Maya Santana, 50emais
Como estamos envelhecendo rapidamente, cada dia vêm surgindo novas teorias de como enfrentar a velhice da maneira mais saudável possível. Envelhecer todo mundo vai. O que conta é forma como se vai viver esta última etapa da vida. Uma das iniciativas para incentivar as pessoas a buscarem um envelhecimento com saúde e disposição, da qual já falamos aqui no 50emais, foi lançada há pouco tempo pelo empresário paulista Abílio Diniz, um homem quase obcecado com a boa forma física. E ele colhe os frutos disso: aos 81 anos, parece bem mais jovem.
Leia sobre a plataforma Plenae neste artigo de Mariza Tavares, de O Globo:
Recentemente, foi lançado um novo portal voltado para a questão da longevidade: o Plenae, uma iniciativa do empresário Abílio Diniz, que, aos 81 anos, não esconde a importância que dá ao assunto. A plataforma pretende atuar em seis frente, os chamados pilares, compartilhando informações e ajudando a promover mudanças de hábitos que resultem num envelhecimento de qualidade. O primeiro pilar é o corpo e, para cuidar dele, simplesmente deveríamos seguir os conselhos de nossas mães: alimentação saudável, boas noites de sono e exercício. Aliás, como pontuou a nutricionista Jeanette Bronée, uma das palestrantes do evento de lançamento: “água, alimento e descanso são fundamentais, mas esquecemos dessas três coisas quando estamos ocupados”. O segundo pilar é o da mente, que engloba o autoconhecimento, uma relação sábia com o estresse – ou seja, como saber dar uma “pausa” nele – e a aprendizagem, que mantém o cérebro ativo.
As relações correspondem ao terceiro pilar, que inclui afetividade (relacionamentos estáveis fazem bem à saúde), família e amigos e a vida em comunidade, evitando o isolamento. No quarto pilar está o espírito, que não significa seguir uma religião, e sim abrir espaço para a fé, meditação e contemplação. Contexto é a quinta frente e reúne educação, economia e renda e o ambiente no qual se vive. Por último, o propósito seria o pilar que amarra todos os outros – algo equivalente aos que os japoneses chamam de ikigai, palavra que pode ser traduzida como “uma razão para sair da cama de manhã” e que já foi tema deste blog.
Uma das participações mais interessantes no lançamento do Plenae foi a de Ellen Langer, professora de psicologia na Universidade de Harvard. Segundo ela, estamos desatentos durante quase o tempo todo, ignorando o que chama de “poder das possibilidades”: ver as coisas de forma diferente e viver de uma forma mais plena. “Quando temos dúvidas, ou quando desconhecemos algo, prestamos atenção. No entanto, no dia a dia, acabamos confiando em antigas perspectivas do passado, em regras que não fazem mais sentido, e isso nos torna desatentos às possibilidades que temos à nossa volta. Reconhecer que a estabilidade é uma ilusão pode abrir portas para o crescimento e novas oportunidades”, afirmou.
O que fica claro é que boa parte da construção de uma velhice saudável depende de nós, de decisões e costumes que deveríamos seguir desde cedo. É grande o desafio de buscar o equilíbrio entre tantas variáveis, mas talvez uma das tarefas mais difíceis seja alimentar um propósito, um significado para nossas vidas até o fim. O interessante é que isso não depende tanto das condições socioeconômicas: idosos de baixa renda e até com dificuldades de saúde podem estar muito mais bem “equipados” nesse pilar do que outros com trajetórias bem-sucedidas. Gosto muito de uma palestra que a atriz Jane Fonda, atualmente com 80 anos, deu em 2011. Na época, ela renomeou o que conhecemos como terceira idade como “terceiro ato da vida”. E no que consistiria? Uma oportunidade única, enfatizou: “estamos vivendo em média mais 34 anos que a geração de nossas bisavós, mas ainda nos deparamos com o velho paradigma de que a vida é um arco, onde depois do apogeu temos apenas o declínio da decrepitude. No entanto, esses últimos 30 anos de vida têm seu próprio significado, e todos deveríamos estar nos perguntando como usar esse tempo. Eu acredito que a metáfora apropriada é a de uma escada, que ilustre a ascensão para o topo do espírito humano, porque esse não tem limites, mesmo diante de condições adversas. Talvez a tarefa do terceiro ato seja dar acabamento a nós mesmos. Quando me aproximava dos meus 60 anos, senti enorme necessidade de revisitar minha trajetória. Descobri que muitas características e falhas que achava que eram minhas não eram, na verdade. Essa é a oportunidade de você se perdoar, perdoar os outros e se libertar”.