Márcia Lage
50emais
Os eletrodomésticos me fascinam. Daria um prêmio Nobel a todos os inventores das máquinas que nos libertam dos afazeres da casa e nos permitem exercer toda nossa capacidade criativa sem precisar recorrer ao trabalho braçal de uma outra mulher. Não vejo muita solidariedade nessa atitude.
Tenho para mim que muitas dessas invenções maravilhosas, que começaram a ser desenvolvidas no início do século XX, foram aceleradas pelo feminismo. As mulheres queriam trabalhar nas indústrias que surgiam, a jornada de trabalho era ainda maior que a de hoje e elas começaram a exigir dos companheiros ajuda nos afazeres domésticos. Mais que depressa eles trataram de inventar coisas que os livrasse do aborrecimento e das discussões.
Assim surgiram a máquina de lavar roupas e o fogão à gás, duas invenções masculinas. As mulheres complementaram o avanço criando a geladeira e a de lavar louças. Daí em diante veio a máquina de fazer pão, a torradeira, a batedeira elétrica, o liquidificador, o espremedor de frutas, o micro-ondas, o aspirador de pó e a primeira da lista atualmente: airfryer, que frita sem gordura.
Outro dia, uma amiga me disse que desencanou de casar pela quarta vez, depois que comprou uma airfryer.
Estava presa numa ilusão feminista de que os homens já entenderam que os serviços domésticos são inevitáveis e que, sendo eles justos e solidários, dividiriam todas as tarefas de igual para igual.
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Não na geração dela, essa mesma que veio andando desde os anos 50 com um pé na casa e outro no emprego, e o marido no meio, atordoado com o pano de prato (serve para que?), tentando se livrar da culpa de não conseguir, de jeito nenhum, ver o jogo e lavar a louça ao mesmo tempo.
Pior foi comigo, que adquiri um eletrodoméstico mais perdido que um marido das antigas: um robô aspirador que promete limpar a casa enquanto você se diverte. Ou faz outra das intermináveis tarefas de uma casa.
Coitado do aparelho. Precisa de muito aprimoramento. Agarra debaixo dos móveis, bate nas pernas das mesas e das cadeiras e fica girando no mesmo lugar, sai disparado para o banheiro e se embola no tapete…olha, dá mais trabalho tomar conta dele do que pegar a vassoura e varrer a casa.
Disseram que ele era tão inteligente que se encaminharia sozinho para a base de carregamento quando a bateria acabasse. E que seus sensores a laser indicariam perigo de acidente e ele pararia no ato. Que nada! Despencou da escada e espalhou pela sala seu cérebro irracional, ficando de barriga para cima feito um imenso carrapato mexendo as patas.
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Fui pesquisar quem inventou tal eletroméstico e descobri uma mulher por trás: Hellen Greiner, da IRobot, empresa fundada em 1990 junto com Colin Angle e Rodney Brooks. Desconfio que Hellen teve a ideia e os dois sócios a desenvolveram.
Só homem para fazer um eletrodoméstico que precisa de monitoramento constante para não rolar escada abaixo.
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