Lucy Borges, 47, com sua elegância natural, talvez tenha nascido para ser modelo. Foi descoberta aos 15 anos por um olheiro. Aos 17, trocou o Brasil pela França e a carreira deslanchou.
Este artigo de Marcia Disitzer para O Globo conta que Lucy, de volta ao trabalho de modelo, depois de 15 anos fazendo outras atividades, tem o “corpo saudável esculpido na ioga, que pratica religiosamente todos os dias desde os 40 anos, irradia naturalidade, a tal da elegância sem esforço.”
Muitas mulheres dessa faixa etária escrevem para o 50emais falando do sonho de se tornar modelo. Lucy representa a concretização desse sonho – uma modelo que se tornou madura e continua dando certo.
Ela já trabalhou para estilistas de ponta, como Karl Lagerfeld, Ungaro e Azzedine Alaia. E, nessa nova fase, tem sido cada vez mais requisitada, porque, aos poucos, o preconceito de idade, antes tão forte nesse tipo de carreira, vai sendo vencido.
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Em junho deste ano, a modelo Luciana Borges, de 47 anos, decidiu fazer, pela primeira vez, o caminho de Santiago de Compostela. Partiu sozinha para a trilha em busca de fé, autoconhecimento e superação. “Ficaria um mês sem trabalhar, a não ser que acontecesse algo de extraordinário.” Aconteceu.
Na metade da rota, o celular tocou. “Era a minha agente de Paris, falando que tinha uma foto para a Cartier. Não poderia abrir mão”, conta. Luciana interrompeu o percurso espiritual do jeito que estava. Pegou um trem, depois um carro e, na sequência, um avião até chegar à Cidade Luz com a mochila de peregrina grudada nas costas. “Depois retornei para o ponto da caminhada em que tinha parado e prossegui. Andei 890 quilômetros.”
Essa história ilustra bem a personalidade destemida de Lucy, como é conhecida. Na segunda fase de sua carreira na moda, reiniciada em 2020 — antes, trabalhou dos 17 aos 30 anos como modelo —, a carioca de Laranjeiras dribla o etarismo e dança conforme a nova música que ecoa no mercado. “Encontrei um cenário mais inclusivo e cuidadoso, com pessoas diversas, tal qual o mundo real. Antigamente, vivíamos no planeta do Ken e da Barbie, superfake”, compara.
Luciana foi descoberta por um olheiro no meio da rua, começou a modelar aos 15 anos e aos 17 partiu, de mala, cuia e autorização dos pais, para a França. “Acabei morando em Paris por anos e me casei com um alemão desconstruído, Werner Busen, que também era modelo. Aos 26, tivemos a nossa filha, Gabriela”, relata. A top, Werner e Gabriela não pararam mais: moraram na Alemanha, na Itália, nos Estados Unidos e em Saquarema.
Antes do fenômeno Gisele, ela já tinha riscado a passarela de nomes como Karl Lagerfeld, Ungaro e Azzedine Alaïa. “Vivi a época das supermodelos, de Linda Evangelista, Naomi Campbell e Claudia Schiffer. Nessa fase, todos eram podados. Uma modelo de 16 anos que pesasse 60 quilos era considerada gorda. Uma loucura”, lembra. Além de desfiles para grifes de prestígio, encontrou em catálogos comerciais uma fonte de estabilidade financeira: “Virei a preferida dos alemães. Com esse dinheiro, comprei meu apartamento em Paris”, recorda-se.
Aos 30 anos e com uma filha pequena, desviou, naturalmente, o foco da moda à medida em que os convites iam cessando. “Uma modelo de 27 anos, naquele tempo, era considerada velha.” Na década seguinte, montou com o marido uma empresa de reformas de casas e tornou-se designer de interiores.
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Em 2020, separada de Werner e com a filha Gabriela independente, Lucy inaugurou um novo capítulo da vida. Parou de pintar o cabelo, que ganhou mechas brancas (“tenho fios grisalhos desde a adolescência e comecei a tingi-los aos 15”) e passou a chamar a atenção de bookers internacionais. O corpo saudável esculpido na ioga, que pratica religiosamente todos os dias desdeos 40 anos, irradia naturalidade, a tal da elegância sem esforço.
As portas se abriram novamente, e ela entrou. “É uma das coisas que sei fazer de melhor.” O badalado agente de modelos Sérgio Mattos a acompanha desde o início: “Já fazia sucesso internacional nas revistas e passarelas. Agora, na fase madura, continua com muito borogodó e inspira outras mulheres no Brasil e no mundo”. Para Felipe Veloso, que assina o styling dessas fotos, Lucy é dona de uma beleza potente. “É uma mulher linda que representa uma mulher e não mais uma menina fazendo isso.”
A modelo se divide entre Milão e Rio. Instalou-se num apartamento no Jardim Botânico, onde pretende passar todo o verão. “Caminho para as cachoeiras do Horto e para a Praia do Leblon. Medito e contemplo as montanhas, uma obra divina dentro da cidade.” Gosta de roupas largas, nada que aperte. “Eu me achava básica, mas venho me identificando, cada vez mais, com a estética hippie. Adorei as peças coloridas deste ensaio, tem tudo a ver comigo.”
Não é adepta de tratamentos estéticos e, apenas uma vez, colocou botox no rosto. Segue a dieta vegetariana e tem uma relação de amor com o sol. “Depois da sessão de fotos no Arpoador, passei filtro solar fator 70 e fiquei torrando na areia”, confessa. O top maquiador Claudio Belizario ressalta a sua alegria de viver. “Além da beleza e da sofisticação, ela é positiva e traz muita luz”, observa.
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A passagem do tempo é encarada de frente. “O corpo vai se deteriorando, isso é fato. Mas acho tão bonito o processo de ficar mais velha, de ver o cabelo se tornar branco. Na vida amorosa, graças à maturidade, há uma evolução. É possível reconhecer outras formas de afeto, não mais aquela em que é necessário ficar do lado da pessoa o tempo inteiro.”
Outro dia, durante um trabalho, um modelo de cerca de 20 anos perguntou a sua idade. “Respondi que tinha 47. Ele respondeu: ‘Nossa, mas você tem tanta vida’. Fiquei pensando naquilo, achei forte. A gente poder ir ‘morrendo’ em qualquer idade. Basta se aprisionar a padrões impostos”, reflete.
Ensaio:
Beleza: Ana Thorelly. Assistência de fotografia: Luisa Gallo Sidi. Assistência de styling: Carol Sofia. Assistência de beleza: Heloísa Coutinho. Produção Executiva: Christiano Mattos. Agradecimentos: Hotel Arpoador e Body Guard.
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