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É impressionante o poder do Aedes Egipti. A espécie desse mosquito é responsável pela transmissão de vírus que causam quatro doenças: dengue, zica, chikingunya e febra amarela.
Um declarado inimigo do ser humano, que pode até morrer se levar uma picada desse mosquito endiabrado. O número de casos de dengue continua crescendo.
No ano passado, foram 1.658.816 diagnósticos prováveis de dengue. O número é mais baixo apenas que 2015, quando o Brasil atingiu o recorde de 1.688.688 casos de dengue.
Só neste ano de 2024, já foram registrados mais de 300 mil casos da doença e a projeção feita pelo Ministério da Saúde em parceria com InfoDengue, da Fiocruz, é que o número de casos da doença varie entre 1,7 milhão e 5 milhões.
E, enquanto a vacina não vem, o que fazer para se proteger dessa ameaça quase invisível? Há várias orientações, sendo a primeira delas usar repelente. Jogar cloro nos ralos, colocar borra de café nas plantas, acender vela de citronela, usar inseticida no quarto.
Leia a reportagem de Giulia Vidale, para O Globo:
O crescimento da dengue em 2024 chama atenção devido aos aumentos já alarmantes nos últimos dois anos. Em 2023, o país bateu o recorde de mais mortes causadas pela doença. Foram 1.094 óbitos confirmados, o que superou o ano anterior, 2022, que contabilizou 1.053 vidas perdidas, número acima de mil pela primeira vez na série histórica.
No ano passado, foram 1.658.816 diagnósticos prováveis de dengue. O número é mais baixo apenas que 2015, quando o Brasil atingiu o recorde de 1.688.688 casos de dengue. Para 2024, a projeção feita pelo Ministério da Saúde em parceria com InfoDengue, da Fiocruz, é que o número de casos da doença varie entre 1,7 milhão e 5 milhões.
— Este ano, a dengue irá causar a pior epidemia de todos os tempos no Brasil — alerta o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Dengue: o que é, sintomas, vacina e tratamento
Nessa semana, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reforçou a preocupação da chegada do Carnaval e volta às aulas em meio à escalada de casos da infecção no país. A comandante da pasta da Saúde também anunciou um centro de operações de emergência para coordenar as ações de combate à doença entre estados, municípios e ministérios.
Para tentar minimizar o impacto da doença, a pasta também anunciou que 521 cidades receberão unidades da vacina contra a dengue Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, para a campanha de 2024 na rede pública, primeira do mundo com o imunizante. Devido ao quantitativo limitado de doses que o laboratório consegue produzir, nesse primeiro momento foram priorizados jovens de 10 a 14 anos residentes de municípios com mais de 100 mil habitantes e alta transmissão de dengue. A previsão é que a campanha comece em fevereiro.
A vacina também pode ser encontrada na rede privada e é indicada para pessoas de 4 a 60 anos, tanto para quem nunca teve, como para quem já foi infectado. Os valores variam de R$ 390 a R$ 490 a dose, segundo levantamento do GLOBO. O esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas. Mas Barbosa afirma que há uma resposta parcial de proteção já com a primeira dose.
Enquanto a vacina não está disponível em larga escala para a população, restam as medidas de proteção individual contra a doença, que basicamente envolvem evitar a picada do mosquito Aedes aegypt. As redes sociais estão inundadas de medidas supostamente eficazes para combater o mosquito, que vão desde uso de repelentes até cloro no ralo e vela de citronela. Especialistas ouvidos pelo GLOBO esclarecem quais dessas medidas funcionam e quais não passam de mitos.
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Usar repelentes
Todos os especialistas são categóricos em dizer que o uso de repelentes aplicados na pele são a medida individual mais eficaz para se proteger contra a dengue e outras doenças causada pelo mosquito Aedes aegypt. Esses produtos não matam o mosquito, mas o repelem, impedindo a picada.
Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem as substâncias ativas sintéticas registradas como eficazes no combate ao mosquito são: DEET (N-dimetil-meta-toluamida ou N,N-dietil-3-metilbenzamida), icaridina (Hydroxyethyl isobutyl piperidine carboxylate ou Picaridin) e IR3535 (Ethyl butylacetylaminopropionate ou EBAAP). Existem ainda produtos registrados contendo como substância ativa o extrato vegetal ou o óleo de citronela.
