Maria Teresa Bradley
50emais
De todas as mazelas trazidas pela idade, a que mais me perturba é a perda da memória. O constante esquecimento de onde coloquei o molhe de chaves, o recibo do banco, a conta de eletricidade… o controle remoto da TV, os óculos. A partir de um momento na vida, estas pequenas falhas da memória passaram a consumir muito do meu tempo. Estou sempre apelando para São Longuinho, que, por eu já estar com 70 anos, me isenta dos três pulinhos…
Pertenço a uma família que trouxe de nossos ancestrais o gene da memória curta. Quando era criança, vi meu pai fazer coisas absurdas, por lapsos frequentes de memória. Na cidade, era conhecido como “o esquecido”. Uma vez, ele levou a mim e outros dos meus irmãos para dar um passeio. Era década de 60. Aproveitou para passar numa agência bancária e tirar dinheiro. Nós ficamos no carro esperando sua volta. Mas ele não voltou. Saiu da agência, viu um carro igual ao dele com a chave na ignição, entrou e foi embora para casa. Só se lembrou de nós quando se deparou com a minha mãe.
Não sou dada a inveja. Mas confesso uma pontinha de um sentimento invejoso de pessoas com aquela memória que a gente chama de prodigiosa. Lembram-se de tudo. Tenho um amigo de 60 anos que parece não ter se esquecido de nada do que aconteceu ao longo da vida dele. É capaz de reconstituir com precisão conversas inteiras que tivemos na década de 70. Sabe de cor a data de aniversário de amigos e conhecidos; recita trechos inteiros de livros que leu há décadas. Eu não me lembro de nada. Confundo os livros que li. Aliás, não me recordo do conteúdo de quase nenhum deles.
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O que me pergunto é: por que certas pessoas retêm o passado inteiro, intacto, dentro delas mesmas. E outras, como eu, não? Tenho mais duas irmãs. Uma que completou há pouco 63 anos e outra de 72. Às vezes, começamos a conversar sobre um assunto, no meio da conversa, passamos para outro e, como uma colcha de retalhos, vamos fragmentando os temas de tal maneira até não sabermos mais por que estamos falando daquilo.
Fico imaginando daqui a 10 dez anos. Como será que estará a nossa memória? É uma questão que vem a minha cabeça recorrentemente. Há um tempo, li uma entrevista de Marieta Severo , na qual ela também manifesta um certo temor: “Claro que as rugas me preocupam. Mas me preocupo mais com a minha cabeça, com meus neurônios,” disse.
Nesse momento, já instalada na minha sétima década de vida, o que me preocupa é: como preservar os neurônios que ainda me restam.
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