Márcia Lage
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Como você se sente no país que escolheu para viver? A pergunta foi feita numa roda de praia, com a presença de uma sueca, uma argentina, uma colombiana, um irlandês e eu, a única nativa.
A Sueca odeia o país dela, pelo alto custo de vida, pelas regras muito rígidas de convivência social e pelo frío desgraçado.
Tem alma de brasileira. É até um pouco trambiqueira. Tanto que mora aqui há 20 anos, sem nunca ter se legalizado. Entende o Brasil como o país do jeitinho e ama isso.
A argentina veio para trabalhar, porque seu país está “malíssimo”, e se vira como massoterapeuta, sem prestar contas ao governo sobre seu trabalho, residência, estado civil. É livre, ganha pouco, mas não paga imposto e por aqui vai ficar até morrer.
As razões da sueca e da argentina são parecidas com as da colombiana, que chegou ha pouco. Achou a paisagem e o clima parecidos com os do seu país, muita música boa, muita alegria. Sente-se em casa, sem ter que fazer o dever de casa.
O irlandês aponta que o melhor do Brasil é o brasileiro. Na opinião dele, nenhum outro país
do mundo acolhe tão bem o estrangeiro, misturando-se com ele, levando-o para dentro de sua casa, sem nenhum preconceito ou xenofobia.
Ele tem uma empresa de turismo ecológico e promove eventos de limpeza das praias, estimulando brasileiros a olharem com cuidado para o seu país.
“Isso aqui é uma preciosidade mundial, o pulmão do mundo, é tanta beleza, tanta diversidade, que, se o Brasil quisesse, viveria só do turismo”.
Eu, a brasileira dos cinco, concordo com tudo e mesmo assim não me orgulho. Por saber que a opinião que eles têm de nós não nos ajuda a ser felizes.
Ao contrário, vendemos alegria como quem vende mercadorias. À medida que esgotam as nossas reservas naturais de felicidade sustentamos a ilusão deles com samba, carnaval e cerveja. Nosso suor ninguém enxerga.
– Vocês brasileiros não têm noção do quanto são diferentes e especiais – dizem em uníssono.
Como exemplo, citaram os garis que trabalham cantando, e o próprio presidente da República, com a faixa presidencial, chupando jabuticaba numa árvore de rua em Brasília, depois do desfile de Sete de Setembro.
Tive que aceitar que, como a jabuticaba, somos uma espécie muito exótica de gente.
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