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Depois do sucesso no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a jornalista Tinda Costa lança neste sábado, véspera do Dia Internacional da Mulher, na Ria Livraria da Merça, Rua Rodésia, 32, Vila Madalena, a partir das 19h, “A Filha da Mãe”, primeiro romance gráfico, ou em quadrinhos, do Brasil tratando de um dos nossos problemas mais urgentes: a crescente violência contra mulheres. Somos a quinta nação mais violenta do mundo, quando o assunto é assassinato e agressão à mulher. Por trás do rótulo “violência doméstica” se escondem números assustadores.
Pesquisas recentes mostram que esse tipo de violência vem crescendo no Brasil todo, particularmente em alguns estados, como São Paulo. O Mapa da Desigualdade Social 2019, elaborado com dados do ano passado e publicado no início desse mês de novembro pela Rede Nossa São Paulo não deixa dúvidas: os feminicídios aumentaram 167% na capital paulista. Outras formas de violência contra a mulher cresceram 51%.
Foi dessa realidade dura, inaceitável sob qualquer padrão decente de civilidade, que Tinda Costa, 64, retirou os elementos e personagens que compõem o seu pioneiro “A Filha da Mãe”, ilustrado com maestria pelo designer gráfico Alexandre Magalhães. “O livro tem como objetivo chamar a atenção de homens e mulheres para essa situação insustentável, incompatível com as aspirações do Brasil de se inserir no clube dos países mais desenvolvidos, mais civilizados,” disse a autora ao 50emais, completando: “Com esse trabalho, quis criar uma oportunidade de refletirmos, todos nós,sobre as maneiras através das quais vamos conseguir mudar esse retrato medonho, que só diminui a estatura do país no cenário internacional.
Solução depende de todos nós – Quando se examina de perto o mapa da violência contra a mulher no Brasil, chama a atenção não apenas os números absurdamente altos, mas também o fato de esses números estarem aumentando continuamente.
Embora pouco se fale disso, a discriminação e agressão da mulher afeta também a economia. Em nove capitais do Nordeste, durante dois anos, entre 2016 e 2018, foram acompanhadas 10 mil mulheres para a Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, feita pela UFC (Universidade Federal do Ceará) em convênio com o Instituto Maria da Penha.
O estudo concluiu que mulheres vítimas de violência doméstica faltam em média 18 dias de trabalho por ano, o que gera uma perda anual de aproximadamente um bilhão de reais ao país. Além disso, a violência afeta o estado emocional e a capacidade de concentração das vítimas, prejudicando a tomada de decisões, segundo os pesquisadores.
A Filha da Mãe, uma obra pioneira – A Filha da Mãe foi idealizada e escrita, originalmente, como uma série para a televisão. O projeto inicial sugeria a produção de 12 episódios de sessenta minutos de duração. Foi bem avaliado nos dois editais a que concorreu e despertou o interesse de uma rede de TV paga, mas o orçamento alto, em tempos de crise, inviabilizou sua produção.
A Filha da Mãe é um suspense dramático, com uma pitada de investigação policial. Conta a história de Cleonice, uma jovem vítima de violência física e psicológica de seu marido, que resolve, junto com a mãe, ajudar outras mulheres a lutarem contra os abusos e agressões de seus parceiros.
O livro, lançado com grande sucesso na Livraria Argumento, Leblon, no Rio, em 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, aborda temas universais e atuais, como relacionamentos familiares e amorosos abusivos, conflito de gênero, dominação masculina, crimes impunes, homofobia, machismo, influência da religião na formação cultural. Por isso, a saga dessa heroína feminista da periferia deve inspirar outras mulheres vivendo a mesma situação que ela e a mãe padeceram.
A Filha da Mãe é o testemunho incontestável de como a emancipação da mulher moderna está sendo construída a duras penas.