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Há muitos “arranjos” de moradia entre pessoas que não querem envelhecer sozinhas. E uma ideia, surgida na Dinamarca, na década de 1970, vem ganhando mais e mais adeptos pelo mundo: cohousing, que pode ser traduzida como moradia colaborativa.
São comunidades nas quais as pessoas têm a própria casa ou o próprio apartamento, mas compartilham espaços coletivos. Em alguns lugares, gente que já se conhecia antes se reaproxima para viver junto. Uma espécie de república para maiores de 50, mas com cada um no seu pedaço.
Já há mais de 200 espalhadas pelos Estados Unidos. No Brasil, a coisa cresce mais lentamente, mas já estão sendo implantados várias projetos desse tipo.
Saiba mais nesse artigo de Luciana Garbin, colunista do Estadão:
Além dos hábitos saudáveis, um outro fator impacta a longevidade segundo pesquisas: os relacionamentos. Não por acaso a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou a Comissão sobre Conexão Social, considerada uma “prioridade de saúde global” para reduzir a solidão. E o caso é especialmente preocupante entre os mais idosos: estimativas globais sugerem que 1 em cada 4 adultos mais velhos sofre de isolamento social.
Uma ideia que vem se espalhando por diversos países promete ajudar a combater esse cenário: a do sênior cohousing. Trata-se de comunidades nas quais as pessoas têm a própria casa ou o próprio apartamento, mas compartilham espaços coletivos. Em alguns lugares, gente que já se conhecia antes se reaproxima para viver junto. Uma espécie de república 50+, mas com cada um no seu pedaço.
O conceito do cohousing vem de collaborative housing (habitação ou moradia colaborativa). Criado na década de 1970 na Dinamarca, ele passou a ser adotado em outras partes do mundo. Não se destina apenas a idosos. Há também famílias mais jovens vivendo nessas comunidades de tarefas, finanças, recursos e espaços compartilhados.
Só nos Estados Unidos são cerca de 200, de acordo com a Cohousing Association. Mas, especialmente para os mais velhos, tornou-se também uma forma de aumentar a socialização e ter espaços já projetados com acessibilidade. De quebra, com vizinhos próximos que se conhecem bem, aumentam a segurança e a chance de obter ajuda em caso de necessidade – uma queda por exemplo.
“É uma comunidade autogerida, de concepção própria, que busca o envelhecimento ativo. Uma vida conjunta baseada na amizade e na solidariedade, composta por pessoas de terceira e quarta idades vivendo em espaços privados + espaços compartilhados, em contato com a natureza. Atividade e companhia criam nas pessoas um modo de vida mais pleno e feliz”, diz post no Instagram da Sênior Cohousing MDP, de Mar Del Plata, na Argentina, detalhando que “habitação colaborativa implica viver em comunidade em casas independentes, complementadas por atividades sociais e culturais, proporcionando em algumas delas locais comuns de uso múltiplo”.
Este esquema permite viver a maturidade com vitalidade, longe da solidão, em espaços de pertencimento, com amigos e, sobretudo, autonomia.
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No Reino Unido, a New Ground Cohousing abriga desde 2016 em Londres apenas mulheres 50+ na primeira comunidade sênior cohousing do país. No site, elas contam que a inspiração veio de uma experiência holandesa e dão o passo a passo do projeto:
“Somos um grupo de 26 mulheres, muitas das quais viviam sozinhas. Viemos de uma variedade de origens e culturas e nossas idades variam de 50 anos para cima. Embora sejamos todas muito diferentes e tenhamos nossos próprios interesses, conexões familiares e trabalho, o que todas nós compartilhamos é uma determinação de permanecer autossuficientes, jovens de coração e ativas. Vemos a coabitação como um modo de vida, como vizinhos cooperativos e amigáveis. Nossa comunidade é ativamente administrada por nós, suas moradoras. Todas têm oportunidades de compartilhar a vida em grupo e contribuir da maneira que puderem.”
Há outras particularidades em projetos como o do MDP e da New Ground. Geralmente é preciso fazer um investimento inicial, mas eles não têm fins lucrativos e as decisões são tomadas em consenso, em reuniões com a participação de todos. Diferem portanto de casas de repouso e outros serviços destinados a idosos que são administradas por empresas. Além da economia, a gestão a cargo da comunidade faz os membros se conectarem e cuidarem uns dos outros, explica o site da Cohousing.
“Desde que entrei neste grupo de cohousing, minha vida ganhou outro significado. Anteriormente eu temia meu envelhecimento. Tenho notado como, muito, muito lentamente, minhas faculdades, principalmente físicas, vão diminuindo. Fiquei mais lenta, mais calma, preciso descansar mais vezes. Nada de importante, mas em cinco anos tenho notado bastante isso“, escreveu, em 25 de fevereiro, Esther Rodríguez, do Ad Petrum Cohousing Sênior, da região de Madri, na Espanha.
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Aos 69 anos, consciente desse seu lento envelhecimento e sabendo que num futuro não muito distante se encontraria sozinha “no período menos conveniente de sua vida”, ela conta que decidiu procurar um grupo de pessoas em circunstâncias semelhantes. E achou sua “nova família”, com quem quer passar o resto dos dias. “Não tenho mais medo de envelhecer. Não me sinto sozinha e também aprendi que não devemos temer o futuro, pois o cenário que podemos imaginar não precisa ser o real. Não faz sentido especular sobre quanto tempo viveremos ou de que forma. Basta trabalhar ao máximo para chegar a esse futuro que todos desejamos, sem descanso, com entusiasmo, com tenacidade, com toda a nossa energia, que é muita e positiva.”
No Brasil, também cresce o número de iniciativas, ainda que mais lentamente. O Vilarejo Senior Cohousing se apresenta, por exemplo, como o primeiro Sênior Cohousing em Curitiba e uma solução em moradia para 50+. Já a Cohousing Bem Viver conta que está implantando em Mogi das Cruzes uma vila de 28 casas e espaços comuns para pessoas 50+. Em Campinas, a Associação de Docentes da Unicamp (ADunicamp) divulgou ainda em 2016 a proposta de criar a Vila ConViver.
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Professores e funcionários, aposentados e na ativa, além de pessoas externas à Unicamp, compraram a ideia e fundaram, no final de 2017, a Associação de Moradores da Cohousing Sênior Vila ConViver. O terreno de 24 mil m², no Jardim Alto da Cidade Universitária, já foi adquirido. O plano é construir nele 34 residências, de dois ou três dormitórios. Cada passo e cada encontro são compartilhados com entusiasmo nas redes sociais.
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