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Aos 71 anos, Lucinha Lins continua brilhando, cheia de projetos para 2025, com a agenda lotada de compromissos, entre shows, peça de teatro e participação no filme “De tanto amar”, de Daniel Ghivelder.
“Como estou mais elha, as minhas responsabilidades cresceram. Assumo todas e descubro tantas outras cada vez que pinta um convite”, conta a atriz e cantora, que enfrentou grandes problemas na carreira, inclusive estreou um de seus shows mais importantes exatamente no dia em que sua grande amiga, Elis Regina, morreu, no início de 1982.
Agora, ela se prepara fazer no teatro o primeiro monólogo da carreira, “Torta capixaba”, escrito pelo marido, Cláudio Tovar.
“Um monólogo é um desafio na vida de um ator. E, quando chega a hora, temos que assumi-lo”, afirma, explicando: “Este mexe comigo como atriz e mulher. É a história de uma chef estrelada que vai ensinar, numa palestra, a fazer o prato que dá nome à peça. E aí ela mistura à receita os dramas da vida particular. Existe amor, tesão, loucura e alegria.”
Leia a entrevista completa feita por Eduardo Vanini para O Globo:
Não foram poucos os percalços que poderiam ter feito Lucinha Lins desistir da carreira. Enfrentou vaias enfurecidas no Festival MPB Shell, em 1981; no ano seguinte, precisou lidar com a morte de Elis Regina, uma amiga íntima, no dia da estreia de “Sempre, sempre mais”, um de seus espetáculos mais importantes.
Também foi atacada, na mesma época, por se separar do primeiro marido, o músico Ivan Lins. “Puta que pariu! Foi foda”, reconhece, com palavrões ditos de boca cheia, em sua voz grave. “Quando olho para trás, penso: ‘Como consegui?’. Mas tinha algo em mãos para mostrar. E essas coisas ultrapassam barreiras.”
A atriz, na verdade, gosta mesmo é de olhar para o futuro e chegou aos 71 anos sem abrir mão de uma antiga máxima. Se alguém a pergunta como vai agir caso um novo projeto não dê certo, responde: “Vou inventar outra coisa”.
É com esse ímpeto que acena para um 2025 promissor. Além de seguir com peças e shows já lançados, ela se prepara para estrear, no ano que vem, o primeiro monólogo da carreira, “Torta capixaba”, escrito pelo marido, Cláudio Tovar. Outro feito inédito será viver uma protagonista no cinema, com as filmagens do longa “De tanto amar”, de Daniel Ghivelder. Desafios aceitos de peito aberto: “Como estou mais velha, as minhas responsabilidades cresceram. Assumo todas e descubro tantas outras cada vez que pinta um convite”. Leia a entrevista a seguir.
– Como será a sua personagem no longa “De tanto amar”?
É a história de uma mulher que foi uma atriz fantástica, mas é usada por um canalha e entra num terrível mundo marginal, das drogas e tal. No meio disso tudo, ainda acontece uma tragédia. Mais velha, ela se transforma numa baita escritora e começa a escrever a própria biografia, enquanto tenta entender coisas das quais não se lembra.
– A peça “Torta capixaba” também traz uma personagem intensa?
Um monólogo é um desafio na vida de um ator. E, quando chega a hora, temos que assumi-lo. Este mexe comigo como atriz e mulher. É a história de uma chef estrelada que vai ensinar, numa palestra, a fazer o prato que dá nome à peça. E aí ela mistura à receita os dramas da vida particular. Existe amor, tesão, loucura e alegria.
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– É mais um projeto com Cláudio Tovar, com quem está casada há 42 anos. Como é a parceria entre vocês?
Eu já tive vontade de jogá-lo pela janela e vice-versa. Mas há uma coisa fundamental entre nós que é a cumplicidade e a amizade. Um amor verdadeiro é recheado de muitas coisas e de esperança o tempo inteiro. É para regar e somar algo todos os dias. Sou louca pelo meu marido.
= O que descobriu sobre o sexo depois dos 70?
O sexo, na minha vida, passou por milhões de etapas e modificações. Não posso comparar com quando tinha 20, 30, ou até 50 anos, mas tem uma coisa bárbara que é a possibilidade de experimentar sempre, de haver mudanças. Um olhar, um toque diferente. Há fases em que estamos totalmente broxas e outras em que estamos subindo pelas paredes. Existe uma coisa em todos nós que é o instinto: ele sempre fala mais alto. O bom da vida é variar, né?
– A sua Playboy, de 1984, é considerada icônica. O que acha dela?
A revista me cantou durante anos, e eu negava. Um dia, li uma matéria interessantíssima sobre a Marilyn Monroe e descobri algumas coincidências entre nós. Em casa, falei com o Tovar: “Se algum dia fizer Playboy, vou brincar de Marilyn Monroe”. Ele comentou: “Mulher, tanta gente já fez isso…” E respondi: “Então, também vou fazer”. Rimos, e me ligaram na semana seguinte pela milionésima vez. Foi um susto! A tal da Lucinha Lins pelada na revista… Meus filhos ficaram mexidos, mas conversamos muito. Acho linda, gostei de ter feito. Virou item de colecionador.
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– Sente que faz parte de uma geração que está mudando o envelhecimento feminino?
Não temos nada a ver com um avô ou uma avó de 30 anos atrás. O avô de hoje vai surfar com o neto, a avó salta de asa-delta. Não é que a terceira idade seja linda. Tem um lado chato. A menopausa é um desastre. Traz dor, a parte hormonal vira uma confusão, mexe com o psicológico e com a autoestima. É uma bomba, mas passa. É importante ter alguém à sua volta que diga: “Calma, isso vai passar”. Talvez, eu seja uma velhinha bem ridícula, e vou ser tão feliz desse jeito…
= Como assim?
Vão olhar para mim e dizer: “Fulana não tem mais idade para isso”. Mas eu vou morrer de pena dessa pessoa. Afinal, para começar, quem manda em mim sou eu.
E você tem a experiência de quem já passou por situações bem difíceis. Como foi a separação do Ivan Lins, por exemplo?
Só descobri ali que éramos o casal 20 da música. Quando acabou, me chamavam de vagabunda, prostituta, rameira e adúltera. Isso saía em jornais e revistas. Era barra pesada. Também diziam que o pobre do Ivan era alcoólatra.
Ainda tem o episódio das vaias, no Festival MPB Shell, em 1981, no Maracanãzinho…
As pessoas gritavam: “Piranha! Filha da puta!”. Faziam isso tão forte que o meu cabelo voava. Eram 10 mil pessoas querendo que eu morresse ali. Aquele som ficou na minha cabeça, não me deixava dormir. Foi complicado administrar isso. E estava ensaiando o espetáculo “Sempre, sempre mais”, um dos mais importantes da minha vida.
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– E estreou no dia em morreu Elis Regina
Sim. É aquele momento em que você diz: “Acabou! Não subo num palco nunca mais”. Mas estreei mesmo assim. Não me pergunte como. Estava lotado, porque foi o paliativo do dia. As pessoas queriam se encontrar, se abraçar. É um marco monstruoso na minha vida. O show não pode parar. E não parou.