No entanto, um estudo realizado por pesquisadores da Unesp de Botucatu concluiu que os repelentes que contém icaridina na concentração de 25% são aos mais eficazes. Diversas marcas comercializam produtos com essa especificação, basta ler o rótulo.
— Não significa que os outros não funcionem, mas funcionam por menos tempo e com menor efetividade — diz Barbosa.
Por exemplo, os repelentes à base de DEET podem ter até quatro horas de efeito. Já os de icaridina 25% protegem por um período de 10 a 12 horas, a depender da marca. Independentemente da escolha, para que o repelente funcione, é preciso estar atento às indicações de utilização disponíveis no rótulo, reaplicando após o fim do período de efeito ou após suar.
— Os repelentes individuais tem que ser passados com muita frequência e é importante checar no rótulo se há proteção contra o Aedes — orienta Mauro Teixeira, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No que diz respeito ao uso infantil, é preciso estar atento, pois nem todas as composições são de uso pediátrico. Produtos à base IR3535 podem ser usados para crianças acima de 6 meses. Já aqueles com DEET, icaridina e óleo de citronela, são indicados para crianças acima de 2 anos. Mas é preciso estar atendo à composição. Produtos com DEET, por exemplo, só podem ser utilizados em crianças a partir dos 2 anos de idade, na concentração de até 10% do ativo. Orienta-se sempre ler o rótulo.
A bióloga Denise Valle, especialista em Aedes aegypti, e pesquisadora do Laboratório de Medicina Experimental e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) alerta para a ineficácia de repelentes caseiros.
— Para o repelente ser eficiente, ele tem que atender três condições: o princípio ativo tem que ser eficaz, tem que ter uma persistência no corpo e que estar num veículo que não vai agredir a sua pele. Muitos dos repelentes caseiros podem até ter algum princípio ativo que funciona, mas não há comprovação ou garantia de que ele não vai agredir a pele nem da duração do efeito.
Segundo Barbosa, as roupas escuras tendem a atrair mais o mosquito do que as roupas claras. No entanto, isso não significa que ele não irá te picar. Outro ponto a favor de roupas claras, segundo Valle, é que elas facilitam a identificação do mosquito.
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Ainda em relação a roupas, algumas pessoas usam roupas que tampam o corpo, como calças e manga comprida, na tentativa de se proteger do mosquito. Esse vestuário pode de fato servir como uma barreira física, desde que o tecido seja grosso, pois o mosquito consegue picar por cima de um tecido fino.
Jogar cloro nos ralos
Segundo Teixeira, o cloro é absolutamente letal para o mosquito. No entanto, essa medida só funciona se for feita todos os dias porque o cloro evapora. Valle explica que a vida média do cloro é de 8 horas. Ou seja, após esse período, a concentração cai pela metade e assim sucessivamente. Outro ponto importante é a quantidade, que precisa ser adequada para o tamanho do local.
— Na minha experiência, isso não funciona muito bem. Dependendo do tamanho da larva, da quantidade de cloro colocado e do local onde está, ela pode resistir e isso pode criar uma falsa sensação de segurança no indivíduo — pondera a bióloga.
Acender vela de citronela
As velas de citronela têm um poder repelente, mas ele é limitado. Os especialistas também ressaltam que essa não é uma medida que funciona isoladamente. Mas pode ser utilizada como algo adicional ao repelente, por exemplo.
Tomar vitaminas do complexo B
Todos os especialistas afirmaram que não há nenhuma base científica que justifique o consumo de vitaminas do complexo B para afastar mosquitos.
Jogar borra de café na terra das plantas
Circulam informações de que colocar borra de café na água das plantas e sobre a terra ajuda a combater o mosquito transmissor da dengue. Luciana Costa, professora associada e diretora do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes -UFRJ, afirma que não tem nenhum comprovação de que a borra do café tenha algum efeito repelente, seja na terra ou na água.
— O ideal é não ter a água. Neste caso, recomenda-se colocar areia na bordas dos pratos das plantas para evitar ter água disponível para o mosquito por os ovos.
Aplicar inseticida no quarto
Inseticidas são produtos em spray e aerossol indicados para matar os mosquitos adultos. Eles podem ser eficazes para matar os insetos que estão em um determinado ambiente naquele momento, mas não impendem a entrada de outros mosquitos. Aqueles produtos colocados na tomada são classificados como repelentes, não inseticida. Segundo Costa, esses produtos funcionam, desde que usados em conjunto com outros medidas, pois sua eficácia é limitada.
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