50emais
Esse é um assunto que continua sendo um tabu: o uso de objetos e acessórios, “brinquedos”, para melhorar a experiência sexual do casal, principalmente de mulheres que passaram dos 50 anos
A atriz Ingrid Guimarães, caminhando para seus 52 anos de vida (em ulho), mostrou ousadia ao, não só admitir que ela e o marido fazem uso desses “brinquedos”, como criar o seu próprio instrumento de prazer, um vibrador, que recebeu o nome de Magic Rabbit.
Ingrid diz que quer romper com esse silêncio em torno do assunto. “Quero normalizar a mulher mais velha transando”, diz a atriz empresária, abrindo o jogo: “meu marido, René (Machado, artista plástico), está superacostumado. Usamos juntos. E isso é bom para casais, principalmente para os que estão juntos há muito tempo.”
Leia a entrevista da artista concedida a Marcia Disitzer, de O Globo:
E m 2010, quando Ingrid Guimarães lançou “De pernas pro ar” (ela interpreta Alice, que se reinventa ao tornar-se sócia de uma uma sex shop), os vibradores ainda eram tabu. “No primeiro filme, vivia uma mulher que os vendia escondidos, dentro de uma mala”, lembra.
“Naquela época, trouxe amigas na minha casa para conhecerem os produtos. De tão sigiloso, parecia que a gente estava se reunindo para vender drogas, meu marido até saiu para ficarmos à vontade.”
Já no segundo longa, em 2012, brinquedinhos eróticos passaram a ser comercializados em lojas de lingerie. “O ‘Sex and the city’ abriu a porta com seu rabbit, mas ainda era bem segredo.” O terceiro e último da trilogia, em 2019, refletiu uma sociedade em transformação.
“Nem falamos mais sobre vibradores de tão comum”, conta a humorista, testemunha e agente do crescimento do mercado de sex toys no Brasil. “Com o tempo, tornei-me uma ‘especialista’”, diz. Agora, em collab com A Sós (empresa mineira de sex toys), ela dá mais um passo: acaba de lançar um vibrador para chamar de seu, o Magic Rabbit. “Quero normalizar o assunto cada vez mais”, deixa claro.
Em entrevista feita por chamada de vídeo, a atriz falou sobre prazer feminino, a relação com a filha de 14 anos e a luta contra o etarismo. A seguir os melhores trechos:
Como foi desenvolver seu próprio vibrador?
Minha intenção foi atingir o maior número de pessoas. Por isso, não quis nada muito fálico nem muito caro (custa R$ 399; o preço mínimo de um parecido é R$ 500). O processo durou seis meses, coloquei a minha cor e o meu jeito. Por caber dentro da bolsa, pode ser levado a todos os lugares. Viajei agora para a França e fiz fotos dele em monumentos, como a Torre Eiffel, filas, cafés. Achavam que era brinquedinho de criança (risos). É três em um: um rabbit com sugador de clitóris de sete vibrações; língua estimulante e orelhas que vibram.
Leia também: Aos 60 anos, Andréa Beltrão esbanja vigor
De que maneira fala sobre o assunto com sua filha, Clara?
Abertamente, mas ela morre de vergonha porque tem 14 anos, né? Não gosta quando toco no tema. Porém, ao lançar o Magic Rabbit, mostrei para ela e disse: “Um dia, você vai entender como isso é legal. Sua geração vai me agradecer”. Ainda tem uma coisa antiga do homem machista, que acha que está sendo “substituído”. Mas meu marido, René (Machado, artista plástico), está superacostumado. Usamos juntos. E isso é bom para casais, principalmente para os que estão juntos há muito tempo.
A sexualidade é apenas um aspecto de sua luta contra o etarismo? pretende ampliar a voz?
Sim. Nós, mulheres de 50 e 60 anos, somos revolucionárias. Fomos as primeiras a falar abertamente sobre a questão da menopausa, por exemplo. Uso as redes sociais para “gritar” que não existe data de validade, que a vida não termina aos 50.
Quero normalizar a mulher mais velha transando, gozando e mostrando o corpo que quiser. Esse é o foco da minha dramaturgia. Eu e Mônica Martelli vamos fazer um filme sobre duas amigas que recomeçam a vida nessa idade. E também vamos retratar adolescentes, já que nós duas temos filhas nessa faixa etária.
Leia também: Por que falar de relacionamento íntimo depois dos 60 é um tabu?
Como foi a sua primeira vez no Festival de Cinema de Cannes?
Vivi todas as etapas. Fui duas vezes ao tapete vermelho e assisti a filmes maravilhosos. Red carpet é um trampo da porra, apesar de eu amar o mundo da moda e ter gostado de brincar de boneca. Foi muito emocionante assistir aos longos aplausos ao filme “Motel Destino”, do brasileiro Karim Aïnouz.
Acho uma pena não ter mais mulheres de cinema convidadas para representar o Brasil no festival. As marcas deveriam abrir espaço para diretoras, produtoras e roteiristas. Nada contra as influencers. Mas temos que tomar cuidado para tudo não virar look.
Leia também: Sexo depois dos 60 é essencial para a saúde