Mais algumas histórias de mulheres que já passaram dos 50 anos e estão sendo contratadas como modelos. Desta vez são as grifes dos Rio de Janeiro que abriram as portas para modelos maduras, deixando de lado as mais jovens, que até aqui vêm dominando os comerciais e as passarelas. Através desta reportagem de Jacqueline Costa para O Globo você vai conhecer vários casos de sucesso, como o de Nelie Ramos, 59: “Sou artesã, trabalho com bordado e crochê, mas atuei no comércio, fui até vendedora. E estou adorando essa nova profissão, que surgiu meio por acaso.”
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Mundo afora, não é de hoje que mulheres que passaram dos 50 deixaram de fazer o papel de mãe ou de avó em campanhas publicitárias para virarem as protagonistas, as estrelas. Por aqui, grifes cariocas têm cada vez mais mostrado a beleza e o estilo de quem não é mais uma garotinha. Moradora de Copacabana, Nora Esteves, ex-primeira bailarina do Teatro Municipal, foi convidada, aos 69 anos, pela grife Sithonia para estrelar uma campanha ao lado da fashionista Roberta Ribeiro, de 62 anos, que mora em Ipanema.
— Estou adorando atuar como modelo. A essa altura da vida, é um presente esse tipo de interpretação, bem diferente daquela dos palcos. Vejo uma nova carreira paralela à dança. Também curto a ideia de servir de inspiração para outras mulheres — diz Nora, que frequenta a academia diariamente e que dá aulas on-line para o corpo de baile do Teatro Municipal e no Centro de Artes Nós da Dança.
Ex-consultora de moda da Universidade Candido Mendes e da rede de shoppings Aliansce Sonae, Roberta estreou como modelo ao lado de Nora e de Veluma, musa das passarelas cariocas nos anos 1970 e 1980.
— Trabalhei a vida inteira com moda. Não me sinto envelhecer. Acho que estou em forma e encontrei esse novo caminho para escoar minha irreverência. Meu estilo são os cabelos grisalhos arrepiados tipo David Bowie —diz Roberta.
Diretora de moda da marca Sithonia, Carla Murad explica a escolha:
— Começamos um processo de reposicionamento da rede e, num primeiro momento, preferimos modelos mais jovens. Contudo, elas não espelhavam nossas clientes, que se sentiram mais estimuladas a comprar quando passamos a usar modelos de idades próximas às delas, com quem se identificam melhor.
Grifes têm demanda por representatividade
Modelo de sucesso entre os anos 1980 e 1990, a designer de joias Carla Barros estrelou de campanhas publicitárias a desfiles de moda. Ela conta que parou de modelar aos 31, mas que voltou a posar para as câmeras aos 56, no ano passado, a convite da grife carioca Cantão:
—A campanha ficou tão linda e maravilhosa que meu booker Nil Gray e o Serginho Mattos (da agência de modelos 40 Graus ) ficaram superanimados. Eles me acompanham desde sempre. O resultado me deu ânimo para retornar, porque ser modelo é representar e apresentar o produto, dar vida e veracidade para um público. Estou feliz por poder representar essas mulheres maduras como eu, em torno de 50 anos, que hoje são mais seguras e livres.
Para Carla, moradora do Leblon, modelar é como andar de bicicleta: não dá para esquecer. Basta ter uma câmera apontada em sua direção para que ela encare a lente com intimidade. Depois da Cantão, surgiram outros trabalhos, como fotos para a Strela, grife carioca de loungewear criada pelas também ex-modelos Adriana Mattar e Alessandra Brito.
Diretora-criativa da Cantão, Renata Simon é uma entusiasta desse novo momento na moda:
— Poder reverenciar todas as idades e corpos é incrível e libertador! Entender quem é a nossa cliente e como ela gostaria de ser vista e representada nas nossas campanhas é essencial, vestimos a mulher brasileira há mais de 50 anos. É um desafio manter-se sempre atualizado enquanto continuamos a desenvolver e criar roupas lindas para mulheres que são fãs da marca há décadas. A Carla sempre foi um ícone da moda carioca, conversa com o nosso público, viveu e acompanhou o crescimento do Cantão.
