Quando a gente vê Bob Dylan chegando aos 80, a impressão é que tudo passou tão rápido. Bob Dylan já é um octogenário. E segue exercitando a sua genialidade. Acaba de lançar um disco aplaudidíssimo pela crítica. Ídolo de tantas gerações, ele tornou-se realmente uma lenda, compondo muito, sendo muito incensado e, ao mesmo tempo, levando uma vida discreta, avessa a badalação. Não é à-toa que o mundo inteiro presta homenagem a esse americano do estado de Minnesota, ganhador de todos os prêmios imagináveis, inclusive do impensável Nobel de Literatura, conferido pela primeira vez a um músico. Bob Dylan é gênio puro.
Veja a reportagem publicada pelo Estadão nesta segunda-feira, data do aniversário do artista:
Músico, cantor, compositor e poeta americano e uma das figuras culturais mais importantes de todos os tempos, Bob Dylan completa 80 anos nesta segunda-feira, 24, aclamado como uma lenda viva do folk rock. Com uma carreira que é medida em 39 discos e 125 milhões de cópias vendidas, Bob Dylan tem recebido uma enxurrada de homenagens da mídia há dias, mas especialmente de seus seguidores, entre os quais ele tem outros ícones musicais como Patti Smith ou Chrissie Hynde, vocalista dos Pretenders.
Enquanto isso, jornais de todo o mundo listam seus clássicos essenciais, estações de rádio e televisão transmitem programas especiais em sua homenagem, e sua cidade natal, Duluth (Minnesota), dá início a um ano de comemorações. O fascínio é tanto que mesmo uma universidade, a de Tulsa (Oklahoma), tem um Instituto de Estudos sobre Bob Dylan e, no domingo, celebrou um simpósio com especialistas “dylanologistas” como seu principal biógrafo, Chris Haylin, que acaba de publicar Double Life of Bob Dylan: A Restless, Hungry Feeling, 1941-1966.
Além disso, está pendente o retorno do espetáculo da Broadway Girl in the North Country, baseado em suas canções, que estreou pouco antes de a pandemia forçar o fechamento da meca do teatro nos Estados Unidos. Mesmo assim, segundo relatos, Dylan teria assistido anonimamente e ficado comovido.
Durante o hiato da covid-19, Bob Dylan aproveitou a oportunidade para lançar Rough and Rowdy Ways, seu primeiro álbum de canções inéditas em oito anos, que recebeu críticas estelares com o estandarte de Murder Most Foul, uma canção de 17 minutos que ele condensa a história e a cultura americanas. Ouça:
Sua qualidade como compositor levou Bob Dylan a ser o primeiro músico a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 2016, por criar “novas expressões poéticas” na tradição do cancioneiro americano, provavelmente a única distinção polêmica em uma longa lista de Grammys, Oscar e Pulitzer. Ausente da cerimônia de Estocolmo, em seu discurso de aceitação seis meses depois, o músico explicou que começou a escrever suas canções fazendo do jargão do “folk” seu próprio vocabulário, mas contando com “sensibilidades” e “uma visão informada do mundo, que ele “aprendeu com os clássicos da literatura”.
Pouco dado a entrevistas, mantendo uma vida pessoal discreta e longe das câmeras, no ano passado revelou ao The New York Times: “As canções parecem se conhecer e sabem que posso cantá-las, vocal e ritmicamente. Escrevem-se sozinhas e contam comigo para cantá-las.”
Vida e obra de Bob Dylan
Antes de se tornar um símbolo cultural, Bob Dylan era Robert Zimmerman, filho de mercadores judeus que, em 1961, decidiu abandonar a faculdade e se mudar da cidade mineira de Hibbing, em Minnesota, onde cresceu, para uma vibrante cidade de Nova York, que lhe ofereceu um futuro artístico.
Na Big Apple, acabou se tornando um dos nomes mais famosos do ecossistema criativo que povoou e deu vida ao bairro de Greenwich Village, assinou contrato com o produtor Bob Johnton pela Columbia Records e, em 1962, lançou seu primeiro álbum, Bob Dylan.
A outrora encarnação musical do movimento anti-guerra dos anos 60 e do espírito hippie aproximou-o de seu ídolo Woody Guthrie, entrou nos clubes emergentes da cena folk e criou canções internacionalmente aclamadas, como Blowin’ in the Wind, Masters of War e The Times They Are A-Changin.
Desde então, não sem buracos dignos de uma vida bem vivida, desde um acidente de motocicleta que o obrigou a ficar no sossego de seu porão até algumas obras de fraca recepção após sua conversão espiritual ao cristianismo, Dylan alimentou sua lenda musical com canções, covers e apresentações originais em todo o mundo.
Entre os álbuns mais famosos de Bob Dylan estão:
Love & Theft (2001)
Modern Times (2006)
Tempest (2012)
Fallen Angels (2016)
The Essential Bob Dylan
Bob Dylan Live. 1961-2000
No final do ano passado, Bob Dylan vendeu ao grupo Universal Music por cerca de US$ 300 milhões os direitos de todo o seu catálogo musical, que inclui 600 canções e é considerado um dos mais extensos da música contemporânea.
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