Marlene Damico Lamarco
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Tenho olhado para o tempo de uma maneira muito diferente de como o via há vinte anos. Hoje, o tempo é meu aliado, ele mostra sua força e eu fico muito atenta para que não me escape. Sua existência efêmera me ensina que não posso mais perdê-lo fazendo coisas que não desejo, assim como não posso mais deixá-lo ir sem perceber.
Quantas vezes somos influenciados pelo próprio desânimo, pela oscilação do humor ou nos baseamos em opiniões alheias sobre crenças que já deixamos pelo caminho e que, sem que percebamos, outros depositam em nossa porta e nós recolhemos.
Corri muito, e às vezes ainda corro, atrás de coisas que não desejava e idéias que não combinavam comigo. O metro pelo qual eu media a minha vida, o que era bom e o que era ruim, mudou drasticamente. É bom mesmo? Eu acho isso? Eu desejo? Qual é o preço que vou pagar por essa decisão?
As coisas mudaram aqui no meu mundinho particular e constato diariamente que agora estou em horário nobre. O meu tempo vale muito! Eu sempre estive em horário nobre, mas não sabia disso. Distraí de mim.
Agora não, paro para pensar diante das possibilidades e procuro sair dos comportamentos automatizados. Abro as mãos e, principalmente, o coração, para fazer pequenas escolhas diárias e não permitir que me escapem pelos dedos os sonhos que eu quero sonhar.
Tenho uma balança mágica dentro do meu coração – no coração mesmo, não na mente. É lá que peso as situações antes de decidir: num dos pratos, ponho a opção do momento e no outro, coloco o tempo que será “usado” na ação.
A minha medida de valor é feita de sangue e de vida. Quanto pesa a vida que ainda tenho por viver? Quanto vale esse tempo que é meu e que posso escolher como usá-lo?
Quanto valem os sonhos, os amores e as paixões? O prato do valor do meu tempo quase sempre ganha, pois horário nobre é nobre e agrega valores incomensuráveis.
Fico feliz comigo quando faço analogias com base no meu próprio juízo e escolho com leveza como usar a próxima hora, os momentos particulares, o que eu quero que persevere na minha vida e o que eu não quero mais carregar.
O uso do meu tempo me pertence, embora, às vezes ele me escape… É um desafio. Quero me curar do vício de sofrer pelo tempo desperdiçado.
Quero o assombro diante das possibilidades de cada momento e quero sair das expectativas que me mantêm refém. Quero fugir dos apelos contraditórios, das influências artificiais da mídia, das crenças herdadas e nem sempre avaliadas, das grades que o meu ego construiu sem levar em conta a minha verdadeira vocação.
Quero mais, quero criar uma vida me perguntando todos os dias, porque eu mudo todos os dias, se eu gostaria de continuar vivendo desse modo. Quero o domínio e a autoridade sobre as escolhas que irão definir o meu próximo instante.
Por isso fiz do tempo o meu aliado, só ele pode me ensinar a alquimia necessária para ser, a cada instante, uma feliz e entusiasmada aprendiz de mim.
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