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Miriam Moura
50emais
Falar em desconexão de relações pessoais em um mundo marcado pela hiperconexão pode soar contraditório, mas os fatos provam que não há incoerência. Hoje são cerca de 4,8 bilhões de pessoas usuárias da internet que passam horas diárias em dispositivos digitais consumindo conteúdos de entretenimento, falando, discutindo, brigando e compartilhando sentimentos, alegrias e anseios. Mas a definição é que este é o século da solidão, um período antissocial.
Em meio à tanta fragmentação, é tempo refletir sobre a necessidade de restabelecer nossas conexões interpessoais. A pandemia da Covid-19 nos impôs um longo período de distanciamento social, mas é hora de reaprender a se reconectar e a valorizar momentos de trocas, sejam esses presenciais ou virtuais.
Talvez muitas pessoas não tenham ainda se dado conta de como os hábitos mudaram em cadeia global com a pandemia. Este é o tema de matéria na revista cultural americana The Atlantic, cuja leitura me levou a refletir sobre a questão.
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Publicado na editoria de Ideias, sob o título “O século antissocial”, o texto aborda diversos aspectos dessa realidade, e informa que os americanos estão passando mais tempo sozinhos do que nunca. “Isso está mudando nossas personalidades, nossa política e até mesmo nossa relação com a realidade”, afirma o autor, Derek Thompson, redator da revista.
Como muitos brasileiros e pessoas no mundo, moro sozinha há muitos anos, isso nunca foi motivo de frustração para mim. Mas gostaria de conversar sobre a dimensão coletiva do século antissocial e os impactos que isso pode trazer para sociedades de qualquer parte do planeta.
A coluna de hoje é um convite para estimular hábitos de quando a convivência social era padrão: época em que o olho no olho, cadeiras na calçada e encontros na rua levavam a uma boa prosa casual. É uma oportunidade para relembrar o hábito de conviver, de trocar experiências, de ouvir, de escutar, de prestar atenção no outro, de intensificar nossas conexões interpessoais.
No livro “O século da solidão”, a escritora Noreena Hertz diz que “os laços da comunidade estão se desfazendo, colocando sob ameaça nossos relacionamentos pessoais”. Entre as causas, ela aponta a tecnologia, o desmonte de instituições civis, a reorganização do local de trabalho, a migração em massa e políticas que colocam o interesse próprio acima do bem coletivo.
“O século da solidão não é apenas a dor emocional que chamamos de solidão; é, principalmente, sobre a fragmentação da comunidade”, define a autora, que apresenta uma solução esperançosa para fortalecer a cura de comunidades fragmentadas. Ela menciona opções como uma nova concepção e usos diferentes da inteligência artificial a modelos inovadores de vida urbana, além de maneiras de revigorar áreas da cidade para reconciliar diferenças.
O texto na revista The Atlantic traz informações e dados profundos e menos alentadores, o que mostra a importância de uma reflexão sobre o tema e a necessidade de buscar caminhos que levem a uma ressocialização saudável e positiva. Sair do conforto isolacionista pode ser promissor e proporcionar bons reencontros. Um bom começo é voltar a olhar para o lado, seja para o vizinho do prédio, ou seu colega de trabalho.
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