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Alessa Migani chama clientes para ‘modelar’
Há mais de dois anos, a estilista Alessandra Migani, que tem em Ipanema uma loja que carrega o seu apelido, Alessa, vem convidando clientes para serem suas modelos. São mulheres de todas as idades, dos 16 aos 80 anos. Elas são maquiadas por profissionais e escolhem nas araras as peças que querem usar. Depois, encaram as lentes de fotógrafas mulheres, como Deyse Krieger, Amanda Carmona e Sylvinha Miranda.
— A minha marca sempre foi inclusiva. Faço moda atemporal e autoral, para clientes de todas as idades. É arte para vestir mulheres de alturas, corpos e idades variadas. Nessa campanha que tem feito sucesso, fotografamos desde uma menina de 16 até a avó de 70 — diz.
Monica Moura, de 54 anos, fez sucesso como modelo nas passarelas da virada dos anos 1980 para os 1990. Recentemente, ela posou para a marca de acessórios Atelier Chilaze e para a grife de óculos Gustavo Eyewear. Moradora do Flamengo, ela fala do corre-corre para trabalhar, desde quando foi redescoberta pelo mercado:
—Estou adorando poder continuar um trabalho que começou quando eu era garota e que foi interrompido por mais de 20 anos, ainda mais sabendo que continuo tendo espaço hoje, quando meu corpo assumiu outras proporções compatíveis com a idade. Eu me sinto muito plena com esse renascimento da carreira —diz Monica.
Agências têm apostado em mulheres maduras
Gustavo Gonçalves, da Gustavo Eyewear, que tem loja em Ipanema, confirma essa importância, do ponto de vista da clientela.
—Nosso público contempla de jovens de 25 anos a senhoras de 80. Em comum, a conexão com o design da marca. Nossa ideia foi promover a identificação com essa consumidora mais madura —explica.
A diretora de estilo Claudia Chilaze, do Atelier Chilaze, concorda com a opinião de Gonçalves:
—Quando convidamos Monica e Veluma para protagonizar a sessão de fotos ao lado de uma modelo de 24 anos, quisemos deixar claro que nossas peças são não apenas atemporais, mas se adaptam ao estilo de vida de qualquer faixa etária. Amamos o resultado inclusivo —afirma Claudia.
Moradora do Flamengo, Hamilda Bastos, de 68 anos, foi recém-convocada para posar para uma campanha sobre inclusão digital do Detran. Ela revela como tudo surgiu:
— Cheguei a desfilar novinha, tive uma experiência como modelo na inauguração do Shopping Iguatemi, na São Paulo dos anos 1970. Mas parei porque não curtia o ritmo de vida das modelos. Fui para a arquitetura, acabei abandonando e enveredei pelo teatro na UniRio. Agora estou me divertindo com esse novo horizonte —conta Hamilda.
Outro exemplo de modelo acima dos 50 é Nelie Lima, de 59 anos. Moradora da Glória, ela fez campanhas recentes para Leader, Favela Hype, Karamello e Emi Bea chwear. E acaba de participar do comercial do Shopping Park Jacarepaguá.
— Sou artesã, trabalho com bordado e crochê, mas atuei no comércio, fui até vendedora da Yes, Brazil! Nunca malhei, mas curto bike. E estou adorando essa nova profissão, que surgiu meio por acaso quando fui indicada por uma amiga a uma agência que estava montando um casting de modelos maduras. Comecei e não parei mais, fazendo quase sempre o papel de mulher emancipada, poucas vezes o de mãe ou avó — conta Nelie.
Agente de Nelie Lima, Hamilda Bastos e Monica Moura, a booker Helana Muniz, da Front Mgt, fala sobre essa nova vertente do mercado:
— Acredito numa crescente participação das mulheres da segunda e terceira idade na moda e na publicidade. Faz parte da atual demanda por representatividade. O público sempre quer enxergar algo de si sendo valorizado. Mulheres desta faixa etária geralmente são mais estáveis financeiramente, possuem um poder de compra maior. Investir neste público é potencializar as vendas.
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