Miriam Moura
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O mestre Antonio Houaiss começa as definições sobre a palavra amizade como sendo um “sentimento de grande afeição, de simpatia, não necessariamente unido por parentesco ou relacionamento sexual”. No dicionário constam vários outros sentidos do termo, relacionados com apego, respeito, acordo.
Gosto muito da definição “reciprocidade de afeto”, pois é assim que percebo a amizade que tenho com tantas pessoas incríveis, generosas, afetuosas, que me proporcionam momentos de convivência preciosos.
Ter amigos é ser afortunado, dizem muitos sábios, com os quais concordo inteiramente. E acrescentaria que saber cultivar boas amizades é sabedoria, porque se amizade é um bem precioso, temos que cuidar, preservar, alimentar, nutrir, retribuir, usufruir, valorizar, regar, escolha você o verbo que lhe parecer mais adequado.
O tema da coluna de hoje é porque entre os prazeres da vida, o da amizade é muito presente na minha. Sou grata pelas oportunidades que sempre tive de possuir amigos de vida inteira, de fazer novos amigos, de valorizar o bem da amizade, de tentar sempre me colocar no lugar de um amigo (@) e procurar ver se há algo que eu possa oferecer.
O vocábulo amizade tem inserção na filosofia. No trabalho acadêmico “A ética da amizade e suas contribuições na relação professor-aluno”, Mateus de Freitas Carvalho e Alonso Bezerra descrevem que, em termos linguísticos, a filosofia emanou de uma relação com o conhecimento e a amizade. A palavra filo é oriunda da amizade (philia) e sofia (sophía, sabedoria. “A atividade que aproxima a amizade da sabedoria é a filosofia, que foi construída por meio do exercício de dialogar e interrogar”, ensinam.
No livro “Sobre a amizade e outros diálogos”, o escritor argentino Jorge Luis Borges compartilha reflexões sobre o tema com o jornalista Osvaldo Ferrari e faz analogia entre o sentimento de amizade e do amor. Borges diz que o relacionamento de amor é vulnerável, por exigir contínuas confirmações.
“Se não houver confirmações, há dúvidas, e se alguém passar uns dias e não sabe nada dela, se desespera. Por outro lado, alguém pode passar um ano sem saber nada de um amigo, e isso não tem nenhuma importância”. Para o genial Borges, a amizade é um estado sereno, “podemos ver ou não ver, saber ou não saber o que o outro faz”.
Há centenas de poemas celebrando a amizade, vou citar dois que gosto muito, como os versos finais de Vinícius de Moraes, no “Soneto de Amigo”, em Antologia Poética: “O amigo: um ser que a vida não explica / Que só se vai ao ver outro nascer / E o espelho de minha alma multiplica…”
Gosto muito também da ironia fina do poeta gaúcho Mário Quintana, no Caderno H, ao comparar os dois sentimentos: “Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo. Amor: quando o silêncio a dois se torna cômodo.”
Está entre as minhas “resoluções de início de ano” ampliar o tempo dedicado a todos os meus amigos e amig@s: conviver mais com os que estão perto e escrever mais DMs (mensagens diretas) aos que estão distantes fisicamente.
Para concluir, é claro, não poderia deixar de citar os tão cantados versos de “Canção da América”, de Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar / Debaixo de sete chaves / Dentro do coração / Assim falava a canção que na América ouvi / Mas quem cantava chorou / Ao ver o seu amigo partir”.
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