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Miriam Moura
50emais
Há poucos dias, assistindo a uma peça de teatro revivi a sensação de experimentar a magia da arte cênica, que aprendemos a valorizar ainda mais nos tempos atuais de mundo fígital (físico e digital). No teatro, a poucos metros de distância dos atores, é possível sentir de perto os movimentos, apreciar o texto nas falas e todas as emoções encenadas no palco. Quando um dos atores olha para a audiência e seu personagem “fala” com a plateia, é como se estivesse se dirigindo a você, essa é a sensação real.
Em tempos de pós-pandemia e de hiperconexão digital, o teatro oferece momentos de proximidade física e de certa intimidade com os atores, muitos dos quais conhecemos somente por vídeo. A força dos grandes textos é ressaltada, a oratória é vibrante, e pode-se dizer que é um momento de usufruir da arte em cena bem de perto. É diferente dos mega shows musicais, onde também há presença física, mas envolta no universo multimídia dos grandes espetáculos e as pessoas ficam distantes do palco.
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Como milhares de outros brasileiros, fiquei emocionada no show de Maria Bethânia e Caetano, mas de um jeito diferente do que acontece num teatro. Também vibrei na abertura das Olimpíadas em Paris, com o desfile dos barcos com as delegações de atletas no Rio Sena, mas não é como estar pertinho de atores, alguns verdadeiros “monstros” sagrados, como já tive a felicidade de assistir. Nunca mais vou esquecer Paulo Autran, aos 77 anos, viver no palco o conto “Meu Tio, o Iauaretê”, de Guimarães Rosa, no monólogo “Quadrante”, quando interpretou textos, crônicas e poesias de seus autores favoritos.
Outro espetáculo marcante para mim foi ver Fernanda Montenegro encenar “Fedra”, no Rio de Janeiro. Muito jovem, eu não tinha a compreensão integral que naquele Teatro de Arena estava o trabalho de vários gênios – a grande dama do teatro brasileiro, a tradução de Millôr Fernandes do texto de Jean Racine e a direção de Augusto Boal. Isso para citar somente duas de muitas outras interpretações que ficaram marcadas na memória.
E o dilema “ser ou não ser. Eis a questão” foi eternizado no mundo ocidental, desde que o bardo Shakespeare escreveu em 1.599/1.601 a tragédia do príncipe Hamlet, da Dinamarca, que tenta vingar a morte de seu pai, executado pelo irmão, Cláudio, que toma o trono ao se casar com a rainha Gertrudes. Maior escritor da língua inglesa, William Shakespeare soube como ninguém encarnar em seus personagens as paixões e misérias da alma humana, a ponto de convertê-los em arquétipos universais.
Para o poeta Carlos Drummond de Andrade, “ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer”. E no livro “Um sopro de vida”, Clarice Lispector elabora uma provocação onírica:
“Então sonhei um sonho tão bom: sonhei assim: na vida nós somos artistas de uma peça de teatro absurdo escrita por um Deus absurdo. Nós somos todos os participantes desse teatro: na verdade nunca morremos quando acontece a morte. Só morremos como artistas. Isso seria a eternidade?”
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