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Maya Angelou é um exemplo extraordinário de superação. Negra, de família pobre, nascida no estado de Missouri, no meio-oeste americano, no século passado, ela foi estuprada ainda bem criança. O autor do estupro, o namorado da mãe, foi assassinado. Ou seja, para a menina, dupla violência. Como foi que ela reagiu a isso? Passou muitos anos muda. Não pronunciava uma única palavra. Buscou refúgio nos livros, que devorava. Mais tarde, escreveu os próprios livros, porque Maya Angelou era muitas: Cantora, atriz, condutora de bonde, editora de revista, professora e pesquisadora, ativista racial, escritora e poetisa. Tinha tanto prestígio que foi convidada por Bill Clinton a ler um poema na cerimônia de sua posse. E outro presidente, Barak Obama, condecorou-a com a mais alta honraria concedida pelo governo americano: a Medalha Presidencial da Liberdade. É essa mulher fenomenal que vai estampar, pela primeira vez na história, a moeda americana de 25 centavos de dólar, conhecida como “quarter.”
Leia mais sobre Maya Angelou nesse artigo de Ruth Pina para o Uol:
Cantora, atriz, motorista de ônibus, editora de revista, professora e pesquisadora. Além de tudo isso, agora, a escritora e poetisa americana Maya Angelou torna-se também a primeira mulher negra a estampar uma moeda nos Estados Unidos.
Na segunda-feira (10), a Casa da Moeda dos Estados Unidos anunciou que a moeda de 25 centavos será cunhada com o rosto de Angelou, importante nome do ativismo pelos direitos civis e pela igualdade racial no país.
Morta aos 86 anos em 2014, criou uma escrita que rompe o estabelecido, em que desafiou a estrutura das autobiografias e expandiu o gênero literário. Seu livro de estreia, o autobiográfico “Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola”, de 1960, foi uma das primeiras produções autobiográficas de mulheres negras a atingir um público massivo de leitores.
A escritora sempre abriu novos caminhos para mulheres negras. Em 1993, recitou o poema “No Pulso da Manhã”, na posse do presidente Bill Clinton. Foi primeira vez que uma mulher apresentou um poema na cerimônia.
Também foi condecorada em 2011 pelo presidente Barack Obama com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria concedida pelo governo americano a ativistas pelos direitos civis.
Ela não chegou a se formar em uma universidade, mas era conhecida como “doutora Angelou”. Também foi indicada ao prêmio Pulitzer, o maior reconhecimento da literatura, na categoria poesia, em 1971.
Abuso sexual aos oito anos e alívio do trauma na literatura
Marguerite Annie Johnson nasceu em St. Louis, Missouri, em 4 de abril de 1928. Foi a segunda filha de um porteiro e de uma enfermeira. Após a separação de seus pais, foi criada pela avó paterna.
Aos oito anos, foi estuprada pelo namorado de sua mãe. A menina denunciou o abuso à família e o homem foi julgado, mas condenado a apenas um dia de prisão. Quatro dias depois, o agressor foi morto após ter sido espancado, e a suspeita é que os autores do homicídio seriam tios de Angelou.
O abuso sexual e a culpa desencadearam um mutismo em Angelou, que durou quase cinco anos. “Minha voz o havia matado; eu matei aquele homem porque disse seu nome. E depois pensei que nunca mais voltaria a falar, porque minha voz poderia matar qualquer um”, escreveu anos mais tarde.
O fardo do período, em que desenvolveu amor pelos livros, foi aliviado pela literatura. Em sua escrita de libertação, a autora elaborou traumas do racismo, e também observou temas como identidade e família.
Começou a trabalhar desde muito nova, realizando diversos trabalhos. Aos 18 anos, foi a primeira motorista de ônibus da cidade de São Francisco.
Após escrever o primeiro livro de memórias, que ganhou uma adaptação em 1979 para televisão roteirizada pela própria autora, Angelou produziu seis volumes seguintes de sua autobiografia, até 2002. O último livro dessa série de obras autobiográficas, “Mamãe & Eu & Mamãe”, foi lançado em 2013, um ano antes de sua morte em Winston-Salem, na Carolina do Norte, EUA.
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De Malcolm X a Oprah Winfrey
De Malcolm X a Oprah Winfrey, a escritora cultivou amizades em sua vida e foi amiga dos maiores líderes negros do século 20, como James Baldwin e Martin Luther King Jr.
Com esse último, trabalhou nos anos 1960 como coordenadora da Conferência de Liderança Cristã Sulista — organização pelos direitos civis afro-americanos fundada em 1957 por ele.
A escritora também acompanhou o processo de independência de países africanos, momentos em que viveu no Cairo, no Egito, e em Acra em Gana, onde foi editora do jornal “The Arab Observer”. Foi neste período em que conheceu Malcolm X e Nelson Mandela.
Mulheres celebradas
Maya Angelou é homenageada na moeda americana como parte do programa American Women Quarters (“quarter” é o nome da moeda de 25 centavos nos EUA).
Além dela, a iniciativa também inclui a astronauta Sally Ride, primeira mulher americana a ir para o espaço, e Anna May Wong, primeira estrela de Hollywood sino-americana.
A primeira mulher a aparecer em uma moeda nos Estados Unidos foi a rainha Isabella da Espanha, que foi também homenageada em uma moeda de 25 centavos em 1893, em uma exposição em Chicago. Já Susan B. Anthony foi a primeira mulher a aparecer em uma moeda em circulação nos EUA, em 1979.
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