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Uma linda história de amor, unindo uma brasileira, Mary Porto, e um suíço Raymond Widmer, que merece ser contada e recontada,. Os dois se conheceram em 1958. A vida acabou levando ambos por caminhos diferentes. Até que, mais de cinco décadas depois, se reencontraram e perceberam que o amor da juventude permanecia intacto. “Pensam que na velhice não se fala mais de amor, não se fala de sexo, que ser feliz é só para os jovens. Mas não é,” diz ela. Hoje, alegremente apaixonado, o casal divide seus dias entre o Brasil e o país europeu.
Leia a reportagem de Ana Lourenço para o Estadão:
No mesmo ano em que o Brasil ganhava a primeira Copa do Mundo na Suécia, ali perto, na Suíça, Mary Porto encontrava o “seu bilhete de loteria”, também conhecido como Raymond Widmer. A história de amor que começou em 1958 foi retomada 55 anos depois, com uma carta que avisava que o amor nunca foi esquecido. Mary entrou em um avião e decidiu se jogar no reencontro-surpresa. “Eu realmente acho que foi um milagre o que aconteceu para nós”, diz ela.
Hoje, depois de três filhos, oito netos e três casamentos, Mary e Raymond se dividem entre o Brasil e a Suíça e só têm um combinado para garantir a felicidade plena: não fazer planos para o futuro. “Nosso combinado é viver o hoje, felizes e juntos. O amor não envelhece, ao contrário, é a fonte da eterna juventude.”
“Sempre fui muito namoradeira, mas à moda antiga. Não como é agora. A gente dançava, conversava, era algo muito delicado”, lembra a terapeuta artística Mary Porto. Decidida, bem-humorada e eterna romântica, ela teve uma vida de aventuras e amores, muito graças à sua boa autoestima. “Mas quando a autoestima é muito forte, a pessoa vira revoltada. Sempre tive meu jeito e minhas ideias próprias”, conta ela que, de fato, foi atrás dos sonhos desde pequena.
Aos 18 anos, quando acompanhava o pai, que foi trabalhar na Bélgica, Mary se inscreveu em uma escola de artes em Lausanne, na Suíça – ainda que estivesse apreensiva por ficar sozinha em um outro país pela primeira vez. “Na secretaria, enquanto me apresentava no instituto, um rapaz bonitão não parava de me olhar. Eu não dei atenção, porque estava nervosa, focada, mas depois desse dia, comecei a perceber que por onde eu ia tinha aquela figura risonha me olhando. Tomei coragem e o chamei para um café.”
A figura era Raymond Widmer, um suíço de Neuchâtel, que, aos 19 anos, cursava arquitetura e se entregou a uma paixão com a intercambista brasileira. Os cafés compartilhados começaram a ser frequentes, e logo evoluíram por caminhadas de mãos dadas e outras carícias de amor. “Não gosto de ficar perdendo tempo. Eu via que ele sempre ficava na porta do curso me esperando. O tempo ia passando e eu me perguntando: ‘Eu vou embora e o que vai acontecer?’. Então decidi que era a hora e ‘tasquei’ um beijo nele. Se for pra ser vai ser, se não, acabou”, lembra.
Pensam que na velhice não se fala mais de amor, não se fala de sexo, que ser feliz é só para os jovens. Mas não é
AMORES
A paixão durou um ano. Seis meses presenciais e mais seis por correspondências. Mas a comunicação foi ficando cada vez mais espaçada – e, no meio tempo, Mary reencontrou Samuel, um velho amigo, que a conhecia desde os 15 anos e era apaixonado por ela. O novo relacionamento a fez interromper o romance a distância com o suíço e começar uma família aqui no Brasil. Casou-se e tornou-se mãe de Carlos, Luis e Isabela. A relação durou 16 anos – e então eles seguiram caminhos diferentes.
“Eu acredito que o amor é um só e ele fica com você a vida toda. Ou seja, o sentimento é seu e o outro é um objeto em que se bota isso. É como se você tivesse uma semente, em que você pode jogar em terra fértil ou pode jogar em cima de uma pedra e o passarinho vai comer, entendeu? “, reflete.
Meses depois, ela se casou novamente, dessa vez com Paulo, cunhado de uma amiga. Quando se separou pela segunda vez, se apaixonou pelo psicanalista que a havia ajudado no seu primeiro divórcio. Foram 12 anos de relação, até a sua morte. “Aos 70 anos, então, falei que tinha saído do mercado e não queria mais saber de homem. Tinha casado três vezes, estava cheia, queria envelhecer em paz e ser vovó. Mas aos 74 tudo mudou.”
REENCONTRO
Cinquenta e cinco anos depois do romance europeu, Mary recebeu uma carta amarela com o selo da Suíça. “Quando peguei a carta foi muita emoção, quase que se materializou o fantasma dele na minha frente. Não podia acreditar”, diz.
Raymond lhe contou que nunca havia esquecido do amor entre os dois. Ele também havia se casado apenas uma vez, mas sua mulher havia morrido de câncer – e um dia, enquanto arrumava suas gavetas, encontrou um presente de Mary. O sinal foi o suficiente para que o suíço fosse até o Consulado em Genebra procurar o endereço da brasileira.
Da correspondência física, passaram para a digital, até que Mary desembarcou no aeroporto de Zurique. “As pessoas me perguntam: como você teve coragem? E sinceramente eu não sei. Resolvi pagar para ver”, admite. Segundo ela, a idade não é algo que modifique os sentimentos. “A pessoa pensa que na velhice não se fala mais de amor, não se fala de sexo, pensa que ser feliz é só para os jovens. Mas não é.” Mary acredita estar em um momento de plenitude na vida. “Eu já cuidei de filho, já cuidei de neto, já namorei, já casei. O que está faltando? Nada. Está é sobrando… sobrando vida para ser vivida.”
Menos de uma semana depois da sua chegada à Suíça, foi pedida em casamento. “Eu não estava aberta para um romance, mas o que vivemos foi muito especial. Então valia a pena tentar. E a nossa grande surpresa foi que a gente tinha envelhecido parecido”, conclui ela que, assim como Raymond é vegetariana, entusiasta da arte e música clássica. “Hoje podemos ficar horas sem dar uma palavra, cada um no seu canto, feliz.”
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