Maizé Trindade, 50emais
Há crença eternizada pela música “Paraíba”, do mestre Gonzagão, de que a paraibana é mulher valente e atrevida. Na verdade se nos dermos ao trabalho de pesquisar, encontraremos exemplos de muitas mulheres inovadoras e progressistas por todo o país. Algumas famosas. Outras, heroínas anônimas, como Eni de Oliveira Fantini.
Eni nasceu na cidade mineira de Sabará, em 1934, ano que marcou a edição da terceira Constituição brasileira, considerada progressista para a época por assegurar avanços. Entre eles, ensino primário gratuito, voto secreto e institucionalização do voto feminino. Com certeza, Eni nasceu bafejada por tais ares de abertura pois revelou-se, desde logo, pioneira.
Após 27 anos dedicados à área de educação, ingressou no Curso Livre de Artes Plásticas da Escola Guignard, em Belo Horizonte. Em 1987, descobriu interesse novo e enveredou-se pelos caminhos das artes marciais. Virou este mundo de ponta cabeça, viajando pelo Brasil e pelo mundo para aprender e ensinar Ki-Aikido. Os êxitos vieram como consequência. Em 1998, no Japão, fez exames com Kochi Tohei Aikido, fundador da Sociedade Internacional de Ki-Aikido. Em 2007, recebeu o reconhecimento pelos trabalhos prestados no Brasil, onde continua atuando como instrutora desta arte marcial.
Era de se esperar que, aos 86 anos, sossegasse o facho. Mas isso não é do seu feitio. Imagino que tenha sido criança que, ante uma dúvida, percebia a língua coçar e lá ia ela extravasar sua curiosidade e inquietação.
Curiosa, Eni parece ter vindo ao mundo para o contemplar, admirar e se perguntar. Inquieta, deseja sorvê-lo com avidez. Sensível, joga luz sobre o não-revelado ou o que permanece obscuro. Despojada, recupera cenas da meninice com a mesma simplicidade que imprime à sua vida. Todos estes predicados estão contemplados no livro que lançou em 2020, em plena pandemia.
Na verdade, o ofício da escrita sempre a acompanhou pela vida, mas só agora ela nos ofereceu a dádiva de conhecê-lo ao publicar “Além do silêncio — confidências”, livro no qual desnuda, sem pudor, sua sensibilidade à flor da pele e revela, com cuidado, seu jeito afetuoso de desvendar o mundo.
Na orelha do livro, sua neta, Sofia Sepúlveda, registra: “Os poemas, contos, crônicas e toda a intimidade ofertada ao público com este livro apresentam a ousadia necessária de uma mulher de 86 anos que nos ensina a nos libertar por meio das artes, a apurar nosso olhar para a vida, convidando-nos a refletir sobre os espaços que nós, mulheres, ocupamos no mundo”.
Eni soube ouvir a voz do silêncio. Seus escritos nos convidam a acompanhá-la nesta aventura capaz de atiçar nosso desejo de aprender a silenciar para ouvir os sons que transbordam da alma.
Eni é artista. Eni é aprendiz. Eni é mestre. Eni é mulher de dar orgulho de ser amiga.
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