Eu escrevi em maio e postei aqui um artigo sobre um livro detalhando a vida de Carolina Maria de Jesus. A obra, concluída após muitos anos de pesquisa, só recebeu elogios. Mas nenhum deles com a força expressa nesse artigo publicado neste domingo pelo jornal O Globo. “A melhor análise do fenômeno que foi essa escritora, cujo centenário de nascimento ocorre este ano, está em “A vida escrita de Carolina Maria de Jesus”, excelente estudo da pesquisadora Elzira Divina Perpétua, da Universidade Federal de Ouro Preto”, diz o artigo, assinado por Uelinton Farias Alves, jornalista e escritor, atualmente trabalhando numa biografia da escritora e ex-catadora de papel.
Leia o que ele escreveu sobre “A Vida Escrita de Carolina Maria de Jesus”:
Para uma escritora que viveu rotulada como “mulher, negra e favelada”, mãe solteira sem muita escolaridade, que tinha nos lixões do entorno da favela do Canindé, em São Paulo, onde morava, os meios de sustentar a família e a base de sua produção literária (ela levava para o barraco livros e cadernos que encontrava no lixo), pode-se dizer que Carolina Maria de Jesus (1914-1977) teve uma trajetória excepcional. Sua vida de escritora, apesar das muitas contradições do seu temperamento, fez dela um fenômeno editorial e midiático, algo contrastante com sua atividade de catadora de papel das ruas de São Paulo. Incomodada por ser vista por todos como “mendiga e suja”, dizia que, embora andasse suja, não era mendiga: “Mendigos pedem dinheiro; eu peço livros”.
Desde que apareceu para o mundo das letras com seu livro “Quarto de despejo”, no início da década de 1960 (precedido das reveladoras reportagens do jornalista Audálio Dantas), Carolina Maria de Jesus vem sendo alvo de diversos estudos no Brasil e no exterior. Esses estudos giram em torno da sua turbulenta vida de favelada e da sua extensa obra, que engloba autobiografia, memorialismo, poesias, contos, provérbios e romances. Publicou ainda “Casa de alvenaria”, “Journal de Bitita“ (póstumo, 1982, França) e “Meu estranho diário” (também póstumo, 1996, organizado por José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine), o que nos dá uma ideia dos muitos inéditos deixados pela escritora, traduzida para dezenas de idiomas, como o romeno, russo, japonês, inglês, sueco e alemão.
Elogios de Clarice e Alberto Morávia
Sobre ela foram realizados alguns bons trabalhos, como o ensaio “Cinderela negra” (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine, e as biografias “Muito bem” (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais de Mata Machado, e “Uma escritora improvável” (2009), de Joel Rufino dos Santos. A melhor análise do fenômeno que foi essa escritora, cujo centenário de nascimento ocorre este ano, está em “A vida escrita de Carolina Maria de Jesus”, excelente estudo da pesquisadora Elzira Divina Perpétua, da Universidade Federal de Ouro Preto.
O trabalho de Perpétua é fruto de anos de dedicação à obra da escritora mineira, nascida em Sacramento, que se tornou conhecida a partir do primeiro livro, “Quarto de despejo”, seu diário com pormenores da vida numa favela brasileira. Falava de fome, miséria, abandono, violência, aguçando a curiosidade pública e o espanto geral da sociedade, numa época de grandes transformações — aqui com o advento da inauguração de Brasília, lá fora pelas radicais mudanças econômicas e geopolíticas. Clique aqui para ler mais.