Maya Santana, 50emais
Três cidades brasileiras vivem agora o que muitas outras vão viver a partir de 1931: a população idosa cresceu de tal forma que a Prefeitura desses municípios já gastam mais com a parcela mais velha ddos moradores. São eles, Santos e São Caetano do Sul, em São Paulo, e Niterói, no Rio de Janeiro. Estudos mostram que, em 13 anos, o Brasil terá mais pessoas com idade acima dos 60 anos do que crianças e adolescentes. Com esse aumento da população envelhecida tudo tem que ser repensado: o sistemas de saúde, a mobilidade urbana, lazer e volta ao mercado de trabalho. O título original dessa reportagem de Elisa Martins e Daiane Costa, para O Globo, é “O que temos a aprender com as cidades que já envelheceram.”
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A realidade de Niterói, no Grande Rio; Santos, no litoral paulista; e São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo permite antecipar os desafios do envelhecimento da população que serão enfrentados por outras cidades a partir de 2031, quando o país todo terá mais idosos que crianças e adolescentes. Essa inversão já pressiona as administrações (e os orçamentos) das três cidades a desenvolver políticas diferenciadas para um público que se afasta cada vez mais do estereótipo de recluso ou sedentário. Os principais problemas — e soluções — aparecem na saúde, mobilidade urbana, lazer e reinserção no mercado de trabalho.
Com a alta concentração de cabeças brancas e suas aposentadorias, essas cidades têm em comum um PIB per capita relativamente mais alto que a maioria dos municípios brasileiros. Isso colabora para que elas sejam detentoras dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHM) no país, indicador que considera os níveis de longevidade, educação e renda. As três cidades também apontam para o sucesso de políticas de longo prazo, independentemente de mudanças administrativas.
Pequeno município do ABC paulista, São Caetano do Sul tem o melhor IDHM do Brasil desde que o levantamento começou a ser feito, nos anos 1990. Assim como Niterói e Santos, o envelhecimento da população obriga a cidade a gastar mais com a saúde dos idosos que com a educação dos jovens. A Secretaria Municipal de Saúde fica com a maior fatia do orçamento de São Caetano: 27%. Segundo a titular da pasta, Regina Maura, pelo menos metade dos recursos são consumidos na atenção aos idosos.
Para lidar com essa pressão orçamentária, a cidade escolheu investir também em atividades preventivas. Os cerca de 33 mil idosos da cidade contam com quatro Centros Integrados de Saúde e Educação (Cises), que consome cerca de R$ 20 milhões por ano com aulas de dança, esportes, informática e idiomas. A cidade quer abrir mais dois até 2019.
— A exigência dos idosos é alta. Quando se criou a UniMais, a universidade da terceira idade, por exemplo, os cursos durariam dois anos. Mas, quando acabaram, eles quiseram pós-graduação — conta a secretária.
A aposentada Maria Palko (a idade é mantida em segredo por ela) era uma das poucas mulheres na quadra de bocha em um dos Cises de São Caetano na última semana. Joga praticamente todos os dias, quando o joelho permite, enquanto o marido disputa partidas de baralho em outra sala.
— Venho aqui, jogo uma partida, bato papo… tenho marcapasso, não posso abusar. Mas não vou fazer como muita gente, que fica só em casa esperando a morte chegar — conta ela, que nasceu na vizinha Santo André e mora em São Caetano há mais de 40 anos.
Maria diz que “até quando der” vai aproveitar as atividades dos Cises. Espera ansiosa voltar a ser chamada para dar aulas de pintura no centro – as aulas foram canceladas, diz ela. Fora dos Cises, há alguns equipamentos adaptados de ginástica em praças e parques da cidade. Em um deles se exercitava o aposentado Osvaldo Rodrigues Negro, de 72 anos.
— São Caetano sempre foi boa para os mais velhos. Mas a marcação de consultas tem demorado mais, e o acesso a remédios poderia melhorar — opina ele. Clique aqui para ler mais.