50emais
Um relato breve do jornalista e escritor Nelson Motta de sua mudança (morava em Ipanema) para o bairro de Copacabana, no Rio.
No corpo da curta crônica, ele fala do privilégio de morar e trabalhar num lugar com essa vista da praia mais famosa do Brasil. “A beleza da paisagem me pacifica e inspira,” escreve.
E termina mandando um recado para nós que passamos dos 50 anos.
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Room with a view. Uma janela para Copacabana. Meu novo local de trabalho. Não tenho desculpas para não trabalhar direito, advertiria meu pai, maravilhado com a paisagem.
Sempre preferi, e a natureza de meu trabalho permite, em vez de alugar um apartamento para morar e um escritório ou estudio, prefiro juntar os dois em um e trabalhar em casa.
Não, não me distraio com o movimento do calçadão e da praia, a beleza da paisagem me pacifica e inspira.
Sim, é preciso autodisciplina, mais dura que a imposta, e concentração no que se está fazendo, que agora chamam de foco.
Mas é tudo um privilégio, uma sorte de quem trabalha sem descanso desde os 17 anos.
Outro grande privilégio, duramente conquistado, é fazer o que gosto, que amo, que pagaria para fazer, tanto que quando perguntam sobre meus hobbies, digo que é trabalhar.
E minha maior alegria é ver os trabalhos chegarem a quem se destinam, em música, livros, peças, poemas, posts no Insta. A melhor forma de agradecer e retribuir.
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Agora vão chegar meus quadros amados, Gerchman, Oiticica, Antonio Dias, um fake do falsário Elmyr de Hory, um cartaz de Deus e o Diabo na Terra do Sol, que vão se juntar aos novos de @RitaWainer, meus poucos livros e discos autografados, alguns enfeites e objetos queridos, uns tapetinhos, meu Grammy, meus porta-retratos de afetos, minhas sereias e Iemanjás, e a casa vai ficar a minha cara, minha nova cara. A casa virando lar.
Nelson Rodrigues aconselhava aos jovens, “envelheçam logo”, eu aconselharia aos 50+, amadureçam logo, de cabeça e coração, de corpo e espirito, evitem a decadência e o vazio.
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