Ingo Ostrovsky
50emais
[powerpress]
Sigo com a pretensão de escrever sobre a vida fora da realidade de todos os dias, aquilo que apelidei de “a vida como ela não é”. Esta semana ficou difícil. Como deixar de lado a pandemia de Ômicron, que já prevê um milhão de infectados por dia, segundo a Folha de S.Paulo?
Ainda mais depois que o meu teste deu positivo. “Você está com Covid” sentenciou o médico!
Como tantos outros vacinados, estou assintomático, ou seja, nada sinto além do desconforto de ter que ficar em total isolamento. Tenho o privilégio de ter janelas para abrir e uma geladeira com alimento suficiente para os próximos dias. Quando a feira-livre voltar à minha rua já poderei fazer compras, pelo menos é o que espero.
Se fôsse em janeiro de 2021 eu estaria apavorado. Naquele momento nenhum brasileiro estava vacinado e os relatos de mortes, entubações e falta de oxigênio, eram dramáticos. Neste 2022, não. Muito por causa da nossa gritaria, hoje estamos entre os países ricos do mundo, com taxas de imunização crescentes, chegando perto do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde. O STF, tão criticado, acertou em cheio ao delegar aos governadores e prefeitos as principais decisões de combate à peste. Para mim é este o motivo de termos as taxas de vacinação que temos neste momento.
Isso não ocorre na África. Não ocorre em boa parte da Ásia. Não ocorre onde falta dindin para azeitar as relações entre os governos e as farmacêuticas. A CPI da Covid do Senado, aquela que produziu um contundente relatório final e nada mais, nos iluminou sobre o funcionamento de alguns esquemas vacinais… nada que não pudesse ser feito por negocistas e negociatas em outras partes do planeta.
Confesso que preferia estar falando de Nara Leão e do comovente documentário sobre ela que o isolamento está me permitindo assistir, sozinho na sala, cantando baixinho pérolas de Carlinhos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Zé Keti, João do Vale, aprendendo tardiamente o que João Gilberto ensinou ao Brasil na década de 1960. E nem falei de Tom & Vinicius & Caymmi…
A realidade se impõe. Como dizia um cubano que eu conheci bebendo caipirinha num botequim de Copacabana “la cosa se queda peluda”!
Para terminar: uma pena os prefeitos de Rio, São Paulo, Recife, Salvador – entre outras cidades – cancelarem os desfiles de blocos de rua no Carnaval deste ano. O “Tarados Por Vacina”, maior bloco do Brasil, com quase 70% da nossa população, não vai conseguir farrear nas principais avenidas do país. Ia ser uma grande folia, já pensou?
Clique aqui para ler outras Crônicas de Domingo, de Ingo Ostrovsky.