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A cara do Brasil

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A capa da mais recente edição da Economist, revista britânica: A década sombria do Brasil

Ingo Ostrovsky, 50emais

Pense um pouco: qual é a imagem que simboliza o Brasil? A garota de Ipanema? O Pão de Açúcar? O Corcovado? A camisa da Seleção? O MASP na Avenida Paulista? A Amazônia exuberante? A Amazônia em chamas?

Dois fatos da semana me chamaram a atenção para esta dúvida.

Um deles foi o debate sobre a apropriação da “amarelinha” por uma facção política, a que apoia o atual ocupante da Presidência do Brasil. Usei muito a camisa amarela da seleção, chorei abraçado nela, pulei de alegria em inesquecíveis vitórias, tive o privilégio de ver, no estádio, o nosso “escrete” ganhar duas das 5 estrelas bordadas acima do escudo da Confederação. Em viagens de lazer para o exterior sempre levava uma na bagagem. Não foram poucas as ocasiões em que tomei uns tragos em bares internacionais vestindo – sempre com um sorrisinho de superioridade – a camisa que foi de Pelé, Garrincha, Jairzinho, Romário, Ronaldo e tantos outros campeões. Gritei muito ‘é tetra’!. Depois berrei bastante ‘é penta’!

Hoje não me atrevo a ir até a esquina de camisa amarela. Uso a minha escondido em casa, às vezes para dormir e sonhar com bom futebol. Virou símbolo político. E eu não quero ser identificado politicamente por estar usando um ícone dos estádios, uma camisa de futebol, apenas isso. Há opositores do atual ocupante do palácio do Planalto sugerindo que a seleção deixe de usar a camisa amarela… Como escreveu um cronista esta semana, essa camisa já fez policial abraçar bandido, comunista abraçar fascista, branco abraçar negro, rico abraçar pobre. Quero esse tempo de volta!

Outro dos nossos símbolos nacionais cruzou o mundo esta semana, o Cristo Redentor no Corcovado. Foi na capa da revista britânica The Economist, numa reportagem nada elogiosa sobre o atual momento político e econômico do nosso país.

A Economist é uma das mais tradicionais publicações do Reino Unido. Seu primeiro número circulou em setembro de 1843, 177 anos atrás. Sempre foi uma publicação conservadora, defende o capitalismo e a livre iniciativa. Virou referência no mundo editorial por privilegiar o bom texto. Ganhou o respeito de leitores de todas as tendências ao apostar na criatividade do jornalismo. Em 1986, por exemplo, para explicar as inúmeras teorias sobre política cambial a revista criou o Índice Big Mac. Trata-se de uma ferramenta usada até hoje, que compara o preço do mais famoso sanduíche da cadeia mundial de hambúrgueres em várias cidades do mundo, oferecendo assim um parâmetro para comparar moedas e salários. Dois anos atrás, a revista usou o mesmo método numa reportagem sobre o aumento da prostituição on-line pesquisando o preço de um “boquete” em várias capitais da Europa.

Foi a quarta vez que o Redentor apareceu na capa da Economist. A primeira, em 2009, nos encheu de orgulho. O Cristo era retratado como um foguete prestes a subir e alcançar patamares nunca imaginados por nossa gente bronzeada. O Brasil ganhara o direito de sediar a Olimpíada e a Copa do Mundo, convencendo a comunidade internacional de que aqui havia gente séria e um projeto de país. Quatro anos depois, em 2013, o foguete estava desgovernado e a capa da revista perguntava por que o Brasil tinha se dado mal. Depois, em 2016, o Redentor ostentava uma plaquinha de SOS pedindo socorro ao mundo.

Esta semana, nosso Cristo aparece na capa da revista usando uma máscara acoplada a um tubo de oxigênio, uma ironia sem dúvida, pois tanto nós quanto a revista sabemos que oxigênio está em falta – e não é por falta de aviso.

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