Ingo Ostrovsky
50emais
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Meu senhor, minha senhora, trago novidades: a falta de educação está na moda!
Ser mal educado hoje em dia é “in”. Serve de escada para subir na vida, garante até uns trocados se fôr uma falta de educação federal, imune à sanha dos precatórios, por exemplo. Suas excelências lá de Brasília não são analfabetos. Educação, entretanto, é outra coisa, cada vez mais rara no Brasil de hoje.
Houve um tempo em que educado era o sujeito que frequentava as salas de aula. E se dizia que a falta de educação era endêmica e só teria fim quando todas as crianças pudessem ter uma professora – ou um professor. Esquece. Os mal educados com diploma já superam os mal educados sem escola. Dá uma voltinha na sua cidade e comprove.
Aquele motorista que liga o pisca-alerta e interrompe o tráfego na avenida sem a menor cerimônia estudou em Harvard e tem um belo salário. Pode ser também que ele “diga” que estudou em Harvard, mas na verdade estudou em Arvar e falsificou o diploma americano, o que, noves fora, dá no mesmo: tem escolaridade mas não tem educação.
Ande mais um pouquinho. Veja se consegue passar pela calçada tomada por carrinhos de super-mercado que o gerente diplomado da loja mandou colocar ali, doa a quem doer. A cadeira de rodas ou mesmo uma senhora que só se movimenta de braço com a acompanhante, não consegue passar. Educado esse gerente? Tem segundo grau completo, mas não tem educação.
Vamos em frente: dobre a esquina, olha que bicicleta linda, importada, deve custar uma fortuna. É pilotada por um jovem operador do mercado financeiro. Viu como ele trombou com a velhinha em cima da calçada? Pois aconteceu e ele nem parou para saber se ela se machucou ou precisa de ajuda. Ela se machucou e precisou de ajuda! Moço educado em boas escolas. Mas sem educação!
Os exemplos abundam. No auge da pandemia as cidades estavam vazias, os poucos circulantes se comportavam como queriam, já que havia pouca gente na rua. Agora que as coisas assumem uma certa normalidade, a falta de educação aparece com mais frequência, o povo “não está nem aí” para o outro, para o vizinho, para o cidadão ao lado.
A coisa piora a cada dia. Não se respeita mais sinal vermelho. Carros e motos circulam na contra-mão. Faixa de pedestre virou vaga de estacionamento. Essa semana parei numa esquina e fiz sinal para um pedestre passar… ele ficou assustado, fez cara de surpresa e saiu correndo… achou que eu era um marginal.
Provavelmente sou.
Temos um ministério da educação que não dá conta do recado, não educa. Será que deveríamos ter um ministério do comportamento?
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