Ingo Ostrovsky, 50emais
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Estarei sendo pouco original se começar este texto narrando as agruras do cronista frente ao papel em branco. Esse recurso já foi usado por 10 entre 10 aspirantes a escritor. É coisa de amador e até de alguns profissionais, vai! Pode ser que gente do quilate de um Rubem Braga – eu duvido – alguma vez tenha hesitado na hora de escrever palavras numa página virgem – ou, nos dias atuais, numa tela vazia.
Meu problema está longe de ser “falta de assunto”. A questão é outra: tudo a nossa volta gira em torno do mesmo tema, não dá para ignorar. A cabeça não para, as informações se sucedem e por mais que tentemos está difícil não falar de morte e sofrimento.
O Supremo trouxe Lula de volta ao cenário político e a gente pensa na pandemia.
O senador filho do presidente comprou uma casa de 6 milhões e a gente pensa na doença.
Haverá troca de mandatário na Petrobrás e a gente pensa em hospitais.
Querem mudar o nome do Maracanã e a gente pensa em álcool em gel.
Tem noite de eliminados no BBB21 e a gente pensa em entubados.
A inflação chegou perto do teto e a gente pensa em extubados.
Precisa pôr mais água no feijão e a gente pensa em máscaras.
Falta cerveja na geladeira e a gente pensa em distanciamento.
O carro de som quer comprar ferro velho e a gente pensa em UTI.
O coelhinho da Páscoa dá sinais de vida e a gente pensa em morte.
Os juros podem voltar a subir e a gente pensa em cemitério.
O queijo de Minas continua uma delícia e a gente pensa em velórios vazios.
O outono vem chegando e a gente pensa em pulmões infectados.
O verão está acabando e a gente pensa em febre alta.
O espaço está terminando e a gente tenta, mas não consegue, pensar em outra coisa.
Cuide-se!
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