdade de gêneros.
Depois ela caiu em si e hoje fuma menos do que os homens.
Será que a mesma consciência seja a causa do abandono gradativo do volante? Ou é medo?
Depois dos 60 homens e mulheres são acometidos por fobias mais ou menos graves, que os fazem parar de fazer coisas que mais jovens faziam tranquilamente.
Aos poucos vão deixando de sair de casa, de ir a festas, de viajar.
Mas deixar de dirigir é um fenômeno que me pareceu novo e mais frequente em mulheres do que em homens mais velhos.
A Associação Nacional de Medicina de Tráfego tem uma pesquisa que contou 25 8 milhões de mulheres com carteira de habilitação no Brasil.
Dentre elas, 6,8 também são habilitadas a conduzir motocicletas.
Os números são de 2021 e equivalem a 35% do total de motoristas do país.
O mesmo estudo aponta que o grupo entre 51 e 70 anos de mulheres com a CNH em dia ê um pouquinho maior que o da faixa etária anterior. 5,6 milhões contra 5.5 milhões para o grupo entre 41 e 50 anos de idade.
E mais: as mulheres são exemplo de condução segura, mais atentas aos limites de velocidade e mais prudentes na direção, declarou o presidente da associação que coordenou o estudo, Antônio Meira Júnior.
Essa responsabilidade maior para com a condução segura pode ser, também, um dos fatores da desistência.
Ao detectarem os primeiros sinais de catarata, de perda de memória e de atenção, por prudência, as mulheres param de dirigir.
Mesmo que passem nos testes de renovação da carteira. Elas sabem que estão perdendo aptidões.
E tem outro agravante: o econômico. Nessa faixa etária todas as mulheres são aposentadas.
Com o tempo, a inflação vai corroendo seus vencimentos e gastos mais urgentes aparecem, como os cuidados com a saúde.
Manter um carro torna-se dispendioso. Ainda mais com o surgimento dos veículos de transporte por aplicativos (uber, 99 etc.), muito mais em conta.
Essa é a minha conclusão, depois de ouvir as amigas.
Mas a observação merece estudo mais profundo da Associação Nacional de Medicina do Tráfego.
O fato é que, depois dos 60, muitas mulheres estão aposentando a carteira de motorista.
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